Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quarta-feira, dezembro 22, 2010

A EDUCAÇÃO COMO VECTOR DE EFICIÊNCIA, PRODUTIVIDADE E COMPETITIVIDADE (Final)


5. O CONHECIMENTO EM ECONOMIAS FECHADAS

A história económica dos países menos desenvolvidos tem provado que o nível de salários muito baixos dos profissionais de elevados conhecimentos (cientistas, peritos informáticos, engenheiros, cirurgiões ou académicos) resulta do facto destes países serem (ou terem sido durante muito tempo) fechados ao exterior. Em economias pobres e fechadas como o foram a India e a China e é ainda a Coreia do Norte ou Rússia por exemplo, os níveis de rendimento dos seus profissionais de topo são enquadrados no padrão de desenvolvimento da sua economia. Aqui a Rússia será a excepção. Por isso, em países pobres, teremos salários pobres.

Este fenómeno afecta o preço da mão-de-obra em termos internacionais uma vez que os cérebros de países como a Índia ou a China, pela sua quantidade, mobilidade e disponibilidade, estão dispostos a trabalhar noutra qualquer parte do Mundo por salários bastante mais baixos mas maior reconhecimento social ou qualidade de vida.

Estes conhecimentos são um activo transaccionável nos mercados internacionais, pelo que, poderão, no futuro, ser nivelados com os salários dos cientistas americanos ou europeus.

4ª Conclusão: Um elevado nível de educação e conhecimento, trará, com toda a probabilidade no futuro, melhores rendimentos e consequentemente um melhor nível de vida a quem os possui, com o impacto a médio e longo prazo na sociedade onde estes se inserem. Se a nação for fechada ao exterior, o percurso do desenvolvimento e do aumento do nível de vida será mais demorado. Se for aberta ao exterior, será certamente muito mais curto.

Um exemplo passado

A história da China como nação e o papel que (não) desempenhou nas várias etapas da globalização é prova disso.
Como afirma David Landes em “A riqueza e pobreza das nações”, entre o Império chinês no século XVI “ a indiferença tecnológica corria lado a lado com a resistência à ciência europeia”. A China que neste século era conhecida como o Império Celeste, vivia como sendo o centro do universo, sofria no entanto de uma “xenofobia intelectual”, que a fechou ao mundo e lhe fez perder definitivamente a oportunidade de entrar na era da globalização. Faltava à China desse tempo, afirma Landes, “instituições de pesquisa e ensino, escolas, academias, sociedades doutas, desafios e competições. A Europa deixou a China, fechada ao mundo, muito para trás, durante décadas e séculos”.

6. O SISTEMA AMERICANO

O sistema de educação norte americano proporciona grandes oportunidades a quem as quiser aproveitar. Os EUA são um país que promove e apoia a inovação, a iniciativa privada, a criação e desafia o risco. Em suma, promove a competitividade.

Conforme afirma Thomas L. Friedman em “ O Mundo é Plano”, as universidades americanas, com inúmeros departamentos de investigação “ incentivam a expansão de experiências, inovações e progressos científicos competitivos – desde a matemática à biologia, passando pela física e pela química”.

O mesmo livro faz referência a afirmações de Bill Gates, o cérebro criador da Microsoft, segundo as quais “o sistema universitário americano é o melhor”, diz ele que “Financiamos as nossas universidades para fazerem investigação... damos a possibilidade a pessoas que aqui chegam com elevados Q.I.’s de inovarem e transformarem as suas inovações em produtos. Recompensamos quem arrisca. O nosso sistema universitário é competitivo e experimental... Existem cem universidades a contribuir para a área da robótica. E cada uma delas diz que a outra está a fazer tudo errado. É um sistema caótico mas é um grande motor de inovação no mundo e com as verbas provenientes do imposto federal, com alguma filantropia a ajudar, continuará a florescer...”.

Só para dar alguns exemplos, basta referir que o browser web, o sistema de imagem por ressonância magnética ou a fibra óptica, foram projectos de investigação desenvolvidos nas universidades americanas. Mas como já antes foi referido o sistema americano tem usufruído da riqueza intelectual de países como a India em virtude da imigração de cientistas verificada nas últimas décadas. Segundo ainda o artigo do economista Viassa Monteiro publicado no Expresso em 5 de Agosto de 2006 “ 40% das empresas de Silicon Valley são dirigidas por indianos e as exportações de software indiano para os EUA representam mais de 50% das exportações totais daquele país”.

Mas o sistema americano é muito mais do que isto. Segundo o Institute of International Education, Os EUA têm em vários Estados, centros tecnológicos para o desenvolvimento da ciência e tecnologia que apostam nas empresas que desenvolvem tecnologia de ponta, através do investimento em capital dirigido a potenciar as novas ideias, sejam elas start ups, micro empresas ou multinacionais. Têm também o maior, mais desenvolvido e regulamentado mercado de capitais do mundo, o qual, de forma eficiente, permite que o investimento em empresas inovadoras, flua através de mecanismos como o capital de risco. A tudo isto há que adicionar a própria filosofia vigente da investigação contínua, desenvolvida pelas universidades e laboratórios de investigação públicos e privados, que, em ligação com as empresas, tornam os EUA naquilo que são hoje em termos de inovação e conhecimento.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

A EDUCAÇÃO COMO VECTOR DE EFICIÊNCIA, PRODUTIVIDADE E COMPETITIVIDADE


4. A QUESTÃO DA FUGA DE CÉREBROS

Com a problemática da globalização, muito se tem debatido sobre a questão da fuga de cérebros, a qual ocorre, em especial, dos países menos desenvolvidos (ou menos ricos) para os países mais avançados (ou de maior poder económico e empresarial). Em países como a India ou a China com elevados recursos em pessoas de elevada formação e aptidão técnica e com elevados conhecimentos de engenharia, ciências, matemática ou administração de empresas, o mundo torna-se global. E isto implica que as multinacionais americanas ou europeias, podem, por exemplo, contratar e empregar funcionários indianos ou chineses, pela via da sua expatriação ou, de forma diferente, empregando-os nas suas filiais em Bangalore, Xangai ou Pequim. E aqui já estamos a falar do fenómeno da deslocalização de actividades. Fenómenos também conhecidos pelo outsourcing e offshoring respectivamente.

Há quem defenda que este fenómeno tem implicações negativas, no curto/médio prazo, ao nível do emprego nos países de origem destas multinacionais. Porque pela via do fenómeno da globalização, os empresários e os accionistas das grandes empresas podem (preferem?) certamente ter meia dúzia de brilhantes investigadores ou cientistas na India ou na China pelo preço de um na Europa ou nos EUA. Isto poderá provocar alguma perda de competências nos países de origem ou, visto de outra forma, provocar mais desemprego junto dos cientistas e investigadores nacionais, por maior recurso à mão-de-obra indiana ou chinesa disponível (e com maior mobilidade) mais barata, de elevada competência e capacidade competitiva.

Este tema reporta-nos ao problema da fuga dos mais capazes também em Portugal. Como é sabido assistimos há alguns anos a um contínuo fluxo migratório de profissionais, jovens, de elevadas capacidades técnicas, conhecimentos de elevado nível, elevada especialização e competência técnica, para países onde existem mais e melhores oportunidades, em primeiro lugar de emprego e depois de carreira. Os jovens cérebros portugueses estão também a aproveitar o fenómeno da globalização e a sua maior mobilidade pessoal, para se transferirem para países que oferecem melhores salários, condições de trabalho de melhor nível e melhor qualidade de vida, para além de um reconhecimento que não é obtido no seu próprio país.

Este fenómeno para além do impacto social e económico negativo que pode representar na criação de valor nacional, representa também um fenómeno de natureza demográfica, uma vez que muitos jovens sentem que o país não os trata adequadamente, antes preocupando-se de forma excessiva com as gerações mais velhas, deixando para segundo plano os planos de carreira e contribuição das gerações mais jovens para a construção de um país mais coeso, justo e competitivo.

3ª Conclusão: Aqui reside um dos factores que, segundo alguns economistas e analistas sociais, tem, no caso português, a sua quota parte no contributo para a falta de competitividade do nosso país (embora não se conheça nenhum estudo que prove a relação directa entre estes fenómenos): a fuga de cérebros nacionais, indispensáveis à difusão do conhecimento e da excelência.

sábado, dezembro 11, 2010

A EDUCAÇÃO COMO VECTOR DE EFICIÊNCIA, PRODUTIVIDADE E COMPETITIVIDADE


3. O CASO DA CHINA


Segundo alguns investigadores, a estratégia da China a longo prazo é tornar-se líder mundial em termos económicos , ultrapassando os EUA e a UE. Para tal terão começado bem uma vez que a meta dos líderes chineses é focalizarem-se, muito mais até que alguns líderes ocidentais, na formação e educação dos seus jovens em matemática, ciências e informática, matérias que consideram indispensáveis para o sucesso e afirmação no futuro. Estão também concentrados na criação de boas plataformas físicas de telecomunicações de modo a estarem conectados com o resto do planeta e captarem o interesse dos investidores internacionais. A riqueza gerada na China atingiu 14% do total mundial em 2003, o seu PIB de 1,4 mil milhões de USD foi nesse ano o sétimo em termos mundiais.

Segundo um estudo do Espirito Santo Research, em 2004 foi já a 5ª maior economia do mundo à frente da Itália, esperando-se que seja a 4ª em 2005, à frente da França. Federico Rampini no seu livro “O século chinês” estima que a classe média alta chinesa possa atingir neste momento cerca de 200 milhões de pessoas, ávidas de mercadorias de luxo e produtos e serviços financeiros mais sofisticados. Um número de cerca de 100 milhões de jovens chineses, desta classe média, anseia por produtos ocidentais.

Por tudo isto, a China é um player a ter em conta no quadro da concorrência internacional.

Tendo como premissa estas preocupações e segundo um estudo americano (U.S. Conference Board) citado por Thomas L. Friedman no seu livro “ O Mundo é Plano”, o sector industrial privado chinês fora do controlo estatal, registou entre 1995 e 2002 um crescimento de 17% ao ano, resultado da absorção de novas tecnologias e da adopção de modernas práticas empresariais.

Claro que a manutenção ou continuidade deste crescimento estará dependente da estabilidade política que o país conseguir manter ou confirmar no futuro, quer em termos internos quer nas relações com países circundantes como Taiwan.

2ª Conclusão: Mais uma vez o factor educação e formação surge aqui como determinante para o crescimento económico e competitividade, quer no impacto que tem na actividade económica, no contexto social, empresarial, ou ainda como factor de ajuda e contribuição para a captação de investimento exterior (pela maior confiança que representa para os investidores, um país de pessoas cultas, bem formadas, de elevados conhecimentos tecnológicos). Mas, no caso chinês, o desenvolvimento e a competitividade dependem também da existência de estabilidade política, de um adequado sistema de justiça quer no campo social quer no campo empresarial, bem como de uma politica que privilegie a igualdade social.

terça-feira, dezembro 07, 2010

A EDUCAÇÃO COMO VECTOR DE EFICIÊNCIA, PRODUTIVIDADE E COMPETITIVIDADE


2. MAS A REALIDADE ECONÓMICA E SOCIAL DA INDIA...

Se é um facto que a Índia desenvolveu um enorme esforço, com sucesso, na criação de cérebros brilhantes e pessoas de elevados conhecimentos e potencial criativo, o facto é que o desenvolvimento de um sistema de educação e ensino voltado para a excelência, sendo fundamental para o desenvolvimento, não é condição suficiente. Apesar dos IIT´s e dos IIG´s, apesar do crescimento do conhecimento, apesar das melhorias na formação, a Índia é ainda um país subdesenvolvido. Factores políticos, sociais, ambientais, demográficos e outros, contribuem, como se sabe, para o baixo nível de desenvolvimento registado. Numa população de mil milhões de pessoas, há muitos pobres e grande desigualdade social. O fosso entre ricos e pobres é muito grande.

A Índia é um país de contrastes. Segundo um artigo no Diário Económico de Rahool Pai Panandiker – consultor da BCG, o país tem 23 bilionários na lista Forbes mas ao mesmo tempo 35% dos pobres do Mundo, isto é, mais de 350 milhões de pessoas (quase a população total da Europa a 15) – que auferem menos de 80 cêntimos por dia.
É um dos maiores produtores mundiais de trigo e arroz, mas 47% das crianças sofrem de subnutrição.
Os seus 3 estados mais ricos têm um PIB per capita de 1.200 € a que corresponde 200 € nos estados mais pobres.
Tem 17.000 universidades e faculdades e no entanto 13 milhões de crianças não vão à escola.

É certo que as grandes conquistas no que diz respeito ao crescimento verificado na educação e conhecimento obtido nos últimos 50 anos, contribuíram positivamente para a economia e sociedade indianas e os conhecimentos ao nível da administração de empresas tiveram um papel importante na melhoria de franjas do tecido empresarial. Contudo os reflexos deste esforço são ainda muito ténues no crescimento e desenvolvimento do tecido empresarial e muito poucos ainda usufruíram destes impactos positivos. No entanto, na Índia de hoje, há já fenómenos de democratização recentes, como um conjunto significativo de ONG´s que trabalham no sentido reduzir as desigualdades sociais, procurando influenciar os governos locais para uma melhor governação, chamando a atenção para a corrupção, laxismo e fuga fiscal. Estas organizações procuram, em conjunto com os poderes locais, trabalhar para uma distribuição da riqueza de forma mais igualitária, melhorar o sistema público de educação, saúde, saneamento básico, abastecimento de água ou justiça.

Mas apesar do percurso seguido pela Índia no que diz respeito à aposta no conhecimento, nas ciências e na alta tecnologia, estas áreas têm ainda um reduzido impacto na criação de emprego neste país. Um valor que se situa entre os 1% e 2% do total do emprego. Há ainda um longo caminho a percorrer.

A 1ª conclusão que podemos retirar deste exemplo é que, se é verdade que a educação, a formação e o conhecimento, são essenciais para o crescimento, desenvolvimento e competitividade, não são por si só suficientes para atingir tal desiderato. A Índia continua a ser um país pobre em muito devido aos factores de natureza demográfica. Certamente que a Índia é hoje um país mais produtivo e competitivo do que era há 50 anos, antes da criação deste Institutos e da formação desta classe de cientistas. No entanto o caso da Índia é paradigmático: tal grau de exigência na admissão dos futuros licenciados, na sua formação e qualificação, mas sem uma estratégia e esforço na sua retenção, levaram à grande fuga de cérebros para os EUA, daqui resultando que o investimento em capital humano pago pelos contribuintes indianos, constituiu um esforço inglório dado que estes activos foram colocar os seus conhecimentos em benefício de outra nação.

domingo, dezembro 05, 2010

A EDUCAÇÃO COMO VECTOR DE EFICIÊNCIA, PRODUTIVIDADE E COMPETITIVIDADE


Agora que estamos em vias de encerrar o nosso Paper sobre a Educação na sequência do Workshop realizado no ISCTE, dou início à apresentação por partes de um conjunto de reflexões que fazem parte de um artigo cujo tema é “A educação como vector de eficiência, produtividade e competitividade”.


1. O EXEMPLO DA INDIA

A India é muitas vezes designado como um país de cérebros ou de “software intelectual”. Não é pouco comum falar da India simbólicamente como a origem do software mundial. A história deste país no campo académico surge a partir de 1951 quando o primeiro ministro na época, Jawaharlal Nehru, lançou o primeiro dos futuros 7 Institutos Indianos de Tecnologia (IIT). Esta iniciativa permitiu que desde então e nos 50 anos seguintes, centenas de milhares de indianos viessem a frequentar inúmeros cursos universitários e se formassem nos ramos das ciências da computação, engenharia e software. Por outro lado a criação de seis Institutos Indianos de Gestão (IIG) onde se ensina administração de empresas, permitiu que centenas de milhares de jovens tivessem acesso livre a um elevado e ímpar nível de conhecimentos e desenvolvimento pessoal assentes na meritoracia. A India transformou-se assim numa enorme fábrica de capital humano de elevado potencial e conhecimento passando a ser um exportador de talentos ao nível das ciências, matemáticas, engenharias e administração de empresas.


Segundo o economista Viassa Monteiro num artigo publicado no Expresso de 5 de Agosto de 2006, a India possui uma mão de obra altamente qualificada composta por cerca de “3 milhões de cientistas dos variados ramos do saber. Graduam-se actualmente, em estudos superiores, 3 milhões, dos quais 300.000 em engenharia e 200.000 em cursos técnicos”.

Não sendo, por razões políticas e sociais, um país atractivo para trabalhar e reter os seus cérebros, daqui resultou uma grande vantagem para um outro país, os EUA. Estes foram os compradores de uma enorme massa cinzenta talentosa, com elevado nível de instrução. Segundo Thomas L. Friedman no seu livro “ O Mundo é Plano”, nos últimos 50 anos perto de 30 mil licenciados das melhores escolas indianas transferiram-se para os EUA para trabalhar e desenvolver as suas carreiras e conhecimentos, o que contribuíu para enriquecer o saber, a inovação e o conhecimento na América.

Segundo fontes jornalísticas nacionais, há na índia 7,7 milhões de profissionais nas áreas tecnológicas e científicas, dos quais 970 mil são engenheiros licenciados. No entanto a fuga para o exterior é ainda elevada. Até 1977 cerca de 35% dos estudantes dos IIT iam para o estrangeiro. Hoje apenas 15% dos cérebros o fazem.

Segundo ainda Thomas L. Friedman no mesmo livro e citando o The Wall Street Journal de 16 de Abril de 2003, referindo-se à qualidade dos Institutos Indianos de Tecnologia e ao nível de excelência e exigência na admissão dos mesmos, através do testemunho de um estudante Indiano, dizia este que “ Não havia forma de subornar a entrada num IIT... Os candidatos apenas são aceites se passarem num difícil exame de admissão. O governo não interfere com o currículo e a carga horária é exigente... Embora seja discutível, é mais difícil ser admitido num IIT do que em Harvard ou no MIT...”.