Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, outubro 14, 2012

O FMI e o Modelo de Austeridade falhado


Fazendo parte daqueles a quem se classificam como de crescimentalistas, pelo facto de entender que o modelo de austeridade seguido não resolve, nem resolverá, por si só, os problemas das finanças públicas e da dívida externa, do desemprego ou da falta de crescimento, por contrapartida ao pensamento dos designados austeritaristas, confesso que fico satisfeito com a notícia.

O último relatório de Outlook do FMI deita por terra a base virtuosa do modelo de austeridade aplicado aos países do sul da Europa, modelo este já aplicado também ao longo das últimas décadas em diferentes geografias, e que teve o seu mais negativo reflexo nos finais da década de 90 na América Latina, muito especialmente no exemplo paradigmático da Argentina.

Conclui agora tal relatório que existe um erro (um desvio) nos resultados de tal modelo de austeridade. O FMI reconhece agora que se enganou em relação às previsões que sustentam os programas de austeridade e de resgate dos vários países onde tal modelo tem vindo a ser implementado, no caso presente (e mais recente) da Grécia e Portugal.

Afinal, feitas bem as contas, com base nas experiências mais recentes da Grécia, Irlanda ou Portugal, o corte de 1 Euro no défice não custa apenas 50 cêntimos ao PIB. Antes porém, pode custar entre 90 cêntimos e 1,7 Euros.

Extraordinário, dirão os crescimentalistas. Coisa a verificar melhor porque não será bem assim, dirão os austeritaristas. A verdade é que a realidade parece vir provar este mesmo fracasso (chamemos-lhe apenas desvio). Afinal o modelo tem conduzido a resultados inesperados.

Como dirão os crescimentalistas, isto não vai lá só com contas! Há as expectativas dos agentes económicos (empresas) e outros como os consumidores, há o poder de compra, há o grau de confiança que leva ao investimento e ao consumo, há o rendimento disponível e a carga fiscal…etc, factores que influenciam directamente os resultados das politicas de austeridade implementadas.

Sobre esta matéria e como análise crítica ao modelo de austeridade e aos seus resultados, que o FMI e o Banco Mundial aplicaram na passada década de 90, recomendo a leitura de um livro escrito exactamente há 10 anos pelo célebre economista Prémio Nobel, Joseph Stieglitz (ex- economista chefe do Banco Mundial, assessor económico do Presidente Clinton) insuspeito portanto, e que se intitula: Globalização a grande desilusão.

Ou na sua versão inglesa: Globalization and it´s discountants

Há 10 anos, já Joseph Stieglitz alertava, muito primeiro que todos os outros, para esta globalização e para este modelo fracassado do FMI e Banco Mundial com uma análise formidável do que se passou em países da América Latina. A não perder (ou a reler).

É pois tempo da Europa se unir e analisar de forma crítica mas atenta, como este modelo de austeridade pura e dura não estará a levar os países com necessidades de ajuda ao melhor caminho e aos objectivos desejados. Mais do que nunca, espera-se da Europa um espírito de união e uma capacidade de encontrar soluções globais, ajustadas localmente, aos seus países membros respeitando e atendendo às idiossincrasias de cada um deles.

Porque esta crise é global e não se insere apenas na esfera dos países em termos individuais, havendo, por isso, necessidade de respostas à escala europeia uma vez que é do interesse europeu que se trata. Nenhum país que necessitou de ajuda ou que vier a necessitar terá nas suas mãos a capacidade e os instrumentos, para, por si só, os resolver. Esperemos que a Europa possa daqui a tempos dizer, como em tempos disse Tony Blair num outro contexto: We act because we must.

Um prémio certo na hora certa


Perdemos a memória das duas grandes guerras mundiais que devastaram a Europa. A memória vivida perdeu-se quando deixámos de conviver com quem as viveu. Esses dois devastadores conflitos existem hoje sobretudo, ou quase exclusivamente, em filmes, documentários, livros de História, mas já não na memória das gentes.

Mas ao projeto europeu se devem mais de seis décadas ininterruptas de paz na Europa. Não é, pois, de estranhar a atribuição do Prémio Nobel da Paz à União Europeia (UE). Porém, alguma da nossa intelligentzia, cujo nível de vida em grande parte se deve à União Europeia, zurze hoje na sua atribuição, não raramente confundindo as instituições com os seus atores momentâneos. Penso que só mesmo por ignorância do que foi a história da Europa e do que foi a história da Europa do séc. XX se pode questioná-lo. O prémio é justíssimo. 

Nos países do Sul grita-se e barafusta-se contra a UE, aponta-se-lhe a falta de coesão, de entendimento, de diálogo, de solidariedade, e vaticina-se mesmo a sua destruição iminente. Creio, porém, que essa escatologia é bem capaz de ser mais baseada na espuma das ondas do que no movimento profundo das marés.

Se olharmos mesmo para o momento presente, certamente o mais difícil da história da UE, notaremos que tem, ainda que com dificuldades, avanços, recuos, imperado um sentimento de família, de pertença, de comunidade... É mais o que nos une, desde a moeda que temos nos bolsos, aos regimes políticos que partilhamos, às leis e instituições que nos regulam, ao legado da civilização e da cultura ocidentais, do que o que nos separa… Se conseguirmos o distanciamento necessário, veremos que, mesmo agora, o velho lema militar de que «ninguém fica para trás» tem, apesar de tudo, dominado. E a atitude perante Grécia, sempre muito criticada, é um bom exemplo disso. É que mesmo depois de dois pedidos de resgate e de um perdão de 50% da dívida, o dinheiro continua a chegar... E os gregos, chamados a pronunciar-se, manifestam-se favoráveis à continuidade no euro…

Além de justo por tudo o que a União Europeia fez pela paz na Europa, o prémio é oportuno, por ser dado no momento em que é. É que o prémio coloca nos ombros dos decisores europeus a responsabilidade acrescida que é «honrá-lo»…

Este é, pois, um prémio certo, na hora certa...
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terça-feira, outubro 09, 2012

Turismo em Portugal



Em tempos conturbados como os actuais e num país em profunda crise económica e social, resta ainda a Portugal uma réstia de Sol. Como já alguém disse, ou escreveu, “o sol, o sal e o mar, trarão a Portugal no futuro, os recursos para a educação, para a saúde e para o progresso”.

Num país atordoado pela crise económica e financeira e num quadro de carência social preocupante, o país ainda consegue ser galardoado pelo sector do qual dependerá grande parte da sua sobrevivência no futuro – o turismo.

Esta semana o país obteve várias distinções do World Traveler Awards o qual atribuiu a Portugal a distinção do melhor destino para a prática de golfe e o melhor destino de praia da Europa.

Para além daquelas, foram igualmente dadas distinções a 4 hotéis, como sendo dos melhores hotéis da Europa.

Se a isto somarmos todas as distinções que, por exemplo, Lisboa tem obtido no circuito internacional das melhores cidades para fazer férias e negócios, entende-se mal porque é que o país não apostou mais em si próprio, de uma forma consistente neste activo que o distingue em várias frentes.

Soma-se a isto os resultados de um estudo recentemente realizado pelo Turismo de Portugal que conclui que 85% dos turistas querem voltar de férias a Portugal e que 89% destes ficaram muito satisfeitos com as suas férias no país. Há aliás uma franja de 34% destes visitantes que afirma que ficaram acima das suas expectativas.

Note-se que 40% escolhem o destino Portugal através da Internet, vejamos a importância deste meio, ou a falta de melhores acções e estratégias internas alternativas, o Algarve é destino para 46% dos visitantes e a região de Lisboa de 42%. A cidade de Guimarães ficou com 6% devido certamente à Capital Europeia da Cultura.

Para percebermos a importância deste sector refira-se que o turismo é responsável por 46% do peso das exportações de bens e serviços, representa 10% do PIB e 10% do emprego em Portugal.