Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quarta-feira, julho 13, 2011

A minha história!

Imaginemos que eu devo a um de vocês 160.000€.
Imaginemos que eu pedi emprestado a outros, e vocês sabem, um montante que ninguém sabe muito bem quanto é mas que se estima poderem ser mais 60.000€, cuja factura vai aparecendo todos os anos e que somam àqueles 160.000€;
Imaginemos que, por via disto, eu peço 80.000€, a receber em tranches até 2014.
Imaginemos que eu ando há 30 anos a gastar mais do que recebo e que só no ano passado gastei mais 10% do que recebi.
Imaginemos que instado a contrair a despesa e já depois de termos acordado no empréstimo de 80.000€ e eu ter-me comprometido, em 2011, em não gastar mais do que 6% do que recebo, acabei por gastar mais 2000€ nos primeiros três meses.
Imaginemos ainda que eu vou ter um corte de 1/2/3% nos meus rendimentos anuais.
Imaginemos ainda que quando se esgotarem os 80.000€, eu vou ter logo de pagar 15.000€.
Somem a tudo isto juros de 5/10/15 vezes superiores ao meu acréscimo de rendimentos.
Imaginemos ainda que as minhas dívidas foram criadas pela minha mulher gastadora e que me divorciei dela.
Imaginemos ainda que a minha nova mulher sabendo que gastei mais 2000€ nos três primeiros meses consegue arranjar 800€ para vos calar a boca, mas nada diz sobre os outros 1200€.
Imaginemos que tenho áreas onde tenho dívidas de 2.000€, 3.000€, 5.000€, mas a primeira preocupação da minha nova mulher que vai pôr a casa em ordem é cortar em despesas de 18€.
Vocês achavam que eu conseguiria pagar?

sexta-feira, julho 08, 2011

O rating e a geopolítica – duas faces da mesma moeda



Muito tem sido dito relativamente ao tema da descida do rating da Republica portuguesa pela Agência Moddy´s, a qual afecta o seu custo (actual e futuro) podendo mesmo por em causa o seu cumprimento no futuro. E quase tudo o que é importante foi já dito por analistas económicos, políticos, banqueiros ou líderes de opinião. Quero fazer aqui uma declaração: não acredito em teorias da conspiração. Importa dizê-lo para minimizar, pelo menos, as acusações que alguns me poderão fazer sobre o que digo a seguir. E o que aqui partilho com os leitores são considerações e reflexões de natureza política e geoestratégica.


Em primeiro lugar quero sublinhar que, do que ouvi e li, há algumas opiniões que me parecem mais certeiras nas suas conclusões ou avaliações sobre este processo. O alvo de tudo isto não é Portugal. Ou não é fundamentalmente Portugal. E em face disto tenho que dizer que não é indiferente que Portugal seja responsável apenas em 40%, 50% ou em 90% pelo que se passou. É muito diferente, pois Portugal é, em primeira instância, o mais imediato prejudicado quando se pretende atingir não o país mas o Euro e a Europa. Depois vem a Europa, essa sim o principal alvo desta acção. As políticas económicas do actual governo e o actual estado da dívida pouco estão, infelizmente, ainda a contar.


E dentro da Europa temos a Alemanha como principal alvo desta acção. Esta Alemanha que me parece estar a um passo de virar as costas à Europa já que vive e cresce hoje, não só de costas voltadas para a França, mas especialmente virada para os países da ex-Europa de Leste, para onde dirige de forma crescente o seu investimento e exportações, a taxas de crescimento cada vez mais acentuadas, que a ajudam a atingir um superavit comercial cada vez maior. Em especial quando se pretende enfraquecer uma Europa e uma moeda que começa a ter, para já, como o seu grande aliado e principal apoiante (naturalmente de uma forma pouco altruísta num futuro próximo) a China. Esta China que está a conquistar a Europa e a aliar-se à Europa tendo como grande desígnio o confronto económico e a disputa pela liderança económica mundial com os EUA. Esta China que tem hoje como grande fornecedor e parceiro comercial a já por mim referida Alemanha. Ora e uma Alemanha que tem os países do leste Europeu e a China como alternativa à UE pode ser naturalmente o principal alvo a abater pelos Americanos na Europa. Até que a Alemanha se chateie de vez e abandone totalmente a UE e o Euro pois cada vez precisa menos de ambos.

Não tenhamos pois dúvidas que nada acontece por acaso e que estas meras conjecturas sobre Portugal, sobre o nosso deficit, as dificuldades de redução do mesmo ou da incerteza no cumprimento do pagamento da dívida, foram apenas argumentos e manobras de diversão (que em boa hora surgiram) para atingir outros desideratos. E não é que a Grécia tem sido uma ajuda tremenda para este objectivo? Que leva agora a perseguir Portugal?


Por isso e apesar de tudo o que tem sido defendido pelos analistas económicos relativamente à tese de que “é o mercado a funcionar”e, com veemência e clareza da sua parte, não são mais do que visões (no meu entender românticas) do problema. É o mesmo que estar a ver a árvore esquecendo ou perdendo a noção que ela se encontra no meio da floresta.


Ou não será por acaso que desde Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, à Grécia, a todos os banqueiros europeus ou ao próprio Presidente do BCE, hoje mesmo que escrevo este artigo, pois claro, vêem agora a terreiro defender o nosso país. Pois seria. É muito mais o que está em causa do que Portugal. É a própria Europa e a sobrevivência do Euro e do modelo económico Europeu. O problema é que tudo isto tem sido feito nos últimos dias à custa do esforço e do sacrifício futuro e por conta do prejuízo social e económico que será infligido aos portugueses e ao nosso pequeno país. Nada disto tem a ver com o mercado. Nem com teorias românticas sobre a decisão racional dos investidores, muitos destes, os pequenos não os maiores, também meros peões de guerra.

Ou não fosse o facto de a China ter, é quase certo, já previsto para 2016 que a sua moeda, o Yuan, venha a ser utilizada como moeda para transacções internacionais. Poucos o sabem mas quem lá vive já começou a abrir o postigo. Saberemos o que isto vai significar? Assim, de um lado temos os EUA a lutar pela sobrevivência da sua hegemonia económica, tendo na Europa o seu primeiro e mais imediato alvo. Do outro lado temos a China, aliada dessa mesma Europa, escondida e defendida nos próximos anos e a fortalecer as suas tropas e as suas armas. E a Europa a meio a levar “pancada”. Esta sim, é a verdadeira guerra de futuro. Cada um acreditará no que quiser. Mas o futuro confirmará, ou não, este cenário.

quinta-feira, julho 07, 2011

Teoria ou realidade?




Já o Padrinho da Máfia dizia: "Isto não é nada pessoal, são apenas negócios".

O que se passa aqui não é, na opinião de muitos economistas e analistas, imoral - os mercados não têm moral - mas sim, para muitos outros observadores, um ultraje e um insulto aos portugueses e a Portugal. E parece até que isto que se está a passar não é propriamente a acção dos mercados, é antes a posição de uma agência de rating que influencia os mercados.

Hoje Portugal ficou mais pobre, a sua dívida mais cara, o país mais desacreditado e fragilizado, os bancos nacionais financeiramente mais enfraquecidos e provavelmente a necessitar de mais capitais, pois ao pedirem emprestado ao BCE os colaterais em dívida portuguesa terão que ser reforçados pois valem menos, os investidores tendem a fugir de nós e a vender os investimentos que fizeram em Portugal e na dívida portuguesa.

E tudo isto quando temos um novo governo com uma semana de legislatura, eleito democraticamente com uma maioria parlamentar de grande expressão, quando existe um programa de assistência financeira aprovado com a larga maioria dos 3 maiores partidos com assento parlamentar, um programa redigido pela UE e pelo FMI em co-autoria com os 3 maiores partidos do parlamento e que não teve ainda qualquer hipótese (entenda-se tempo) para ser posto em pratica.

Tudo isto quando Portugal nem sequer estará nos mercados, quero dizer, não estará a pedir emprestado aos mercados pois tem o empréstimo FMI/UE disponível.

Em Portugal já não temos os socialistas a liderar, já não seguiremos o PEC IV! Então porquê?

Não tivemos sequer tempo ainda de implementar nada, não incumprimos com nada, então como se justifica isto? Que interesses são estes e com que objectivos Portugal, que não está na bancarrota nem caminha para a bancarrota está a ser literalmente empurrado para esta?

A China, através da sua agência de rating já criada, classifica e avalia a dívida de Portugal como A2. Então que interesses estarão aqui ocultos? Toda esta acção até parece ter como objectivo o enfraquecimento do Euro e da posição económica Europeia. Uma Europa onde até parecem faltar lideres com força política e económica suficiente e que se confrontem e confrontem esta afronta que lhes está a ser feita.

O assunto merece reflexão e discussão.

- O que o dinheiro faz por nós não é nada em comparação com o que a gente faz por ele (Millôr Fernandes – humorista e escritor)