Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, março 13, 2011

Portugal acorda para a Cidadania


Portugal manifestou-se como há muito não o fazia e não se via.

Por todas as principais cidades do país, assistimos a um grande movimento cívico, de cidadania, de contestação ao actual estado social da Nação, estado social afectado pela crítica situação económica e financeira que o país atravessa.

Mais do que referir os aspectos e as razões, certamente legitimas, que mobilizaram uma tão grande franja da população, pois estima-se que estiveram nas ruas muitas centenas de milhares de pessoas de todas as idades e gerações (não apenas a geração à rasca) Lisboa, Porto, Braga, Guimarães, Faro, Coimbra, Funchal ou S. Miguel, viram a sua população nas ruas.

O país viu e ouviu as pessoas. Tão grande manifestação cívica, tem que representar algo de importante. E um dos fenómenos a destacar aqui é talvez um novo sentimento de cidadania, do papel social que jovens e mais velhos começam a sentir que lhes pertence e é da sua responsabilidade. Portugal veio de novo à rua, expressar o que sente. Portugal parece que acreditou de novo.

Até parece que surgiu um novo amanhecer e um novo acreditar e que tudo vale de novo a pena. Que afinal valerá a pena continuar. E quem acredita é um povo ordeiro, disciplinado, organizado, pacífico, que desta vez disse "SIM, aqui estamos".

Que grande e enorme lição de civilidade, de cidadania, de civismo, de elevação, tiveram as gentes de Portugal, novos e velhos. Que classe geracional, esta à rasca, que desfilou nas ruas, se manifestou, exprimiu opiniões, de forma cívica, educada, pacífica e ordeira.

Que lição dada a gregos, franceses, espanhois, ingleses e por aí fora. Como diz Camilo Lourenço, "os rebeldes da nossa geração à rasca são meninos de coro se comparados com os franceses, espanhois ou gregos", mas sendo assim, a inveja deve ter ficado do lado de lá. Portugal vive a crise económica, sente a crise social, pensou a política e emitiu uma opinião geral sobre os problemas - manifestou-se.

É o país no seu melhor através da sua gente. Uma gente que luta pelos seus interesses, quer ser mais esclarecida, manifesta-se cívica e ordeiramente e demonstra ao mundo, através de uma das melhores mensagens e promoções que se podem fazer a uma Nação: que Portugal pode se quiser ser uma grande Nação e que pode dar lições de cidadania, de participação e de civismo se o quiser. Uniu novos a velhos, empregados a desempregados, iletrados a licenciados.

Aqui está um exemplo em como a cultura e a civilidade portuguesas podem ultrapassar fronteiras e ser demonstradas e apresentadas ao mundo. Temos uma história secular de conquistas, de comércio, de coabitação cultural e civilizacional, de valores de honra e coragem, adormecida nas últimas décadas. Esta nova geração veio ajudar o país acordar de novo.

É esta a projecção que Portugal tem que dar de si mesmo ao mundo. Cumpre-nos a todos não nos deixarmos adormecer de novo.

D. Afonso Henriques deu várias voltas no túmulo: queria participar!

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