Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sábado, dezembro 05, 2009

A 19ª Cimeira Ibero - Americana. E Portugal?


Realizou-se no Estoril, em Portugal, no passado dia 30 de Novembro e dia 1 de Dezembro, a 19ª Cimeira Ibero-Americana.

Tive a oportunidade de acompanhar um pouco dos trabalhos e a forma, até algo informal e em directo, em como decorreram alguns trabalhos e como se tomaram algumas decisões e negociações.

Observo em simultâneo o mapa mundo e a localização dos países ibero-americanos e interpretando e reflectindo sobre as relações económicas entre Portugal e estes países. O potencial de cooperação, de comércio internacional, de crescimento de negócios com vantagens mútuas do ponto de vista económico entre todos os países participantes, são imensas. A posição geo-estratégica de Portugal como porta da Europa poderá ser essencial para virmos a desempenhar um papel fundamental na relação com estes países. Portugal não soube aproveitar ainda as oportunidades que a integração económica com estes países lhe pode proporcionar nem a riqueza de uma língua que, ainda que sendo diferente, pode ser no entanto considerada como uma lingua irmã.

Sempre defendi a adopção de uma política estratégica internacional desenvolvida através de Portugal (como eixo central) para a América Latina (em especial com o Brasil) com a Europa Comunitária onde estamos integrados não só geográficamente mas como membros de pleno direito, reféns em parte de uma política económica (e dependência financeira) quase comum, e tendo como terceiro eixo a África Lusófona.

Este terá que ser o caminho. Disse-o e escrevi-o em alguns artigos publicados 2003 após ter assistido a uma conferência em Portugal onde esteve Lula da Silva e depois de desempenhar funções profissionais no contexto da África Lusófona sendo esta hoje uma ideia defendida por muitos.

A relação com o Brasil e com a Venezuela não são de hoje, vêm de há muitas décadas e muito antes de se falar da integração de Portugal neste eixo e do advento da globalização.

Este é um tema estratégico que nos pode favorecer como país, se o aproveitarmos com visão de futuro.

Gostaria de salientar que mantenho a convicção, tal como em 2003, que parte do nosso caminho de futuro se deve direccionar para o Brasil.

É verdade que o Brasil pouco precisa de Portugal. Mas precisa. Revejamos os investimentos importantes de Grandes Grupos Empresariais Nacionais como a PT, a Cimpor, o Grupo de Pereira Coutinho (SAG) o Grupo Espírito Santo, ou a família Champalimaud ou Pestana. Estes fazem parte dos grandes investimentos estrangeiros no Brasil, os quais o Brasil agradece. Ainda por mais falando português que mais vantagens lhes trará em termos da criação de emprego local. E estes mantêm-se com sucesso.

Relembro o que disse muito recentemente Paul Krugman, o americano Prémio Nobel da economia do ano passado: desconfia da pujança actual do país (não é o meu caso) quando afirma que o perigo está eminente uma vez que "os investidores estão a gostar demasiado do Brasil" - SIC.

Mas sendo o líder mundial na produção de petróleo em águas profundas, o Brasil descansa hoje sobre uma almofada confortável para os próximos anos (mas não sabemos quantos), em especial se considerarmos que as jazidas futuras de petróleo estão, a maioria delas e das maiores, em águas profundas. Isto para não falar do café, do gado ou do açúcar onde são igualmente líderes mundiais. Como eu, sei que tu também atribuis à língua um dos mais altos valores/activos de uma Nação, como é o caso da nossa, em especial o da nossa, falada por 200? milhões de pessoas. Esta é sempre a mais forte âncora entre dois ou mais países.

Falando da Venezuela, diria o seguinte: Portugal não apresenta relações comerciais de qualquer significado com o Paraguai, o Uruguai, a Argentina, o Chile ou a Bolívia, para referir apenas alguns exemplos de países da América Latina. Porém o mesmo não se aplica à Venezuela, e de que maneira: importamos há décadas petróleo em grande quantidade.

A Venezuela não começa nem acaba com Hugo Chavez. Se é verdade que hoje é um país refém de uma espécie de ditadura moderna, o país não se confina à realidade de hoje mas também à de ontem e do amanhã. Chavez passará e o movimento de nacionalizações acabará. Assim os Venezuelanos acordem a tempo. O que importa é manter boas relações com o mundo empresarial que darão certamente frutos no futuro. Conheço (poucos é verdade) casos de empresas portuguesas que têm parcerias com empresários locais e que há 10 anos fizeram um bom trabalho no país, que estão hoje a ser de novo chamados para novas parcerias, novos trabalhos e novos projectos. Não se esqueceram de quem trabalhou bem! É disto que falo. Semear hoje para colher amanhã. E acredito que o caminho estará por aí.

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