Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quinta-feira, julho 29, 2010

D.Afonso Henriques - 1º. Rei de Portugal


Muito se tem falado ultimamente sobre o 1º Rei de Portugal, o Conquistador, Fundador da Nacionalidade. Coimbra e mais recentemente Viseu pretenderam disputar a sua proveniência, mas a História prevaleceu apesar de alguns historiadores, chegando mesmo a envolver a respectiva Academia, escondendo jogos de interesses pessoais, terem gerado alguma polémica sobre este Rei. Desde a suposição de datas históricas à deturpação de declarações de historiadores consagrados, nomeadamente do Prof. José Mattoso, tudo aconteceu, na tentativa de chamar a si tão ilustre personagem. Porém, e para que constasse, o próprio Prof. José Mattoso veio a terreiro desmistificar o significado das suas declarações e afirmar, de uma vez por todas, que a História é soberana, que houve uso indevido e deturpado das suas afirmações e que não há dados e/ou factos que justifiquem qualquer alteração relativa ao nascimento de D. Afonso Henriques e que, por conseguinte, face à tradição histórica, Guimarães é o Berço da Nação. Coloca assim um ponto final na polémica e deixa em maus lençóis determinados historiadores que quiseram chamar a si algum protagonismo, mas que, para mal dos seus pecados, ficaram bem mal vistos perante a comunidade. É um facto que os seus pais viveram em Guimarães, aí nasceu Afonso, mais tarde Rei de Portugal e aí criou raízes e rumou à conquista de novos territórios, vindo, mais adiante, a fixar-se em Coimbra, onde veio a ser sepultado, deixando-nos como legado a responsabilidade desta Nação.

Esta nota introdutória apenas visa enaltecer a importância desta figura ímpar, o nosso 1º Rei, o Fundador da Nacionalidade, Patrono do Exército Português. Assim, face à desmotivação e apatia que este povo vem denotando, seria importante recordar o nosso passado histórico e que qualquer português que se preze pudesse visitar o túmulo daquele que foi o seu principal obreiro, quiçá como fonte de inspiração.

Porém a realidade é outra, diria mesmo confrangedora e passo a explicar. Recentemente desloquei-me a Coimbra e obrigatoriamente visitei a Igreja de Santa Cruz, onde repousam os restos mortais desta venerável figura. Deparei com a celebração de uma missa, em italiano, destinada a um grupo de visitantes italianos que ali se deslocaram e que, após o referido acto religioso, foram visitar a Igreja, a sua sacristia, os claustros e pasme-se ... o túmulo de D. Afonso Henriques, junto ao altar, ninguém o visitou, não por despeito ou desrespeito, mas porque este está situado atrás do altar, meio escondido, em mau estado de conservação (como ilustra a imagem que junto) em que a única coisa que se vislumbra é uma tímida lápide, em latão, no chão, em que se pode ler "Homenagem do Exército Português ao seu Patrono". Nome? Referências históricas? Nada!! 1 ou 2 turistas, vendo-me a olhar com insistência o túmulo, perguntaram-me quem era. Tive vergonha e estive para ficar calado, mas disse : é o 1º Rei de Portugal, Fundador da nossa Nacionalidade e rapidamente me apercebi da expressão de surpresa estampada nas suas caras. O que pensaram? Não mo disseram, mas não será difícil adiantar que esperavam que um povo tivesse mais respeito e consideração pelo seu 1º Rei. Claro, esperavam, tal como eu, que D. Afonso Henriques tivesse um espaço mais digno e condizente com a sua importância. Será que em Itália tratam assim a figura MAIS IMPORTANTE da sua História? Duvido, mas basta verificar aqui bem perto, na nossa vizinha Espanha, para nos apercebermos da diferença.. D. Afonso Henriques merecia mais consideração. Pobre país este que trata assim a sua História! Onde estão as entidades públicas com responsabilidades nestas áreas? O IPPAR? A Assembleia da República? O Ministério da Cultura? O Presidente da República? Parece que renegamos o nosso passado e depois pedem-se esforços a uma Nação para que, com inspiração no seu passado, ultrapasse a crise? No mínimo é paradoxal e demonstra a (in)capacidade intelectual dos nossos governantes.

É importante dignificarmos as nossas figuras ilustres para que sirvam de exemplo, em situações delicadas da nossa existência, para nos colocarmos à altura da nossa História. A importância atribuída a Amália Rodrigues e mais recentemente o relevo dado à morte de José Saramago, como único prémio Nobel da Literatura Portuguesa, num e noutro caso a ênfase e preocupação de onde repousariam os seus restos mortais, como algo fulcral e da máxima importância para o país, inclusivé as reclamações/manifestações pela ausência do Presidente da República no funeral de José Saramago, podem até ser justificadas, mas, sem menosprezo por essas figuras ilustres, nenhuma se pode comparar em grandeza e dimensão a D. Afonso Henriques. Onde estão essas vozes indignadas, preocupadas com o respeito pelas figuras da nossa História? Serão genuínas ou simplesmente manifestações de vaidades pseudo intelectuais? É pois tempo de acordar, não é a selecção nacional de futebol que levantará o ânimo dos portugueses, o seu êxito, por muito importante que seja, é passageiro. Nós necessitamos de algo mais duradouro, mais profundo, que vá às nossas raízes, que invoque as nossas origens, em suma o nosso passado histórico e, nesse sentido, quem melhor o simboliza? Sobretudo, agora que tanto se fala de empreendedorismo, qual terá sido o nosso maior empreendimento como povo? Quem foi o seu principal mentor?

É pois tempo de tratar de arranjar uma MORADA CONDIGNA a D. Afonso Henriques, afinal de contas é só o nosso 1º Rei, Fundador da Nacionalidade.

1 comentário:

Mário de Jesus disse...

Quando menosprezamos o nosso passado, desconhecemos os nossos herois, renegamos a influência que de alguma forma tiveram naquilo que hoje somos como sociedade e esquecemos as suas obras, vivemos alheios e perdidos no presente e sem rumo quanto ao futuro.