Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sexta-feira, julho 08, 2011

O rating e a geopolítica – duas faces da mesma moeda



Muito tem sido dito relativamente ao tema da descida do rating da Republica portuguesa pela Agência Moddy´s, a qual afecta o seu custo (actual e futuro) podendo mesmo por em causa o seu cumprimento no futuro. E quase tudo o que é importante foi já dito por analistas económicos, políticos, banqueiros ou líderes de opinião. Quero fazer aqui uma declaração: não acredito em teorias da conspiração. Importa dizê-lo para minimizar, pelo menos, as acusações que alguns me poderão fazer sobre o que digo a seguir. E o que aqui partilho com os leitores são considerações e reflexões de natureza política e geoestratégica.


Em primeiro lugar quero sublinhar que, do que ouvi e li, há algumas opiniões que me parecem mais certeiras nas suas conclusões ou avaliações sobre este processo. O alvo de tudo isto não é Portugal. Ou não é fundamentalmente Portugal. E em face disto tenho que dizer que não é indiferente que Portugal seja responsável apenas em 40%, 50% ou em 90% pelo que se passou. É muito diferente, pois Portugal é, em primeira instância, o mais imediato prejudicado quando se pretende atingir não o país mas o Euro e a Europa. Depois vem a Europa, essa sim o principal alvo desta acção. As políticas económicas do actual governo e o actual estado da dívida pouco estão, infelizmente, ainda a contar.


E dentro da Europa temos a Alemanha como principal alvo desta acção. Esta Alemanha que me parece estar a um passo de virar as costas à Europa já que vive e cresce hoje, não só de costas voltadas para a França, mas especialmente virada para os países da ex-Europa de Leste, para onde dirige de forma crescente o seu investimento e exportações, a taxas de crescimento cada vez mais acentuadas, que a ajudam a atingir um superavit comercial cada vez maior. Em especial quando se pretende enfraquecer uma Europa e uma moeda que começa a ter, para já, como o seu grande aliado e principal apoiante (naturalmente de uma forma pouco altruísta num futuro próximo) a China. Esta China que está a conquistar a Europa e a aliar-se à Europa tendo como grande desígnio o confronto económico e a disputa pela liderança económica mundial com os EUA. Esta China que tem hoje como grande fornecedor e parceiro comercial a já por mim referida Alemanha. Ora e uma Alemanha que tem os países do leste Europeu e a China como alternativa à UE pode ser naturalmente o principal alvo a abater pelos Americanos na Europa. Até que a Alemanha se chateie de vez e abandone totalmente a UE e o Euro pois cada vez precisa menos de ambos.

Não tenhamos pois dúvidas que nada acontece por acaso e que estas meras conjecturas sobre Portugal, sobre o nosso deficit, as dificuldades de redução do mesmo ou da incerteza no cumprimento do pagamento da dívida, foram apenas argumentos e manobras de diversão (que em boa hora surgiram) para atingir outros desideratos. E não é que a Grécia tem sido uma ajuda tremenda para este objectivo? Que leva agora a perseguir Portugal?


Por isso e apesar de tudo o que tem sido defendido pelos analistas económicos relativamente à tese de que “é o mercado a funcionar”e, com veemência e clareza da sua parte, não são mais do que visões (no meu entender românticas) do problema. É o mesmo que estar a ver a árvore esquecendo ou perdendo a noção que ela se encontra no meio da floresta.


Ou não será por acaso que desde Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, à Grécia, a todos os banqueiros europeus ou ao próprio Presidente do BCE, hoje mesmo que escrevo este artigo, pois claro, vêem agora a terreiro defender o nosso país. Pois seria. É muito mais o que está em causa do que Portugal. É a própria Europa e a sobrevivência do Euro e do modelo económico Europeu. O problema é que tudo isto tem sido feito nos últimos dias à custa do esforço e do sacrifício futuro e por conta do prejuízo social e económico que será infligido aos portugueses e ao nosso pequeno país. Nada disto tem a ver com o mercado. Nem com teorias românticas sobre a decisão racional dos investidores, muitos destes, os pequenos não os maiores, também meros peões de guerra.

Ou não fosse o facto de a China ter, é quase certo, já previsto para 2016 que a sua moeda, o Yuan, venha a ser utilizada como moeda para transacções internacionais. Poucos o sabem mas quem lá vive já começou a abrir o postigo. Saberemos o que isto vai significar? Assim, de um lado temos os EUA a lutar pela sobrevivência da sua hegemonia económica, tendo na Europa o seu primeiro e mais imediato alvo. Do outro lado temos a China, aliada dessa mesma Europa, escondida e defendida nos próximos anos e a fortalecer as suas tropas e as suas armas. E a Europa a meio a levar “pancada”. Esta sim, é a verdadeira guerra de futuro. Cada um acreditará no que quiser. Mas o futuro confirmará, ou não, este cenário.

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