Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quarta-feira, novembro 09, 2011

A Geopolítica europeia e a geração entalada













"Um do desejos de qualquer individuo minimamente conhecedor e informado que não viva na Europa é um dia poder viver na Europa".

Este era um pensamento que recorrentemente corria em discussões sobre politica, economia e sociedade e que era tese para qualquer europeu. Hoje caminhamos em sentido contrário desta aparente verdade.

Na verdade o modelo social europeu nunca foi auto-sustentável. A Europa só conseguiu sair das cinzas do pós-guerra devido ao Plano Marshall Americano o qual permitiu aos países europeus a criação do seu actual sistema de segurança social. Note-se que existem vários modelos sociais na Europa, designadamente os dos países nórdicos, diferente do dos países do centro e sul da Europa. Mas refiro-me ao modelo social Europeu no seu todo (nível de vida, saúde, apoio social aos desfavorecidos, oportnidades iguais para todos etc).

Este modelo social foi depois crescendo, expandindo-se, criando um nível de bem-estar geral e elevadas condições de vida, suportado por uma fase de crescimento económico em todos os países, em especial a partir dos anos 60, que terá dado uma aparente noção de que este podia ser sustentável. O Baby Boom foi causa e ao mesmo tempo consequência deste crescimento e criou uma nova dinâmica de riqueza. Mas na realidade podemos hoje concluir sem qualquer dúvida que esse tal modelo social nunca foi sustentável.

Olhando agora para as enormes dívidas externas de cada país, verificamos pois que este modelo social só existiu durante tanto tempo porque os países se endividaram excessivamente. Na realidade, os países não foram capazes de gerar a riqueza e o crescimento económico suficiente que pagasse e sustentasse tal modelo. Uma outra causa desta realidade é hoje o enorme nível de desemprego existente na grande maioria dos países da Europa, nunca antes alcançado. Os desempregados europeus são hoje muitos milhões e estes não esperam, na sua maioria, poder encontrar um emprego nos próximos 6 meses a 1 ano. Esta é também uma nova realidade dos Estados.

Naquela Europa do sucesso e do quase pleno emprego, estar desempregado era tido como um estigma social negativo e uma posição económica dos menos capazes, dos mais incompetentes ou preguiçosos. Estar desempregado podia ser associado em muitos casos, a classes sociais mais baixas, a pessoas sem grandes qualificações e interesse pelo esforço, pela dedicação e pelo empenho suficientes, ou então por ausência de competências que lhes permitissem estar muito tempo no mercado de trabalho.

Hoje tudo isso é diferente. Não são apenas os menos habilitados, os menos empenhados ou os incapazes, a viver no desemprego. O encerramento de empresas em velocidade acelerada, a falência dos modelos económicos de vários países e a insuficiente capacidade para reverterem a direcção económica negativa dessa trajectória, provocaram este desastre social. Temos precisamente muitos dos mais competentes e habilitados nessa moldura socio-económica.

Numa Europa de profundo desemprego com taxas de gente desocupada nunca antes verificadas, vemos no desemprego um dos primeiros sinais (e consequências) da falência do designado modelo social europeu. Ou a primeira "vitima" desta falência. Uma geração tão bem designada há dias por um dos nossos fresianos, o João Rocha Santos, por geração "entalada".

E é uma geração entalada entre a dívida gigantesca dos Estados e a gigantesca onda de desemprego que os assola. A primeira foi consequência da permanência por demasiado tempo no padrão social e económico que os europeus quiseram sustentar, a segunda, consequência hoje das duas anteriores.

sexta-feira, novembro 04, 2011

As boas notícias



Temos hoje a realçar a boa notícia transmitida através de um dos seus directores adjuntos, segundo a qual o FMI está disponível para discutir o programa de ajustamento da economia portuguesa. Tal notícia não poderia surgir em melhor data e não poderia ser mais acertada. Em especial porque irá decorrer uma missão de avaliação da implementação do programa a partir do próximo dia 7 de Novembro. Faz todo o sentido que o FMI perceba a necessidade de tal ajustamento. Significa que está a acompanhar na perspectiva certa os problemas globais europeus e a actuar em conformidade.

Foquemo-nos então nas razões da defesa desta tese. Quando o programa de ajustamento foi negociado há mais de 6 meses, a Europa estava diferente, com taxas de crescimento superiores às actuais e onde a crise da dívida soberana não tinha atingido o ponto crítico actual. Neste momento, a crise da dívida soberana agudiza-se, com países como a Espanha e Itália a pagarem juros cada vez mais elevados (a Itália pagou ontem mais de 6% por dívida a 10 anos) e a França a entrar neste rol de aumentos no custo do financiamento. As últimas notícias dizem aliás que a Itália estará já em vigilância formal por parte do FMI, o que foi confirmado pelo governo de Berlusconi que garantiu ter pedido ao FMI que monitorizasse as suas contas. Esta situação, agravada pelos casos mais recentes das dificuldades da Grécia, em especial pelo pânico criado pela hipótese de referendo à permanência na zona euro, leva a que as previsões para o crescimento económico na zona euro apontem para uma taxa de 0,2% em 2012. Ora este crescimento é praticamente zero.

Assim sendo, se todas as teses apontam para que o crescimento económico em Portugal apenas seja conseguido através do aumento das exportações, havendo, infelizmente ainda, apenas uma pequena percentagem de empresas exportadoras (serão à volta de 10%) será de prever que tal crescimento seja profundamente prejudicado e dificultado pois uma Europa que concentra 70% das nossas exportações a crescer zero, certamente que impedirá uma boa performance nesta vertente exportadora.

E como a Europa está diferente, sendo igualmente diferentes os principais pressupostos e fundamentos económicos que estiveram na base da assinatura do primeiro memorando ou plano de ajustamento, faz agora todo o sentido que este seja revisto à luz dos novos desenvolvimentos políticos e económicos observados na zona euro.
Isto sem nos referirmos ao facto de que a pesada factura da implementação do duro plano de austeridade que está a ser exigido aos portugueses, estar a atingir um limite, para além do qual é muito difícil resistir.



São por isso de saudar tais notícias.