Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, janeiro 20, 2013

Portugal ou Suíça?




Portugal é um país que pode reunir todas as condições para ser uma Suíça no sul da Europa. Geograficamente privilegiado, pode posicionar-se como uma porta para abastecer o mercado europeu em produtos e serviços de vanguarda e servir de plataforma de negócios, centro de serviços e logística, quer para a União Europeia quer para a Lusofonia (países da CPLP).

Portugal tem, por comparação com a Suíça, um melhor clima, uma mais longa e influente História para descobrir, uma gastronomia ímpar, uma hospitalidade e pacatez mais vincadas, igual segurança, grande beleza natural, excelente e diversificada oferta turística de serra e mar, um país de sol e praia que consegue fomentar os desportos marítimos e captar uma procura turística diversificada. Além disto apresenta uma rede de infraestruturas de qualidade. Portugal possui 8 aeroportos internacionais, 3 dos quais no Continente, 4 no arquipélago dos Açores e 1 na Madeira. De Lisboa e do Porto saem voos para as principais cidades europeias e para algumas das mais importantes do mundo. Dispõe de 9 portos de grande capacidade, tem 48 linhas férreas que cobrem o país, uma das quais considerada de alta velocidade. Tem ainda excelentes vias de comunicação rodoviárias e uma oferta significativa de excelentes e modernos parques de escritórios para empresas, com uma adequada logística de serviços e transportes. A rede de hotéis é das melhores da Europa onde se podem realizar as melhores e maiores conferências e encontros de negócios assegurando a mais elevada qualidade de serviços.

Existe em Portugal uma disponibilidade de capital humano, jovens e menos jovens licenciados, provenientes de boas universidades onde são ministrados bons cursos universitários, que permitem uma oferta de especialistas em engenharia informática, engenharia aeronáutica, em tecnologias de comunicação e informação, investigação e ciências bioquímicas, médicas e biomédicas ou em áreas económicas e empresariais.

No período compreendido entre 1991 e 2011 o país registou progressos assinaláveis ao nível da educação. Multiplicou por 1,5 o número de matriculados no ensino superior e por 4 o número de diplomados. O número de pessoas entre os 15 e os 64 anos com o ensino superior completo correspondia em 2011 a 25% da população activa. Em 2010 o país tinha lançado no mercado mais de 78 mil diplomados com um qualquer grau do ensino superior.

Em Portugal, os jovens licenciados, no quadro das grandes dificuldades macroeconómicas em que o país vive, têm energia e vontade para prosseguir uma carreira, realizarem-se profissionalmente e ter sucesso. Vestem a camisola a 100%, são eclétios, na sua maioria disponíveis para trabalhar em qualquer parte do mundo e com grande espírito competitivo. Trata-se de uma geração bem informada, alguns muito viajados, com pleno domínio das tecnologias e ferramentas de informação e comunicação, nas quais Portugal é um early adopter, e possuem grande apetência para falar línguas.

Notícias recentes atestam esta realidade: empresas alemãs recrutaram em Portugal mais de 100 engenheiros jovens e recém-licenciados, para trabalhar em empresas industriais no sector público e privado; Uma empresa de recrutamento francesa veio recrutar no país jovens médicos e enfermeiros para trabalhar quer no sector público quer privado.

Encontramos em Portugal um sistema de telecomunicações e informação dos mais desenvolvidos do mundo. O país está muito bem posicionado em termos europeus na oferta e cobertura de internet de alta velocidade, apresenta neste serviço uma boa cobertura nacional, acima dos 25%, oferece uma das mais modernas infra-estruturas de fibra óptica posicionando-se no TOP 20 dos países com maior uso desta tecnologia. Sem ser visto como um país símbolo da inovação, Portugal é efectivamente, à sua escala, um país inovador. Temos vários exemplos: o sistema pré-pago para telemóveis, que representou um caso de inovação mundial; o sistema de pagamento automático de portagens nas auto-estradas, através da chamada Via Verde; o actual sistema automático de cobrança em portagens; a liderança mundial na inovação na indústria de moldes para automóveis ou com aplicação na aeronáutica; a especialização no fabrico de componentes automóveis para algumas das principais marcas mundiais já para não falar da inovação e criação ao nível da indústria do calçado e do têxtil.

Portugal é por tudo isto um país fascinante. Tem conseguido tirar partido destas características mas está longe de optimizar os seus recursos e activos. Em virtude da crise económica e financeira que atravessa, o país necessita de captar investimento estrangeiro para fazer crescer a economia, criar riqueza e emprego. Mas está a competir com países europeus e asiáticos. Neste campo Portugal tem apresentado muitas fragilidades pois temos assistido não só a uma redução do investimento vindo de fora mas também a algum desinvestimento externo. Um dos pontos fracos deriva do sistema fiscal, complexo e desfavorável a quem quer investir, seja pelas elevadas taxas de IRC, licenças e outros custos administrativos mas sobretudo pela volatilidade das suas regras. A política fiscal é irregular e sofre mudanças contínuas em função dos Governos o que tem criado um quadro de grande incerteza e instabilidade, o que retrai os investidores. 

Neste quadro o país tem quase todas as condições para se afirmar como um destino estratégico para a localização de empresas multinacionais, designadamente ao nível dos seus serviços partilhados (shared services centres) o que lhes permitirá aproveitar todos os recursos já aqui enumerados. A prova disso é que temos já o testemunho de várias iniciativas de sucesso através dos exemplos de empresas como a Fujitsu, a Siemens, a Nokia Siemens, a Cisco Systems, o BNP Paribas, ou mesmo a Microsoft e a Solvay, que colocaram em Portugal os seus shared services centres. Aqui concentram e desenvolvem as suas atividades que vão desde os call centers à investigação, serviços centrais administrativos, informáticos ou financeiros.

Para a Lusofonia, o país pode concentrar uma plataforma de apoio logístico, legal, financeiro, administrativo, de tradução e de apoio diplomático e empresarial a todas as empresas e investidores que pretendam investir nestes países, dado que conhece como ninguém as suas características. Há ainda as oportunidades que resultam do facto de estes países necessitarem de professores e formadores, pelo que as alianças entre as Universidades e escolas seria um primeiro passo indispensável.

Portugal é um país amável, generoso, moderno e inventivo que permite às famílias dos que vêm trabalhar segurança e uma boa qualidade de vida. O país tem que melhorar os seus pontos fracos de modo a elevar a qualidade da sua oferta: um quadro fiscal estável e amigo do investidor, uma justiça célere e uma simplificação urgente da burocracia. Todos os restantes ingredientes estão cá.

Artigo publicado no semanário Vida Económica  (01-12-2012) e no diário OJE (12-12-2012)

Sem comentários: