Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Da necessidade de controlar a Natalidade

O problema da natalidade, a evolução do Homem, o equilíbrio e sustentabilidade da nossa espécie, leva-me a socorrer da Teoria de Darwin que, entre outras questões, refere que as espécies sofrem mutações ao longo da sua existência no sentido de se adaptarem ao meio envolvente e consequentemente sobreviverem. Por exemplo, pode-se questionar da razão de só existirem ursos brancos nos polos. Mas, como é do conhecimento geral, a neve é o elemento predominante naquele espaço e assim, muito provavelmente terão existido ursos de outras cores, mas apenas os brancos terão sobrevivido por terem escapado aos predadores pela sua cor lhes permitir uma camuflagem natural. É apenas um exemplo simples e banal, mas que pode servir de trampolim para abordarmos a evolução e seleção natural do Homem. Como sabemos, graças à sua adaptação, mas sobretudo à posição ereta e oposição do polegar, foi conseguindo um certo ascendente no seu meio envolvente e, desta forma, colocar-se numa posição dominante face a outros seres. 

A sua evolução, no domínio dos conhecimentos científicos, projetou-o para conquistas impensáveis, conseguindo em muitas circunstâncias manipular a sua própria natureza. 

Estes domínios permitiram-lhe aumentar a esperança de vida, o controle sobre os outros animais, a manipulação da própria espécie, nomeadamente pelo processo de clonagem. No caso dos humanos, os clones naturais são os gémeos univitelinos, seres que compartilham do mesmo DNA, material genético, a partir da divisão do óvulo fecundado. No processo de clonagem artificial, é possível clonar um animal a partir de óvulos não fecundados. Inicialmente estes processos foram praticados pelos horticultores, que através de uma planta matriz obtinham novas plantas geneticamente idênticas ou iguais, mas a apetência do Homem pelo domínio do desconhecido não parou, e este processo nos humanos tem sido abordado mas refreado por questões de ética. No entanto, os avanços da ciência não pararam, de tal modo que se chegou ao ponto de controlar e retardar a própria morte, prolongando a vida através de técnicas e processos inovadores. Assim, hoje, confrontamo-nos provavelmente com excesso de população e, quiçá, por medo, ou por incapacidade de controlar este fenómeno se procura encontrar mecanismos para minimizar os impactos. Para além dos atuais paradigmas sociais de «viver a vida», a criação dos contracetivos, não será uma forma velada de controlar a natalidade e equilibrar a natureza? Claro que este processo pode ter consequências para as gerações, nomeadamente o seu envelhecimento. Alguns dizem que, no futuro, a guerra não será pelo petróleo, mas pela água, cada vez mais escassa face ao aumento populacional. Neste sentido, ou se cria mais água ou se consegue um equilíbrio dos que dela vivem. Poderá vir a ser pela via do equilíbrio dos que dela necessitam ou então o Homem consegue evoluir para um nível de não dependência desse elemento da natureza, criando mecanismos de adaptação fisiológicos, sobrevivendo, como no passado, os mais bem apetrechados para o efeito ou, como já se vai fazendo em alguns locais, pelo processo de dessalinização da água do mar. 

Qual a melhor solução? Será que a diminuição da natalidade, aliada a uma mortalidade infantil cada vez mais reduzida e um aumento da mortalidade dos mais velhos, fará com que o equilíbrio se reestabeleça? Ou seja, nascendo menos mas, dado o envelhecimento populacional, invertendo-se a relação com o número de mortos, como se pôde constatar já este ano em Portugal, a pirâmide etária tenderá a estabilizar? Como os recursos naturais, eventualmente, não poderão continuar a suportar um aumento descontrolado da população, talvez reduzindo a população se chegue a uma situação mais favorável. Noutros tempos as guerras assumiram, de certo modo, um papel importante no controle populacional e apesar de hoje em dia ainda subsistirem, estas são mais de cariz político e não têm os efeitos devastadores das de outrora. 

Neste sentido, seja qual for o modelo encontrado, o controle da natalidade e o envelhecimento das populações pode levar a um reequilíbrio natural do índice populacional. E como a vida é cíclica, um dia, este processo se inverterá e teremos um novo aumento populacional até que o problema se coloque de novo às gerações vindouras. 

Concluindo e provocando, será que a natalidade é, de facto, um problema real? Talvez se possa equacionar o facto de a História se repetir e o homem regressar ao seu passado nómada, com as devidas adaptações, e deslocar-se entre os diversos continentes, povoando-os de acordo com as suas necessidades e conveniências. Afinal neste «jardim à beira mar plantado» nem sempre viveram os lusitanos, outros povos por cá já passaram.

sábado, fevereiro 16, 2013

Portugal – O arranque que tarda em chegar

Portugal continua a apresentar um quadro económico difícil e de recessão acentuada. Quando a criação de riqueza na zona euro recuou no ano transato 0,6%, quando a Alemanha, a designada locomotiva europeia, regride 0,7% e a Espanha, França e Itália se mantêm no mesmo registo, facilmente nos apercebemos que as perspetivas para 2013 não se podem revelar positivas. Aliás, recordemos que as estimativas do governo português para o deficit orçamental para este ano foram calculadas com base num decréscimo do PIB de 1%, sabemos agora que este regrediu 3,2% no ano passado e 3,8% no último trimestre do ano que terminou.

Regista-se porém positivamente o comportamento que as exportações foram mantendo ao longo de todo o ano de 2012 tendo crescido 5,8% ainda que tendo vindo a perder o fôlego no último trimestre do ano. Sabemos que deste crescimento, os mercados intra-comunitários foram responsáveis por apenas 1% deste crescimento. Se recordarmos que Espanha já foi responsável pela absorção de cerca de 30% das exportações nacionais as quais se situam agora na casa dos 22%, temos aqui parte da explicação, digo parte, porque a Alemanha, França, Reino Unido e Itália também não têm ajudado. A recessão dos países da zona euro e a fortaleza do Euro não são fatores igualmente favoráveis. Estas estarão ao nível dos valores registados em 2009.

Já para fora da Europa as exportações cresceram 19,8% com o especial destaque de Angola cujos ganhos ultrapassaram as perdas para Espanha. Estados Unidos e China deram também uma ajuda essencial para o quadro de exportações nacionais, com destaque para os EUA que superaram já os valores de exportação para Itália. Os países da CPLP registaram também um crescimento de 23% como destino das exportações nacionais face ao ano de 2011, destacando-se aqui o Brasil e Moçambique. Apesar destes registos o Primeiro-Ministro veio já afirmar que, mesmo com a performance das exportações a este nível, claramente positivo mas insuficiente, o governo terá que rever as suas previsões de crescimento.

Contrariando o cenário positivo do comportamento das exportações surge o problema do desemprego, cuja taxa atingiu os 16,9%, um recorde para o país, representando quase 930 mil desempregados. Trata-se do maior problema social e consequentemente económico do país, para o qual nem as empresas nem as autoridades têm conseguido agir para o contrariar. É aliás opinião de uma larga franja de empresários que este desemprego irá sofrer ainda um agravamento ao longo de 2013. A recessão económica e o fraco crescimento económico ainda previsto para 2014 levam a concluir que a taxa de desemprego não verá uma inversão do seu curso entes de 2015.

Resta igualmente esperar pelo que vai resultar da ideia da criação de uma zona transatlântica de comércio livre como forma de impulsionar o comércio entre os dos maiores blocos económicos, representado por um mercado de 800 milhões de consumidores, tão entusiasticamente divulgado pelos líderes dos dois lados do atlântico. Segundo estimativas da UE, uma zona de comércio livre com esta amplitude aumentaria o Produto Interno Bruto europeu em 0,5%, ou 65,7 Mil Milhões de euros por ano com ganhos comparáveis para os norte-americanos. Além disso, uma unificação transatlântica desta natureza com o reflexo nos padrões industriais e nos procedimentos de licenciamento resultariam numa vantagem em especial para a indústria europeia. Resta saber o que pode Portugal vir a aproveitar com a realidade desta zona de comércio livre.

CTT e Carris: privatize-se, já!


Há dias, com um escasso intervalo de horas, aconteceram-me dois episódios, em duas empresas públicas: CTT e Carris. De manhã fui aos Correios levantar uma encomenda e, no final, a senhora diz-me isto: «Não quer comprar uma cautela da lotaria desta semana?» E eu, seco: «Não». E ela: «Mas não costuma jogar?» E eu, seco: «Não». Ela achou, e bem, que devia ficar por ali. Perscrutei-a. Era uma mulher que já passava bastante dos 50, de aspeto simples, cabelo crespo, óculos graduados e «démodés». O aspeto não conferia com a postura comercialmente agressiva. Não deixei de fazer um juízo severo. Triste criatura, tardiamente rendida às estratégias comerciais agressivas dos CTT, sem conseguir perceber que aquele era um fato que nunca lhe serviria. Aquilo estava bem para uma menininha recém-saída da escola ou da faculdade, que nunca conheceu outra realidade, não para ela, que nunca conseguirá fazer aquela transição. As coisas são o que são. Tal como burro velho não aprende línguas, aquela senhora nunca conseguirá impingir adequadamente aquilo que os gurus do marketing dos CTT, por sua vez, lhe impingem. Vale a pena dizer que sobre mim fiz igualmente um juízo pouco abonatório: «Estás a ficar velho, pá. Já não te adaptas a estas mudanças de estilo e reages com alguma impaciência».

Nesse mesmo dia, o meu passe – ia a dizer social mas como ele é cada vez menos social, ficamos apenas por passe – Lisboa Viva deixou de funcionar. Nem para a direita, nem para a esquerda. Estava morto. Telefonema para a Carris e do outro lado dizem-me que poderia obter um novo em Santo Amaro ou no Arco-do-Cego, em duas modalidades: Urgente: 12€, com entrega imediata; Normal: 7€, com entrega em 10 dias. Tinha apenas de levar uma fotografia atualizada. Dirigi-me, então, ao Arco-do-Cego e optei pela modalidade Urgente. Na Normal, tinha de preencher um formulário em papel, na Urgente bastava dirigir-me ao balcão. Assim o fiz. A senhora que me atendeu, de imediato atualiza os meus dados, pede-me a foto e um minuto depois tenho o passe na mão, graças a uma impressora de cartões que faz a operação num ápice. 

Vale a pena referir que a opção Urgente era a única viável, porque o átrio da estação em que tomo todos os dias o Metropolitano muitas vezes não tem ninguém e, quando tem, está dentro de uma cabine. Sem passe teria de, durante os 10 dias de espera, me dirigir à cabine, esperar que lá estivesse alguém e pedir para me facultar o acesso contra a apresentação da guia. Aquelas duas opções datam do tempo em que a Carris, para fornecer um passe urgente, tinha de ter um empregado extra, apenas para fazer o preenchimento do cartão, a plastificação e a entrega. O que justificava a taxa de urgência. Agora, o mesmo empregado faz tudo e fá-lo num segundo. Aquilo é um resquício de uma velha prática, que na altura se justificava, e hoje já não se justifica. Hoje aquilo é um «esquema», uma habilidade da Carris para extorquir mais uns cobres aos passageiros. Mais valia cobrar uma taxa única de 12€.

O que é que isto tem a ver com o título do «post»: CTT e Carris: privatize-se, já!?Tem tudo. É que quando empresas públicas que prestam um serviço, cujo objetivo não deve ser o lucro – ainda que a operação tenha de ser financeiramente equilibrada – se comportam como empresas privadas, que não olham a meios para conseguir dinheiro, que adotam esquemas, habilidades e estratégias comerciais agressivas, deixam pura e simplesmente de se justificar existir na esfera pública. 

Não reconheço, nestes comportamentos, a postura ética e de serviço público que deve caracterizar o universo Estado. Por isso, e na impossibilidade de os fazer migrar para o velho modelo e na impossibilidade de eu migrar para o novo, reafirmo: CTT e Carris: privatize-se, já!

Foto (montagem daqui e daqui)