Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

segunda-feira, outubro 27, 2008

Dívidas Eternas

Pedro Santos Guerreiro, Director do Jornal de Negócios, escreveu na semana passada, dia 22 de Outubro um excelente artigo na coluna Editorial, cuja leitura aqui recomendo, pela clareza de ideias nele explanada.
http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS_OPINION&id=337118


Todo o artigo é excelente mas gostava de reter e comentar duas frases em particular:

1ª “Não há caridade dos investidores para curar a carência dos aflitos: você deve, você paga. De uma forma ou de outra.”
Dito de uma forma mais popular, poderíamos ter o famoso “ A corda parte sempre do lado mais fraco”, e cada vez são mais as famílias portuguesas a engrossar o “elo mais fraco”.
A necessidade ou sonho de terem um espaço digno para habitarem, está a tornar-se a passos largos, num pesadelo sem fim. Surge agora a proposta do governo, de criação de Fundos de Investimento Imobiliário para Arrendamento Habitacional, que pretendem generosamente ( ou talvez não, conforme explica Pedro Santos Guerreiro ), garantir ou manter dilatada no tempo a possibilidade de as famílias não perderem as casas que a tanto custo tentaram comprar.
2ª “Dizer que pagar menos por mês é bom negócio é abusar do desconhecimento dos clientes. É tão errado como dizer que estender o crédito à habitação sai mais barato. É mentira: quanto mais longo é o contrato, menos capital se amortiza por mês, logo maior valor de juros se paga. Aumentar a vida dos contratos é sempre pior do que diminuí-la, só se deve fazê-lo em último caso.”
Nesta segunda fase, ressaltam as últimas palavras ( só se deve fazê-lo em último caso ).
Os últimos casos só se deveriam atingir…em último caso, passe o pleonasmo.
Mas são demasiados os que os estão a atingir. Milhares de famílias vêem-se encurraladas em soluções de último recurso, por já não terem mais margem de manobra. Os ordenados “não esticam” e por mais voltas que se dê à cabeça, cortando em tudo o que se pode cortar em termos de despesas, continua a ser necessário ir mais além. Ir mais além tem correspondido a esta forma de hipoteca das suas vidas, através de empréstimos e planos financeiros que tendem a cristalizar-se no tempo, eternizando as suas dívidas.
A frieza dos números tomou em definitivo conta da vida de dezenas de milhares de portugueses. São esses os portugueses que deixaram de poder dormir descansados. È também a esses portugueses que se exige que aumentem os seus níveis de produtividade, para contribuírem para a melhoria da economia. Não percebo como o desassossego permanente ( físico e mental ) pode ser compatível com melhorias de desempenhos e aumentos de níveis de produtividade.
Mas parece-me que aos seres se está a obrigar a ser cada vez menos humanos e a ser cada vez mais “máquinas”, facto que também não contribui muito para uma harmonia e bem estar social.

1 comentário:

Mário de Jesus disse...

Excelente reflexão. Perfeita na sua análise.

Atenção aos mitos bem explicados do:

- aumento do prazo dos empréstimos- está-se a recomprar os créditos mais claros pelas razões explicadas.

- o pagamento de uma renda após a venda da casa aos fundos de investimento imobiliários - quando se paga uma renda em casa própria está-se a amortizar a dívida - a pagar o que é nosso.
A renda a um fundo não passa disso. No final do prazo contratado, podendo-se accionar o direito de recompra, volta-se a comprar uma segunda vez tendo-se vendido apenas uma.

Risco: vender hoje por 80 e comprar daqui a anos (poucos) por 120.

Por isso, nem todos os casos são boas soluções.

Alternativas, há concerteza. Reduzir juros é apenas uma delas.

Abraço

Um abraço