Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

terça-feira, setembro 27, 2011

Portugal tem que voltar a navegar







Tem sido interessante voltar a ouvir em Portugal a utilização da palavra "Navegadores". Porque de facto Portugal foi sempre um país de navegadores e marinheiros (como o meu pai por exemplo).

E foi com navegadores que conquistámos em tempos idos o Mundo e trouxemos novos Mundos ao Mundo. Foi com estes que Portugal conquistou e mereceu o respeito que outrora lhe foi reconhecido por parceiros e opositores e que ainda hoje é um dos poucos temas a que, recorrentemente, escritores, cineastas, analistas e políticos recorrem para lembrar ao Mundo que Portugal tem afinal uma história e que essa parte da historia é ainda aquela que nos consegue trazer algum sentimento de vaidade, afirmação e dignidade.

Por isso foi com agrado que percebi que o Ministro Álvaro Santos Pereira gostou e sorriu ao ouvir essa expressão porque também ele compreendeu a importância desta palavra e o impacto que ela pode ter nos portugueses. E porque Portugal tem que voltar a navegar.

O país tem que voltar a navegar daqui deste rectângulo para fora, por outras palavras, Portugal tem que estar ainda mais virado para o Mundo e olha-lo frontalmente olhos nos olhos. Quer isto dizer que Portugal tem que se virar para os outros países, para os mercados externos e para a internacionalização. Por isso é importante ouvir o Ministro Álvaro Santos Pereira referir que o país está apenas a exportar cerca de 35% do PIB quando com a dimensão que tem e com o tipo de empresas que caracterizam o quadro empresarial nacional, deveria estar a exportar 70% desse PIB.

E foi ainda com mais agrado que o ouvi dizer que a língua é um dos principais activos da nação e que não tem sido aproveitada como um dos principais instrumentos de politica económica e de projecção de Portugal no Mundo. Em especial junto dos países da lusofonia, sendo estes alguns dos principais países e mercados de destino para onde temos que projectar a nossa internacionalização.

Digo que ouvi isto com agrado porque aqui no FRES andamos há anos a pensar, a dizer e a propor isto o que significa que não estamos sós e que o que pensamos e escrevemos sempre faz algum sentido. Vale a pena continuarmos.

Mas a ajuda à internacionalização não pode partir apenas do Estado nem de igual forma pode o crescimento do país assentar apenas nos esforços e contributos do Estado. Em primeiro lugar e como disse muito bem o Presidente da COTEC, Carlos Moreira da Silva, no programa da RTP 1 Prós e Contras, cabe aos empresários fazer o seu papel e dar o seu indispensável contributo para mudar a situação de marasmo vigente, arriscar, desejar ousar e investir.

Cabe também aos portugueses dar o seu contributo o qual pode passar pela adopção de um "estilo de ser português" - digo eu. E isto encaixa-se na ideia e na teoria também defendida por nós no FRES (e hoje muito apadrinhada quer pelo Ministro da Economia e já há muito tempo antes pelo Presidente da Republica) do "comprar nacional". Em suma substituir importações para além de incrementar as exportações.

Por isso gostei também de ouvir o Ministro da economia defender o investimento nacional no nosso design, onde temos dos melhores criadores que existem por este Mundo fora e da refundação de uma verdadeira, forte e distintiva "Marca Portugal" que tão por baixo tem andado nestes últimos tempos. Ambos, design e marca aos quais, digo eu, devemos juntar qualidade, são os ingredientes indispensáveis para que todos nós compremos o que é nosso e produzido por nós ajudando assim, todos nós, o país dando o nosso contributo. Sem falsas modéstias nem preconceitos, pois Portugal tem que voltar a navegar.

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador,
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu

Mar Portuguez - Fernando Pessoa

domingo, setembro 25, 2011

Uma nova historia de Portugal





D. Pedro V escreveu no século XIX que Portugal era "uma sociedade profundamente desmoralizada pelas memórias da grandeza do seu passado e pela visão da sua perda".

Já no século XX o escritor Teixeira de Pascoaes escrevia em 1920 que "As descobertas foram o despertar...desde aí, temos estado a dormir".

Também outro autor português, Almeida Faria escreveu em 1980 que o povo português "estava desempregado desde Vasco da Gama".

Portugal vive hoje tempos muito difíceis, não só em termos económicos ou de finanças públicas mas também em termos de identidade nacional - uma identidade que se encontra perdida. O país vive sem rumo de longo prazo e sem uma visão claramente definida do que pretende ser ou como pretende ser visto no futuro. Acima de tudo vivemos um período de profunda crise da identidade nacional em que toda a preponderancia das politicas publicas estão focalizadas no curto prazo e na resolução dos problemas financeiros do Estado.

Nós portugueses sempre fomos astutos e destemidos, temerários e corajosos. Como escreveu o historiador António José Saraiva, "a superfície é suave, o núcleo é rijo". Ficou provada a nossa astúcia desde 1494 quando assinámos o Tratado de Tordesilhas com os espanhóis. Conta-se que naquela data os portugueses ficaram a ganhar e enganaram ardilosamente os espanhóis. A nossa fama de guerreiros destemidos (éramos apenas 1 milhão quando conquistámos as costas de África, da América e as Índias) tinha eco em todo o planeta. Segundo cronistas da época, Portugal era visto como o "Leão dos Mares" e o "César do Oriente". Dizia-se que " Portugal "enchia a Europa de admiração e a Ásia de um terrível medo".

Mas fomos perdendo a força e a determinação. As riquezas conquistadas e tomadas a oriente amoleceram-nos, viciaram-nos e trouxeram à superfície o lado menos bom deste povo: temido, corajoso, mas fútil e desorganizado. Já no século XVI se escrevia e afirmava que os portugueses eram dados à indisciplina sem uma forte chefia. Valeu-nos sempre nesses tempos a coragem, a fibra e os sucessos militares que nos mereceram dos opositores respeito e louvor.

Olhando para as frases escritas dos autores acima mencionados facilmente chegamos ao Portugal dos dias de hoje. Falta-nos a motivação, o empenho, a determinação, a ousadia e a vontade de palmilharmos firmemente o nosso caminho. A riqueza que outrora nos amoleceu, fugiu-nos agora e pouco nos resta que não seja a vontade de querer vencer - se a tivermos. Nestes tempos modernos, o país vive das mesmas crises e defeitos que sempre lhe foram reconhecidos. É uma característica, um problema civilizacional, de cultura, de comportamento, de modo de ser.

Vejamos aliás como abordamos um dos principais instrumentos da democracia moderna - o voto. Em muitos actos eleitorais, o voto vencedor é a abstenção, dito por outras palavras, mais de metade do país abstém-se e não vota não exercendo assim um direito mas em simultâneo um dever cívico. É a completa demissão da participação cívica e da assumpção da responsabilidade de ser cidadão. Por isso é indiscutível que algo vai ter que mudar.

Já na época dos descobrimentos o Estado, por exemplo, tinha a fama de ser gastador e de pagar tarde e a más horas - vejam bem.

Há porém o tal núcleo rijo dentro de nós. E é necessário que se saiba que se as circunstâncias assim o exigirem, é muito provável que surja aí esse lado interior e obscuro, de dureza e de espírito guerreiro, quem sabe. Nós, continuamos a ser desorganizados e indisciplinados, a necessitar de ordens, de coordenação e de uma firme chefia. Aqui terá residido talvez um dos principais problemas do país nas últimas 3 décadas.

Temos que nos saber governar não deixando que sejam os outros a fazê-lo. Para isso torna-se indispensável fazê-lo com exigência e rigor.

Há um sentimento e tendência para a "não inscrição" como afirma o filósofo português José Gil, que permanece de forma arreigada entre nós. Esse sentimento e atitude que é imperioso combater. E o povo tem que se inscrever porque é do futuro do povo que se trata. Necessário se torna por isso escrever uma nova história nacional, com novos valores e atitudes e com novos interpretes - nós portugueses desta época. Fazer surgir uma nova sociedade de cidadãos activos e participantes que honrem as cores já um pouco esmorecidas da bandeira.

Por isso importa motivar esta nossa civilização e disciplinar este país e tal pode apenas acontecer se forem os cidadãos a tomar as rédeas dessa construção. Nós queremos fazer parte dessa nova epopeia. Por isso aqui fica um desafio, o nosso desafio de, através do FRES, darmos o nosso contributo. Começámos há alguns (poucos) anos. Continuaremos, sempre. Para já vamos contribuir com ideias e novas propostas para alterar um quadro que em Portugal reputamos de negativo ou, pelo menos, desadequado à realidade nacional neste século XXI - a actual lei Eleitoral.

A nossa epopeia é a epopeia do país.