Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Sobre o Mito da Globalização


Recente entrevista dada em Portugal por Pankaj Ghemawat, professor indiano de estratégia global da IE-SE-Instituto de Estúdios Superiores de la Empresa em Barcelona e da Harvard Business School ao longo de 25 anos, referia que os empresários portugueses terão que sair da zona de conforto e saber lidar com as diferenças quando internacionalizam os seus negócios.

Por outras palavras, Ghemawat sugere que a internacionalização de Portugal está demasiadamente concentrada nos mercados Europeus, o que se torna um grande risco no futuro, esquecendo outros destinos que irão crescer a um ritmo mais acelerado no futuro. E aqui têm particular relevância, segundo o professor indiano, alguns países asiáticos. A comprovar a sua tese está o facto de apenas 7% das exportações portugueses serem dirigidas à Ásia.

É curioso o momento em que observarmos estas afirmações quando analisamos por exemplo a importância que a China começa a revelar para este nosso cantinho à beira mar plantado. Segundo notícias recentes, a China representava em 2005 para a Auto-Europa o 10º mercado de exportação quando em 2010 passou a ocupar o 5º lugar. No plano desta empresa, a China deverá passar a ser em 2011 o seu 2º mercado de exportação.

Afirmava também Pankaj Ghemawat que existe o mito muito propagandeado da globalização. Para o mesmo não existe um fenómeno de globalização mas sim o que define por uma semiglobalização. Defende que esta é sim uma expressão mais realista dado que existem ainda muitas fronteiras que estabelecem barreiras importantes ao livre comércio e nas quais há diferenças significativas. Ilustra esta tese com a ideia de que está a passar o mito de que o mundo é plano. E este mito resulta da constatação de que o comércio e as exportações mundiais não são assim tão representativas do fenómeno da globalização pois estas em 2010 apenas representaram 23% do produto mundial e os fluxos de investimento directo estrangeiro ocuparam apenas uma fatia entre 6% a 10% do investimento global. Curioso.

Pankaj Ghemawat revela também algum cepticismo quanto ao impacto e influência das redes sociais nas estratégias de internacionalização como facilitadoras da globalização. Diz este professor que “há uma intuição muito exagerada sobre a globalização e que as pessoas, ao falar dela, erram por grandes margens.”

Esta posição é curiosa e polémica se observarmos alguns fenómenos recentes ocorridos no contexto político e económico mundial. Comecemos por exemplo com a análise ao caso português da configuração do nosso comércio externo e da nossa abertura ao exterior. As importações nacionais representam cerca 42% do PIB quando as exportações representam cerca de 32%. Aqui reside o desequilíbrio da nossa balança comercial mas também daqui resulta a prova da nossa abertura ao exterior e a dependência do país aos fenómenos políticos e económicos ocorridos nos países com os quais nos relacionamos.

Os acontecimentos relacionados com as revoltas populares recentemente ocorridos na Tunísia e agora no Egipto, reflectindo a insatisfação das populações com a situação económica e social vivida nos seus países, que teve reflexos imediatos nos países circundantes como o Sudão, o Iémen, a Jordânia ou a Síria serão o quê se não o resultado do fluxo de informação conduzido através do fenómeno da globalização? E para todos aqueles que pensam que a globalização trata ou diz respeito essencialmente a fenómenos de natureza económica, aqui temos um exemplo da globalização política.

E quanto ao poder das redes, o recente episódio vivido com as recentes divulgações de documentos supostamente confidenciais pela Wikileaks, que atingiram não só a diplomacia americana mas, entre muitas outras, a portuguesa, não representará o poder das redes sociais? E todas as manifestações de apoio e projecção, através destas redes, ao seu fundador? Não serão a prova da verdadeira força das redes sociais no fenómeno da globalização?

Não terá sido a força das redes sociais a levar a que a empresa portuguesa Ensitel através do facebook tenha acabado por pedir desculpas públicas a um seu cliente, após ter apresentado queixa em Tribunal (retirada depois) contra este, pelo facto do mesmo cliente a ter difamado através do seu Blog pessoal por um mau serviço prestado?

É certo que Portugal deve rumar a outros mercados para além da Europa, já o afirmei também inúmeras vezes. O Brasil e os países Lusófonos, uma parte da América Latina e ainda o Magrebe, após a estabilização social. Não estarei tão certo quanto à fraqueza ou quanto ao mito da globalização.