Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, maio 24, 2009

Os Homens do Leme

No link
http://dn.sapo.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=1242665
podemos ler a seguinte notícia da Agência Lusa
Robert Zoellick-Presidente do Banco Mundial prevê crise por muito tempo
O presidente do Banco Mundial considerou, numa entrevista hoje publicada em Espanha, que a crise mundial poderá resultar numa «grave crise humana e social», se não foram tomadas a tempo medidas adequadas.
«Se não tomarmos medidas, existe o risco de se chegar a uma grave crise humana e social, com implicações políticas muito importantes. As medidas de relançamento podem ser determinantes», declarou Robert Zoellick ao jornal espanhol El Pais.
«O que começou como uma grande crise financeira e se tornou numa profunda crise económica, deriva actualmente para uma crise de desemprego», sublinhou.
«Se criarmos infra-estruturas que empreguem pessoas, isso pode ser um meio de associar estes desafios a curto prazo com estratégicos a longo prazo», acrescentou Zoellick.
O presidente do Banco Mundial afirmou que dado «este contexto, ninguém sabe verdadeiramente o que se vai passar e o melhor é estar pronto para qualquer imprevisto».
«Existe aquilo que chamo o 'factor x' e que nunca vemos chegar, como a gripe» A (H1N1), acrescentou, alertanto também para outras «zonas de sombra»: «os perigos ligadosao proteccionismo e à dívida privada no mundo emergente, apesar das ajudas do FMI» (Fundo Monetário Internacional).
O presidente do Banco Mundial sublinhou que a recuperação económica tardará a chegar e quando ocorrer será de "baixa intensidade durante muito tempo" porque a indústria não tem escoamento e o desemprego vai continuar a crescer.
Zoellick considerou pouco provável que se repita uma depressão como a dos anos 30, embora "se acontecesse, seria terrível", com alto custo social, sobretudo nos países em desenvolvimento.
Por outro lado, disse que o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, com quem se reuniu esta semana em Madrid, é "optimista por natureza" por acreditar que a recuperação "pode chegar antes do que se pensa".
Fim da transcrição da notícia.
Na qualidade de simples cidadão português, europeu e mundial não posso deixar de ficar preocupado com as ambiguidades deste excerto de discurso do presidente do Banco Mundial, devendo a preocupação aos seguintes factores:
1. “ …crise mundial poderá resultar numa «grave crise humana e social», se não foram tomadas a tempo medidas adequadas.” Perante esta afirmação de Robert Zoellick, pergunto eu: que medidas devem ser então tomadas, qual o tempo em que devem ser tomadas e por quem devem ser tomadas ?
2. “… dado este contexto, ninguém sabe verdadeiramente o que se vai passar e o melhor é estar pronto para qualquer imprevisto”. Aqui parece-me mais um exercício ambíguo e difícil, como é que podemos estar preparados para qualquer imprevisto se estamos constantemente a ser surpreendidos pelos efeitos em cadeia da crise financeira ?
3. Mais um dado ambíguo: “ Existe aquilo que chamo o 'factor x' e que nunca vemos chegar, como a gripe» A (H1N1), acrescentou, alertando também para outras «zonas de sombra»: «os perigos ligados ao proteccionismo e à dívida privada no mundo emergente, apesar das ajudas do FMI» (Fundo Monetário Internacional)” . O que me parece sinceramente é que estamos a “navegar” por demasiadas zonas de sombra. É tempo de começarmos a ter algumas certezas. Como é que podemos pedir a colaboração de todos na luta contra a crise se estamos dominados por tantas sombras e incertezas ?
4. “ O presidente do Banco Mundial sublinhou que a recuperação económica tardará a chegar e quando ocorrer será de "baixa intensidade durante muito tempo" porque a indústria não tem escoamento e o desemprego vai continuar a crescer.” Esta afirmação então é demais. Todos estamos numa lenta agonia à espera da retoma económica. Agora surge-nos o presidente do Banco Mundial a dizer que tardará ( ou seja não faz ideia de quando ocorrerá ) e quando finalmente chegar será de baixa intensidade durante muito tempo, que também não fazemos nenhuma ideia do que isso quererá dizer. Aqui a questão principal é saber qual o cenário actual, de curto e médio prazo com base nas quais estamos a definir as nossas estratégias de luta contra a crise. Os cenários que traçamos têm a validade de 1 ano, 2 anos , 10 anos ? Não faço a mínima ideia, mas eu que até nem sei nadar, estou a ter muita dificuldade em “navegar” nesta maré de incertezas.
5. “Zoellick considerou pouco provável que se repita uma depressão como a dos anos 30, embora "se acontecesse, seria terrível", com alto custo social, sobretudo nos países em desenvolvimento.” Mais uma no cravo e outra na ferradura o que me deixa ainda mais nervoso e intranquilo.
Peço desculpas por num texto tão pequeno, duplicar tantas partes. O que pretendi transmitir é que os cidadãos estão prontos para dar o seu contributo e no dia-a-dia vão dando o seu melhor.
Agora o que deve também acontecer é os detentores de cargos de maior responsabilidade a nível nacional , europeu ou mundial, não se deixarem dominar por discursos totalmente ambíguos e nada esclarecedores.
Está na hora de os homens do leme assumirem posições claras. Caso não saibam o que fazer, em vez de teimosamente ficarem agarrados ao poder, talvez seja melhor saírem de cena e darem lugar a outros que estejam e sejam mais esclarecidos.

4 comentários:

Mário de Jesus disse...

Excelentes questões.

Este é um pequeno exemplo dos efeitos nefastos e do que são os burocratas a governarem as instituições (importantes como o Banco Mundial).

Eis o exemplo em como em poucas palavras se demonstra a dimensão da ambiguidade e do vazio de conteúdo das afirmações.

Generalidades e generalidades. Afirmações gerais sem fundamentação. Diagnósticos pessimistas sem qualquer orientação, sugestão ou recomendação quanto ao rumo a seguir e medidas a tomar - quem e quais - apenas e só generalidades.

O que todos os cidadãos esperariam de quem exerce tão altos cargos (pagos principescamente)seriam orientações sobre os rumos a tomar.

Como diz Mário Soares, a Europa (eu acrescentaria o Mundo) vive uma ausência de verdadeiras personalidades políticas. Eu acrescentaria, homes de grandeza.

Henrique Abreu disse...

Estimado Octavio,

sem dúvida nenhuma um post muito pertinente e actual,... eu acrescentaria que um homem do leme tem de reunir 3 caracteristicas fundamentais: ter/desenvolver uma visão de futuro para o país e que seja capaz de articular essa visão de modo a que os cidadãos se revejam nela e se sintam envolvidos,... depois,... tem de ter uma excelente capacidade de, e em todas as situações, saber articular/comunicar essa mensagem com paixão, emoção e ciratividade e "last but not least" ter a capacidade de inspirar e motivar os seus concidadãos no sentido de todos e activamente contribuirem para atingir/concretizar essa visão/objectivo.

Otavio Rebelo disse...

Estimados Colegas,

Esta questão é essencial pois esses homens do leme, que não se devem perder em generalidades como o Mário referiu e devem possuir , entre outras, as caracteristicas que o Henrique mencionou, serão aqueles que darão também ouvidos às vozes da Sociedade Civil onde o FRES se inclui, ou nunca o farão, tornando inglórios os esforços de todos nós. Mas como acredito no ditado "àgua mole em pedra dura..." continuo a achar que estamos no caminho certo.

Abraços a todos

Otavio

Otavio Rebelo disse...

Henrique,

Uma nota adicional pois a síntese que fizeste das caracteristicas de um verdadeiro homem do leme está excelente servindo como referencial para os outros e também para nós próprios quando somos voluntários ( à força ou não ) e nos vemos na posição de comandar um determinado barco. De forma simples e clara, transmitiste os conceitos mais importantes que devemos reter.