Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sábado, março 09, 2013

Portugal e a atração sénior*


Posição geográfica, clima, história, património, diversidade paisagística, gastronomia, hospitalidade, segurança, infraestruturas de qualidade (aeroportos internacionais, vias de comunicação, redes de hotéis e restaurantes, redes de telecomunicações, hospitais públicos e privados) e mão de obra qualificada, constituem fatores diferenciadores que Portugal deve explorar na atração de empresas multinacionais, de outras formas de investimento estrangeiro e do designado turismo residencial.

Com 250 dias de sol por ano, um clima ameno, uma diversificada faixa costeira repleta de praias de qualidade, das mais cosmopolitas às quase selvagens, com uma boa oferta de campos de golfe, hotelaria e restauração profissionais e a preços competitivos, Portugal possui importantes fatores de atratividade para as famílias dos profissionais que se instalem no País ao serviço de empresas estrangeiras, para o turismo residencial, em especial para o segmento sénior do norte e centro da Europa, e mesmo de outras geografias. Apesar das diferenças, um europeu em Portugal sente-se culturalmente em família. A probabilidade de conseguir interagir na língua franca mundial, o inglês, em grande parte dos contextos, é grande, o que atenua a diferença linguística. A que acresce a hospitalidade dos portugueses, pois mesmo quando não dominamos a língua, esforçamo-nos por entender e ajudar. A distância física e a distância psicológica são também decisivas. Quem nos escolher sabe que as deslocações para o seu país de origem, por razões familiares ou quaisquer outras, estão a um escasso par de horas de avião. Se estiver doente ou precisar de cuidados médicos, sabe que conta com hospitais públicos e privados de qualidade não inferior aos melhores da Europa. Estes fatores de contexto já existem, mas é necessário divulgá-los através de campanhas.

Além disto, e como forma de atração do turismo residencial, em especial do turismo sénior, é necessário criar um regime fiscal atrativo no que se refere à tributação dos imóveis - taxas reduzidas ou até mesmo isenção de IMT, IMI e mais-valias - cujas quebras de receita seriam compensadas pela revitalização do setor imobiliário, pelo aumento do consumo interno e mesmo pela criação de emprego e de riqueza gerados pelas chamadas indústrias de hospitalidade, lazer e aposentação que se desenvolveriam a jusante. Em paralelo, o setor bancário poderia criar linhas e serviços de apoio a este segmento específico, reduzindo taxas de serviços bancários, serviços de homebanking em inglês e outras facilidades. Em parceria com o Estado, e num esforço de captação da poupança, os capitais destes novos residentes poderiam dispor de depósitos e aplicações com melhores taxas de juro no primeiro ano ou em incrementos de capital e ter um IRS mais atrativo. E, porque não, em fases mais avançadas da vida, e de acordo com a dimensão destas comunidades, assegurar a migração destes novos residentes para unidades de acolhimento sénior premium especialmente concebidas para ir ao encontro dos seus hábitos e culturas?

Existem hoje cerca de 150 milhões de cidadãos seniores na União Europeia e, com o envelhecimento da população, o número de europeus com mais de 65 anos vai crescer exponencialmente nas próximas décadas, o que faz com que o mercado do turismo sénior seja um mercado em expansão e uma aposta de futuro que, atentas as nossas condições de base, seria um erro Portugal negligenciar. Se não o soubermos desenvolver seremos ultrapassados por outros, como por exemplo, pela vizinha Espanha, cuja Andaluzia possui um produto de idênticas características.


* Publicado no OJE, Coluna Refletir, n.º 1451, 06 mar. 2013. 


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