Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, maio 03, 2009

Investimento, Desenvolvimento e segurança


Tem sido um tema recorrente no país retomar a polémica gerada quanto ao custo-benefício do investimento em grandes obras públicas. Para uns, o investimento no betão é um desperdício pois estamos perante aquilo que se designa por um bem não transaccionável. Para outros é sinónimo de desenvolvimento e maior competitividade para o país.

Sem pretender alongar muito a discussão diria que tenho sido cauteloso nas minhas posições. Nos actuais tempos de crise o país tem que ser muito criterioso no gasto/investimento do dinheiro público e gerir segundo critérios de prioridade, começando pela resolução dos problemas de natureza social (riscos com a elevada taxa de desemprego).

O tempo exige pois uma prioritização e re-calendarização das decisões de investimento desta natureza. Viajo diversas vezes Lisboa/Porto e vice-versa em Alfa Pendular e digo que não temos necessidade de investir milhares de milhões de euros neste trajecto para TGV quando aquele comboio cumpre o trajecto em 2 horas e 45 minutos com o maior do conforto. Já a importância futura entre Lisboa e Madrid se me apresenta como merecendo maior reflexão. Digo maior reflexão, não decisão e investimento imediato.

E agora vou ao tema que aqui me trouxe. Portugal tem investido muito em novas auto-estradas e vias rápidas secundárias. É um facto que a malha rodoviária nacional é hoje das mais desenvolvidas da Europa. Trouxe-nos isto vantagens apara a nossa qualidade de vida? É inquestionável que sim. Os fundos investidos foram os apropriados? Talvez, não sei. O que é facto é que hoje é possível (por esta razão - não abordo aqui outras) deslocalizar qualquer actividade e cobrir o país de lés a lés com rapidez e conforto. E saberemos nós em concreto o que o investimento nesta malha rodoviária nos trouxe de mais positivo? Talvez não saibamos. Aqui ficam alguns dados.

Em 1995 Portugal estava na cauda da Europa quanto ao nº de acidentes na estrada e mortes na rodovia (Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária).

De 1989 a 2008 a evolução em alguns indicadores foi a seguinte:

O crescimento dos veículos em circulação –> 200%
O crescimento no consumo de combustíveis –> 112%
O decréscimo dos acidentes com vitimas –> 23%
O decréscimo em vítimas mortais –> 67%
O decréscimo em feridos graves –> 79%

De 1991 a 2007 Portugal aproximou-se do nº médio de vitimas mortais em acidentes rodoviários na UE quando em 1995 essa diferença era negativa em 105% e ainda em 2005 o era em 30%.

Entre 1997 e 2006 Portugal, juntamente com a Letónia e Estónia, foram os países que registaram maior decréscimo no nº de mortos por acidentes com veículos de 2 rodas a motor.

Nesse mesmo período Portugal esteve no grupo dos 4 países (juntamente com a Suíça, Eslovénia e Holanda) que mais reduziram o nº de mortes em acidentes na auto-estrada.

Portugal foi dos poucos países (juntamente com a França e Irlanda) que obteve uma taxa média de redução da mortalidade das crianças em quase 15%.

Entre 2001 e 2008 o país esteve entre os 3 primeiros com os melhores resultados na redução do nº de vitimas mortais por milhão de habitantes (Luxemburgo – 50%, França - 49% e Portugal - 47%).

Estes resultados são a causa directa da melhoria dos investimentos nas vias rodoviárias do país. Não sejamos ingénuos ao ponto de pensar que resultaram de alterações comportamentais profundas. Necessários e indispensáveis para este progresso. Agora há que medir e analisar opções quando o dinheiro não dá para tudo.

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro Mário,

Na realidade, os números apresentados falam por si, e na minha opinião mais nada seria necessário para justificar o realizado até à data. Morrem por ano cerca de 1500 pessoas nas estradas, em acidentes de viação!?...

Mas, ainda é importante salientar que as acessibilidades aumentaram e os tempos de viagens entre dois antigos pontos do mapa rodoviário reduziram na sua grande maioria quase para metade, nos limites legais de velocidade actuais, e ainda realçar que estavamos mesmo muito atrasados neste tipo de infra-estrura.

O problema não está na generalidade do realizado, mas sim em saber onde e quando parar.

Obrigado pela investigação interessantíssima que justifica pelo menos a vontade política de assegurar este tipo de desenvolvimento.

Nuno Maia

Mário de Jesus disse...

Caro Nuno obrigado pelo comentário.

As estatísticas dizem-nos que em 2006 tivemos 91 mortos nas estradas por milhão de habitantes pelo que os valores são inferiores aos que referes, não chegando a 1000 mortos. Esta evolução foi muito significativa nos últimos 15 anos.

Como dizes e concordo, o investimento realizado já foi justificado. Resta saber qual o beneficio marginal em continuar a investir fundos significativos nesta área.

Anónimo disse...

Caro Mário,

Menos de 1000 é bem melhor do cerca de 1500, obrigado pela correcção.

A minha referência, superior aos valores actuais, está felizmente desactualizada. Mas mesmo assim, ainda morre imensa gente nas estradas e muitos outros nos hospitais após acidentes rodoviários, e outros, ficam deficientes para sempre.

Se morressem cerca de mil homens, e ficassem mutilados mais quinhentos por ano nas nossas forças armadas teriamos uma revolução!

Por isso, por enquanto, com os números actuais, sempre que estivermos a falar de segurança rodoviária vale a pena continuar a melhorar.

Nuno Maia

Mário de Jesus disse...

Concordância absoluta e indiscutível!

Anónimo disse...

Caro Mário
Para além da redução de vítimas nas estradas, que é um facto inegável e que não pode ser imputado só a atitudes comportamentais como bem disseste, gostaria de referir a questão do isolamento de populações que viram os seus horizontes mais alargados. Quem não se lembra de demorar cerca de 7/8 horas de Lisboa- Porto? A qualidade da estrada Nacional1 deixava muito a desejar, quanto às municipais a diferença para hoje é abismal eas regionais ... nem vale a pena falar. Neste aspecto saímos do 3º mundo e é só ver o desenvolvimento de pequenas localidades nos dias de hoje, a que nada falta dada a facilidade dos transportes.
JFAlves