Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

segunda-feira, junho 15, 2015

A Educação perdeu o estatuto de um direito e ganhou o estatuto de uma mercadoria



Santana Castilho *

Não conseguiremos, sós, à revelia da Europa em que nos integramos, particularmente sem cumplicidade política estabelecida com os países cujos problemas se assemelham aos nossos, mudar a maior parte das variáveis que condicionam a nossa vida futura. Mas podemos mudar a Educação. Se queremos mudar Portugal, temos que dar atenção à Educação e alterar-lhe o rumo. Cada vez instruímos mais (e em sentido errado) e educamos menos. Em nome de uma economia sem humanidade, construímos autómatos e roubamos a infância às nossas crianças. Em período de pré campanha, o que se vê (ou não se vê) é desolador.

1. A acusação é grave e não pode passar sem que o ministro da Educação e Ciência se pronuncie sobre a matéria. De forma clara e rápida. Um grupo de cidadãos, mães e pais, afirmam em documento, que tornaram público, que uma organização, a Associação Junior Achievement Portugal, sucursal de congénere norte-americana, anda a “doutrinar crianças desde o 1º ano de escolaridade a … ver a família como unidade de consumo e produção, naturalmente dependente de empresas privadas … inculcando a obsessão pelo sucesso assente na lógica da competição”. Tudo se passa em tempo normal de aulas, sob responsabilidade de voluntários estranhos às escolas mas com a conivência das autoridades, designadamente autarquias locais, e sem qualquer tipo de consulta aos pais e, muito menos, a sua autorização. No documento em análise, os pais referem haver uma recomendação expressa para que os formadores voluntários sejam recrutados no meio empresarial e as crianças se venham a identificar “com a figura do voluntário no final da formação”. O programa, afirmam, “está orientado de uma forma que, cremos, exerce uma violência simbólica sobre crianças e adolescentes, escondendo por detrás de uma ou outra informação ética superficial uma manipulação de consciências no sentido de identificar o ser humano da sociedade contemporânea como exclusivamente orientado para o mercado, o consumo e o lucro, sem que a interacção com outros seres humanos sirva outro fim que não esse. Competição, individualismo, afirmação individual, ambição pessoal e agressividade são os valores que se promovem”.
O ministro não se pode esconder atrás da falsa autonomia das escolas para nada dizer sobre esta acusação. Doutrinar crianças à revelia dos pais e dos programas vigentes, apresentando-lhes a dignidade humana como simples corolário do mercado, é um “empreendedorismo social” que não pode ser tolerado na escola pública.

2. O até agora inimputável José Alberto Duarte (são várias as trapalhadas por que tem passado incólume), director-geral dos Estabelecimentos Escolares, é visado e considerado responsável por uma irregularidade grave detectada numa auditoria do Tribunal de Contas. Trata-se de uma contratação de serviços de fornecimento de refeições a escolas, no valor de 3,5 milhões de euros, alegadamente operada sem cobertura legal. Segundo o Correio da Manhã, que denunciou a situação, o Tribunal de Contas remeteu as conclusões da auditoria para o Ministério Público, referindo que “a gravidade do incumprimento desaconselha a relevação da responsabilidade”. Quem sabe se este servidor público, antes de servir a grei, não terá sido voluntário da Associação Junior Achievement Portugal e a questão não se possa resolver, a bem do mercado, com a extensão da redentora pedagogia aos senhores juízes do Tribunal de Contas.

3. Num debate recente que travei no programa Política Mesmo, na TVI 24, com o presidente do IAVE, aludi a erros inaceitáveis em matéria de exames. Respondeu-me que esses erros representavam 0,01% dos 30.000 itens que o IAVE havia produzido. Não sei quantos itens inúteis o IAVE produziu. Sei que há mentiras piedosas, mentiras abjectas e … estatística. E sei que os estudantes surdos do 9º ano, obrigados a sujeitarem-se ao Preliminary English Test for Schools (PET), prova secreta de inglês (assim a classifico porque o conhecimento público do respectivo conteúdo está rigorosamente proibido), concebida por uma instituição estrangeira e financiada por processo que está a ser investigado pela Polícia Judiciária, foram impedidos de cumprir parte dela por erro, incompetência e desprezo do IAVE. O independente IAVE, servo da política numeralista do ministro, preparou um CD para que surdos profundos “ouvissem” o que, por razões óbvias, não podem ouvir. Esta lamentável circunstância não beliscará a expressão estatística que enche de orgulho o presidente do IAVE. Mas mais que um erro ridículo, absolutamente inaceitável, expõe a face desumana de uma política. Pela mão deste Governo e do seu ministro Nuno Crato, a Educação perdeu o estatuto de um direito e ganhou o estatuto de uma mercadoria. Cem estudantes surdos profundos não contam para estes desalmados, manipule o IAVE as estatísticas como lhe aprouver.


* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt

quarta-feira, junho 10, 2015

Seminário: Educar para o Futuro. Qual o modelo de ensino para as novas gerações?



Sábado 20 de Junho – 15 horas

ISEG - Lisbon School of Economics & Management - Universidade de Lisboa
(Rua do Quelhas 1200-781 Lisboa)


Seminário: Educar para o Futuro. Qual o modelo de ensino para as novas gerações?


Programa

14h45 – Receção dos participantes

15h00 – Abertura da sessão e boas vindas pelo ISEG
(Mário Romão – Professor do ISEG)

15h05 – Introdução do Seminário e razões para o debate
(Mário de Jesus – Presidente da direção do FRES)

A. A educação e o ensino em Portugal

15h15

i) O Ensino de hoje responde às necessidades reais do país e pode ser visto como a alavanca do desenvolvimento socioeconómico nacional?

ii) Como garantir uma melhor qualidade do ensino?
(Santana Castilho – Professor Universitário e coordenador do curso de Organização e Gestão do Ensino na Escola Superior de Educação de Santarém)

15h45 - iii) Qual a melhor articulação para a coexistência do Ensino Público com o Ensino Privado?
(Fernando Adão da Fonseca – Gestor e Presidente do FLE – Fórum para a Liberdade de Educação)

16h15 – Debate

17h – Intervalo para café

17h15 - iv) Como pode o Ensino preparar os alunos para novas aptidões e competências?
(Luís Rodrigues – Professor do Ensino Secundário, ex-Diretor do Agrupamento de Escolas do Ensino Básico e Secundário Pedro Santarém em Lisboa, ex-deputado à AR pelo distrito de Beja)

17h45 - v) Qual o papel da escola e do professor?
(Pedro Fernandes da Anunciação – Professor coordenador e Presidente do Conselho Científico da Escola Superior de Ciências Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal)


B. Os aspetos demográficos no Sistema de Ensino

18h15

i) Impacto a longo prazo da taxa de natalidade na população escolar e na escola do futuro e da demografia no futuro modelo do Ensino em Portugal.

ii) A desertificação demográfica do interior e os desequilíbrios geográficos gerados no país - impacto na afetação dos recursos escolares.
(Pedro Góis – Professor Universitário, Doutorado em Sociologia, Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra)

18h45 – Debate

19h15 – Encerramento da sessão