Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sábado, setembro 19, 2009

Criação / Dissolução de Empresas

Esta semana tivemos a notícia de que Cinquenta mil empresas forma dissolvidas em 12 meses.
Gostaria de analisar esta notícia sobre 4 dos seus distintos pontos:
Ponto 1
A falência atingiu 50 583 empresas entre Agosto último e o igual mês de 2008. No mesmo período, constituíram-se 33 665. Contas feitas, Portugal perdeu 16 918 empresas. Indústrias com custos fixos elevados terão sido as maiores vítimas.
Por cada 10 empresas que vêem o seu fim decretado nos tribunais, há 6,7 sociedades que nascem no mercado. Representando o Norte 31% do tecido empresarial, a região contabilizou, só em Agosto último, 33,5% das constituições de sociedade e 22,2% das falências. A região de Lisboa e Vale do Tejo, com um peso de 33,5% no tecido empresarial, destacou-se no último mês com 33,3% das novas sociedades constituídas e 36,7% das dissoluções.
"Os sectores retalhista e grossista (366 dissoluções em Agosto), bem como as indústrias transformadoras (121), são muito penalizadas. Os grossistas e retalhistas são vítimas do aumento de escala das grandes cadeias. A indústria transformadora compreende-se porque é aquela que tem mais custos fixos, quando comparada com os serviços. Quando as vendas caem, é fácil as indústrias entrarem no prejuízo", afirma João Carvalho das Neves, professor do ISEG.
Por outro lado, uma análise simplista indica que 50000 empresas fechadas – 33000 empresas criadas, representa uma perda de 17000 Empresas.
Não levamos aqui em consideração 2 dados importantes: qual o volume de negócios e qual o nº de empregados, quer das empresas que faliram, quer das que foram constituídas ( nestas o volume de negócios terá de ser naturalmente previsional ).
Isto porque uma criação negativa de empresas pode não ser necessariamente mau, pois podemos estar em face de encerramento de empresas com baixos volumes de negócios e reduzido numero de empregados, ou talvez não.

Ponto 2
"Os governos têm muita preocupação em manter empresas que não tem viabilidade. Só servem para prejudicar a concorrência, praticam preços desvirtuados e entram em atrasos nos pagamentos. A dissolução de empresas tecnicamente falidas é melhor para a economia", considera o professor do ISEG.
Aqui vem de novo à baila a dicotomia razão vs coração, sendo talvez hora de ponderar mais a sério se se deve manter indefinidamente empresas economicamente inviáveis.

Ponto 3
"Os credores deviam ter muito mais poder para recuperar os activos. Nós tínhamos um Código de Insolvência muito bom e que os advogados e juízes conheciam bem. Fizeram tudo de novo e só veio trazer mais dificuldades. As alterações foram prejudiciais", critica João Carvalho das Neves.
Este é outro problema pois quando as empresas não são capazes de solver os seus compromissos, os activos disponíveis são em regra bastante inferiores aos passivos e muitos dos fornecedores acabam por não recuperar os seus valores criando um efeito “bola de neve” pois A não paga a B, B não tem dinheiro para pagar a C e assim por diante.

Ponto 4
O Professor João Carvalho das Neves alerta também as novas empresas para o facto de os níveis de custos terem de estar adaptados à potencial procura.
Isto significa entre outras coisas que as empresas têm de ser cada vez mais rígidas na contratação de pessoal, parcela que representa em muitas empresas uma importante percentagem de todos os custos operacionais.

Em resumo percebe-se que a criação de empresas e de emprego é algo cada vez mais complexo.
O desejável seria que as empresas tivessem maiores longevidades mas num mundo onde todas as mudanças, inclusive as económicas, são cada vez mais rápidas, até a longevidade das empresas é posta constantemente em causa, o que acaba por criar outros níveis de instabilidade, exigindo de todos, patrões e empregados, uma abordagem necessariamente diferente.

2 comentários:

Mário de Jesus disse...

Discordo num ponto: as empresas têm que ser cada vez menos rígidas na contratação de pessoal e não o contrário.

A rigidez do mercado de trabalho é aliás a razão apontada por muitos economistas (e pelas instâncias internacionais como a OCDE) para o nível de desemprego ou emprego precário.

Importa daqui reter o relevante rejuvenescimento do tecido empresarial português. Não é necessáriamente mau fecharem muitas empresas se tantas outras abrirem.

A probabilidade é que poderá certamente morrer uma empresa obsoleta e nascer uma inovadora.

O problema está na criação de emprego, o qual será mais lento e demorado dificilmente contrariando o ritmo daqueles que caem no desemprego de forma abrupta.

Otavio Rebelo disse...

Mário, a expressão rígidas na contratação quer sobretudo dizer criteriosas pois as empresas não podem contratar para de seguida não conseguirem cumprir com as obrigações salariais e restantes. A Rigidez do mercado de trabalho é algo mais amplo e tem a ver com as condições de contratação e despedimento que nunca são do agrado de todos.

Outra questão muito importante é que as empresas que encerram e "enviam" para o desemprego trabalhadores com mais de 40 anos de idade, estão muitas vezes a assinar a "sentença de morte" desses trabalhadores pois pessoas que têm 40 ou 5o anos de idade, ainda deveriam ter muitos anos de trabalho pela frente mas a verdade é que quase ninguém os quer, independentemente da sua experiência e qualidades profissionais.