Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, abril 19, 2009

“ Casa onde não há pão…

…todos ralham e ninguém tem razão “

Lancei há dias o desafio de fazermos um pequeno exercício de diagnóstico sobre o que julgamos estar bem e o que julgamos estar mal no nosso país.
Existe a convicção generalizada de que os diagnósticos estão todos feitos, não sendo necessário fazer mais diagnósticos.
Eu tenho a opinião contrária. Concordo que muitos diagnósticos foram feitos nos últimos anos. Agora já não concordo é que sejam diagnósticos adequados à realidade que hoje vivemos.
Alguém fez um diagnóstico e chegou à conclusão que Portugal precisa de ter Comboio de Alta Velocidade ( TGV ). Então deveríamos dizer que como o diagnóstico está feito, está tudo bem ?
Dúvido.
Outras pessoas fizeram também outros diagnósticos e chegaram à conclusão de que os elevados custos de investimento na implementação e manutenção do TGV, não serão comportáveis nem a curto, nem a médio, nem a longo prazo.
Alguém fez um diagnóstico e decidiu que Lisboa precisa de ter já um novo Aeroporto Internacional. Soluções para aproveitar o actual Aeroporto da Portela ( onde têm sido feitos avultados investimentos de melhoria ), que poderiam passar pela solução Portela + 1, foram todas abandonadas.
Até mesmo a solução de adiar por uns anos o Investimento no novo Aeroporto não parece aceitável para o Governo. Apesar das vozes a criticar um investimento que, conjuntamente com outros grandes investimentos, pode hipotecar gerações futuras, existe a vontade de lançar já e a grande velocidade, todas essas obras.
De tempos a tempos, temos "avisos à navegação" vindos do Presidente da República. Daqui a uns dias voltaremos a ter mais um episódio, o Presidente da República irá aproveitar o 25 de Abril, para enviar mais recados aos nossos Governantes e a toda a classe política.
Cavaco Silva insiste recorrentemente ( e não é o único ) em que se deve falar a verdade aos Portugueses.

Ficamos com a sensação de que alguém não nos anda a dizer a verdade. Ou pelo menos não temos direito a ter acesso a toda a verdade.
Quando repetidamente o Presidente se vê na obrigação de lançar avisos à classe política para que, quer estejam no governo ou na oposição, desempenhem bem os seus papéis, ficamos com a sensação de que os nossos políticos não estão a desempenhar bem esses papéis.
Na minha opinião, o papel dos nossos governantes seria bem desempenhado se tivessem como referencia as necessidades do povo. Esta referencia também deveria ser a base da actuação dos partidos da oposição.
No entanto ficamos com a sensação de que muitas vezes existem interesses pouco claros em muitas decisões dos governantes, que parecem beneficiar determinados sectores e não a generalidade da população.
E também ficamos com a sensação de que a oposição também actua de forma pouco clara e consistente. Só isso justifica que uma larga fatia de portugueses estejam insatisfeitos em simultâneo com o Governo e com a Oposição.
Em quem poderão eles acreditar então ?
Quem estará a fazer os diagnósticos correctos ?
Que caminhos e que políticos deverão escolher ?
Julgam que os diagnósticos estão todos feitos e são actuais ?
Eu acho que não.
Casa onde não há pão…

4 comentários:

MJS disse...

Caro Otavio, Portugal vive com prognósticos, logo, sempre actuais por não se consubstanciarem em elementes fidedignos, porque só pelo simples facto de
serem porgnósticos não se lhes afigura a responsabilidade da exigência de meios capazes de excluir margens de erro. Os senhores que vieram a seguir (refiro-me aos politicos) que tenham a coragem de proceder ao diagnóstico!É assim que se pensa. E como o que todos pretendem é isentar as responsabilidades vive-se com as "probabilidades".

Anónimo disse...

Caros Octávio,
Existem muitos investimentos que só são rentáveis a longo prazo. Os grandes investimentos nacionais, às vezes são necessários, e desse tipo. Este País nem estaria no mapa se assim não fosse… Se não forem realizados reduz-se a actividade económica, militar, social, etc., enfim, definhamos lentamente.
A cidade de Lisboa ainda é uma das capitais Europeias e Atlântica de referência devido a grandes investimentos nacionais de outrora. O seu potencial reduz-se sempre que as infra-estruturas de suporte às actividades inerentes não se desenvolvem adequadamente. Temos perdido terreno relativamente a muitas outras capitais mundiais precisamente por termos vistas curtas e bolsos vazios. Assim, a falta de investimento gera redução da actividade económica e esta tendência decrescente é cada vez mais difícil de inverter, prejudicando todas as outras áreas de crescimento e desenvolvimento.
O virtuosismo da cidade de Lisboa, que já foi um dos maiores centros comerciais do Mundo, permite ainda pensar em três grandes áreas de transporte de pessoas e mercadorias: Aérea, Marítima e Terrestre, todas elas de características diferentes, mas todas importantes. Infelizmente, verifica-se que nos deparamos com uma situação de atraso estrutural e tecnológico em todas as três frentes potenciais (Aeroporto, Porto de Mercadorias, e Comboio). Note-se que nem todas as grandes cidades mundiais têm este potencial, e mesmo assim, algumas são bem mais desenvolvidas.
As alternativas apresentadas aos investimentos, no novo Aeroporto, e TGV, são reduzir os impostos. Por muito que isso me custe, e tem custado muito! Nesta altura reduzir os impostos não vai gerar nenhum desenvolvimento relevante. Eu acho a ideia boa, do ponto de vista pessoal, mas daqui a um/dois anos não vou ver nenhum reflexo positivo, relevante desse pequeno efeito presente. Deveríamos, sim, ter diminuído os impostos quando a actividade económica estava em estagnada/pequeno crescimento, para a alavancar. Fazê-lo agora será apenas uma esmola para os pobres, e essa não se dá assim.
Sem qualquer teor político, refiro que não me espanta que a Sr.ª Manuela Ferreira Leite e outros da sua equipa queiram agora inibir o desenvolvimento e reduzir os impostos que outrora aumentaram. Mas a isto é que se chamam vistas curtas! E a desculpa de que não se esperava este desenvolvimento económico e financeiro é ainda mais inaceitável, porque em nenhum momento se procurou outro caminho.
Terminada esta opinião genérica, também sobre os momentos adequados para cada coisa, convém referir que a economia e finanças de um País, tecnologicamente relativamente pouco desenvolvido, com poucos recursos naturais, e já largamente comprometidos com parceiros económicos, não é fácil! E gastar mais do aquilo que se produz, sem rentabilidades futuras tem um preço elevado. Mas isso tem sido o que tem sido feito nos últimos anos (os números são o espelho disso) e não me recordo de ter sido realizado nenhum Aeroporto, Porto Marítimo ou TGV.
Quais foram os investimentos que nos endividaram, que andámos a realizar nos últimos anos que estão a gerar rentabilidades presentes!?...!?
Sem poder afirmar peremptoriamente de que se tratam de bons investimentos para o desenvolvimento futuro da nação, devido ao desconhecimento dos seus custos de exploração e juros sobre dívidas, posso afirmar claramente que são investimento que contribuem para o desenvolvimento, económico e social de qualquer nação do mundo moderno desenvolvido (1º Mundo).
Abraço,
Nuno Maia

Mário de Jesus disse...

Caros Otávio e Nuno

Gostei particularmente da ideia do Nuno quanto à importância central da nossa capital - Lisboa - no contexto geo-estratégico para o país que lhe é conferido pela localização e características geográficas. É de facto quase única no Mundo.

A sua geografia, clima e outras condições fisicas permitem-lhe ser uma plataforma multimodal para a Europa (por terra, mar e ar).

Não concordo em abandonar as grandes obras. Elas serão indispensáveis para o nosso crescimento e desenvolvimento no futuro. O que digo é que hoje, com a actual crise e prioridades, deverão ser reescalonadas no tempo e revistas quanto à estrutura de financiamento VS Endividamento vis à vis aos beneficios futuros.

Quanto aos diagnósticos, discordo do Otávio. Para mim estão todos mais do que feitos e refeitos. Este é o país dos diagnósticos e da falta de acção. Nada se diagnostica em Portugal que não seja já conhecido.

Finalmente os recados do Presidente devem ser avaliados. Em especial se nos lembrarmos que foi já também 1º ministro muitos anos e cometeu os mesmos e outros erros (quiça tão ou mais graves do que hoje se cometem). Onde estava então essa visão estratégica do Portugal actual? Parte do que o país é hoje, a ele se deve, para o bem e para o mal...de facto diagnosticar...é o mais fácil.

Otavio Rebelo disse...

Diagnosticar é o mais difícil.

Caros "comentaristas" Maria João Silva, Nuno Maia e Mário de Jesus, agradeço bastante os vossos comentários com visões diferentes e interessantes de alguns dos problemas e oportunidades do nosso país. Quando falei no Novo Aeroporto ou no TGV, dei apenas 2 exemplos dos muitos que se poderiam falar em termos de diagnóstico de necessidades e oportunidades. O que quero mesmo é que se mantenha a visão de que são necessários sempre diagnósticos sérios, profundos, reflectidos e alargados ao maior nº de pessoas possiveis. Ter apenas meia dúzia de "iluminados" a fazer diagnósticos resulta em quase nada. Bons diagnósticos não levariam a encerramento de serviços de saúde sem se acautelar as necessidades das populações onde os serviços foram encerrados. Bons diagnósticos levariam à transmissão atempada aos jovens estudantes, quais as areas , cursos e profissões que devem escolher, que tenham futuro, ou seja, que sejam reais necessidades do país. Saltamos em pouco tempo de falta de enfermeiros para enfermeiros em excesso, que se formam em Portugal para ir trabalhar na Suíça ou Reino Unido. Bons diagnósticos levariam até ao meu Benfica a não estar convencido de que os diagnósticos estão todos feitos e a errar, ano após ano, sempre agindo e sempre errando. Precisamos de agir sim, mas ponderadamente. Com certeza dos rumos alternativos que podemos seguir e realismo nas opções que temos capacidade humana e financeira de suportar.