Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quarta-feira, maio 05, 2010

Frente-a-Frente vs Lado-a-Lado

Por razões pessoais tenho estado bastante limitado em termos de tempo disponível para dar o meu pequeno contributo no nosso blog.
Coincidiu este período com o “zapping” que pude fazer entre alguns canais como a Sic Notícias, a TVI 24 e a RTPN, entre outros que, confesso, não fazia a ideia que eram tantos e a dedicar tanto tempo aos chamados frente-a-frente em que se confrontam ideias diferentes.

O confronto de ideias diferentes é algo de bastante positivo se o ponto de chegada for relevante mas parece estar aqui um grande problema.
Nas centenas ( milhares ) de minutos em que se confrontam ideias, a ideia é apenas a confrontação “pura e dura” em que não parece haver nenhuma vontade de entender o ponto de vista do “opositor”.
Este não é quanto a mim um bom caminho, pois deixamos continuamente passar oportunidades de construir algo de bom, partindo dos pontos de vista e contributos relevantes dos vários intervenientes de um debate.
E não sei se é por estar um pouco mais atento mas nunca vi tantas opiniões diferentes sobre uma realidade que deveria ter mais pontos comuns.
O nosso colega Mário colocou recentemente 2 artigos que merecem receber comentários e contributos dos leitores do nosso blog pois dizem respeito ao nosso país e à nossa Europa, ou seja os artigos “A Estratégia de um País que é o nosso” e “Uma Europa mais unida”.
Naturalmente o Mário, como eu ou qualquer outro cidadão ou qualquer outro fresiano, preocupado com o país e a Europa em que vivemos, indica o que na sua perspectiva é mais relevante.
O grande desafio é tentar juntar este puzzle gigantesco em que a cada cabeça corresponde uma sentença. Não somos nós que tomamos as decisões relevantes para os destinos do país. Sonhamos em dar o nosso contributo de uma forma relevante, mas até esse percurso não é pacífico.
A situação torna-se mais confusa quando vemos os grandes “actores” a tomarem posições tão diferentes, tornando quase imperceptível entender o que é de facto mais importante.
Veja-se um exemplo simples. A ajuda da união europeia à Grécia.
Ninguém “perde” tempo a explicar à população que Portugal tem obrigações a nível europeu e tem de dar o seu contributo na ajuda à Grécia, contributo esse que embora bastante elevado na actual conjuntura, é relativamente pequeno face ao que outros países têm de dar. Mas a mensagem que passa para o cidadão da rua é que Portugal não tendo dinheiro ainda vai ter de dar dinheiro à Grécia.
Se não houver tempo e capacidade para se explicar aos cidadãos o que significa viver em sociedade e o que significa estar integrado na união europeia, passaremos a vida a ver serem-nos exigidos sacrifícios. E como ouvi recentemente outra fresiana dizer “ Nós funcionamos melhor quando vemos utilidade no nosso esforço”.
Eu sempre assumi a posição de que mais vale lutar lado-a-lado do que frente-a-frente.
Esta posição pode ser encarada como cobardia e medo do combate, embora eu sempre a tenha privilegiado por pensar primeiro no interesse comum. E qual é actualmente o nosso interesse comum?

Haverá de facto um interesse comum, ou teremos apenas em comum o facto de cada um defender o seu interesse ?

2 comentários:

Henrique Abreu disse...

Um excelente ponto de vista ...

Mário de Jesus disse...

Gostei imenso da reflexão.

De facto aí temos a prova desde ontem (mais fresco e mais recente não poderia ter sido) e um exemplo desta nossa Europa a lutar, como designas, lado a lado em vez de frente a frente.

A constituição de um Mega Fundo qual conta caução) de 750 mil milhões de EUR, constituído com o objectivo de:

- defender e reforçar a importância e o peso da nossa moeda euro"

- mostrar aos mercados financeiros um grau de solidariedade, solidez e uma ideia clara de que esta Europa é solidária quanto se tiver que o ser pois permitirá ajudar um qualquer outro país que venha a necessitar de ajuda

- demonstrar que o projecto europeu faz sentido e que, apesar das divergências, provavelmente "é maior o que une os países membros do que aquilo que os separa"

Verificámos que os mercados reagiram ontem positivamente a esta notícia de forma eufórica (a bolsa nacional cresceu a uma taxa nunca antes vista de 11%) e as restantes bolsas europeias seguiram a tendência.

Hoje já descem. Ontem havia confiança para hoje haver receio...

De facto é muito dificil encontrar a racionalidade nos mercados financeiros pois serão tudo menos racionais.