Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

segunda-feira, agosto 10, 2009

As Cidades como pólos de desenvolvimento local e regional - I


Aqui damos a conhecer o ponto de vista do FRES através deste trabalho sobre o papel sócio económico e de desenvolvimento que atribuímos às cidades - como pólos de desenvolvimento local e regional. Este artigo foi publicado no Jornal de Negócios, no semanário Vida Económica e nos Cadernos de Economia.


1. O Papel das cidades e as assimetrias

As cidades desempenham diferentes papéis no contexto económico e social de um país, funcionando como pólos de crescimento e desenvolvimento territorial, como modelos de atractividade de pessoas, saberes, cultura, lazer, ciência e conhecimento, mas também como factores de assimetria social e económica em termos regionais ou nacionais. Estas assimetrias são resultado dos diferentes graus de afectação do investimento dedicado ao desenvolvimento do interior.

Sendo muitas vezes uma bandeira do seu país, pelos pontos de interesse e funções que podem desempenhar e projectar internacionalmente (cidades culturais, turísticas, desportivas) as cidades da era moderna são hoje instrumentos de criação de assimetrias regionais mesmo em países pequenos da dimensão de Portugal por via da intensificação de desigualdades sociais que provocam.

Encontramos porém tais assimetrias em países de maior dimensão como por exemplo Espanha ou o Japão, onde assistimos igualmente ao problema da desertificação do interior causado pela migração das populações para as cidades em virtude da procura de melhores oportunidades e condições de vida. É hoje em dia cada vez mais difícil encontrar emprego fora dos grandes centros urbanos uma vez que essa oferta é muito escassa e o fenómeno do crescimento do desemprego tem agravado o problema.


2. A origem e a evolução das metrópoles

O fenómeno do nascimento das grandes cidades surge pela criação e instalação à sua volta das cinturas industriais (fábricas) o que fixou as pessoas do interior tornando-as um foco de criação de emprego, através do fenómeno das migrações.

Estas cinturas industriais foram criando e alargando as zonas semi-urbanas (dormitórios) o que veio provocar a fixação das populações em anéis à sua volta. Mais tarde vem proliferar o fenómeno das cidades satélite, após os movimentos de afastamento das unidades industriais para zonas mais distantes do núcleo urbano ou para parques industriais – quando surgem as novas políticas de desenvolvimento, ambientais e de ordenamento do território. Esse crescimento tornou-se assim contínuo e muitas vezes desordenado.

No contexto da evolução das cidades, temos como referência Rosabeth Moss Kanter, professora americana da Harvard Business School e o seu novo livro “World Class – Thriving Locally in the Global Economy” no qual a autora apresenta o que designa como os “ingredientes da vantagem competitiva das cidades”, com a apresentação da teoria dos três cês ou seja, três activos intangíveis que as cidades devem possuir e saber operar:


i) conceitos - novas ideias e formulações para os produtos e serviços que criam valor para os consumidores;

ii) competências - ideias inovadoras com aplicações para o mercado e que exprimem as melhores práticas e os melhores standards;

iii) conexões – alianças entre negócios para alavancar competências centrais, criar valor acrescentado ou abrir portas para as oportunidades da globalização da economia.

Kanter defende que estes três activos definem formas de “ligação do local ao global”. Segundo a autora, há cidades que se cosmopolitizaram e que “casaram o local com o global” e as que não conseguiram sair da sua paróquia, deixaram morrer as indústrias e os serviços, perderam os quadros e desertificaram-se.

A autora classifica ainda as cidades vencedoras em três vertentes:

* Cidades de conceitos – as pensadoras (thinkers) que se especializam em conceitos e funcionando como ímanes de massa cinzenta e das industrias do saber. Caracterizam-se pela inovação e exportação de conhecimento.

* Cidades laboriosas – as fazedoras (makers) que são competentes na execução em áreas de fabrico e de produção. São locais de atracção para as industrias de manufactura.

* Cidades de conexões – as intermediárias (traders) que se especializam em conexões para concretizar negócios.


3. Factores de competitividade das cidades

São vários os factores que concorrem para a classificação da competitividade de uma cidade em geral e das cidades portuguesas em particular. Quanto a estas últimas, uma das questões que consideramos mais importantes é a existência de um plano estratégico, plano esse que defina uma missão, um rumo ou orientação funcional para a cidade. Há opiniões que defendem que em termos micro (pequenos locais específicos ou actividades) existem alguns planos mas que não são implementados, muitas vezes por pressões vindas de grupos de interesse ou por inconvenientes de natureza política.

Qualquer que seja o plano estratégico de qualquer cidade, este terá que se focalizar em variáveis relacionadas com a qualidade de vida dos habitantes (mais e melhor mobilidade, mais segurança, mais cultura, menores desigualdades sociais, melhor ordenamento do território, melhor burocracia, melhores serviços públicos de transporte ou melhor comércio).

Pela sua natureza, dimensão e importância poderemos questionarmos: terá por exemplo a cidade-capital Lisboa um plano estratégico bem definido para o futuro? Se sim, qual?

Perguntemos aos lisboetas ou aos cidadãos do país como classificam a sua capital: como uma cidade turística? De negócios? Cultural? Financeira? Ou como uma cidade multifacetada? E qual é o seu posicionamento entre as suas congéneres? Certamente a dúvida ou as diferenças persistem. Não conhecemos a sua missão em termos internacionais e Lisboa tem que se afirmar como uma cidade internacional.

Os interesses político-partidários e a pressão de diferentes lobbies são igualmente factores de pressão e elementos de bloqueio que impedem muitas vezes que certos projectos se desenvolvam (isto é especialmente verdade no que concerne às principais cidades do nosso país).

2 comentários:

Frederico Lucas disse...

Caros Senhores,
Quero felicitar-vos pelo presente texto e informar que o pretendo publicar no blogue Inovação & Inclusão.

Na entualidade de discordarem queiram pf contactar-me.

Aceitem um abraço


FL

Cecília Santos disse...

Caro Frederico Lucas

Fale-nos mais sobre o seu trabalho no seu blogue. Quais os seus temas de interesse e opções de pesquisa e debate. Sobre o FRES pode consultar os nossos princípios e valores bem como os objectivos do nosso think tank através do nosso blog. cumprimentos

Mário de Jesus