Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

terça-feira, junho 17, 2008

ESPANHA: Sem bons ventos mas (alguns) bons casamentos


Não esquecendo o assunto referido no artigo em baixo sobre a negação da Irlanda, através do instituto do referendo, ao Tratado de Lisboa, gostaria de manifestar aqui e perante os nossos visitantes, a minha preocupação perante um outro fenómeno, este não de natureza politica mas sim económica. Refiro-me aos sinais de abrandamento da economia espanhola.

Sendo verdade que mais de 28% das exportações portuguesas se destinam ao país vizinho, sendo estas o factor essencial de arranque da nossa economia e do crescimento económico (ainda que débil) que se tem registado, devemos pois olhar com atenção e alguma preocupação para o que aqui se passa ao lado.

Por outro lado importamos de igual forma e por valores acima de 30% do total do nosso parceiro Espanha. É por isso o nosso principal parceiro comercial. E se este se constipa, aparece-nos febre.

Em recente conversa com alguém do mesmo ramo económico e profissional do que o meu, pude constatar idêntica preocupação vivida directamente pela relação directa havida com Espanha por parte deste meu interlocutor. Tenho inclusivamente o registo de alguns testemunhos de que os bancos em Espanha passam por algumas dificuldades de liquidez, fruto quer da crise financeira instalada mas também pela desaceleração e abrandamento da economia do país vizinho.

Imaginemos o que será Espanha a fechar-se sobre si mesma, reduzindo as importações e as compras às empresas portuguesas! Como se reflectirá isto nas nossas empresas e no nosso crescimento económico, este, como já disse, suportado na dinâmica das exportações.

Uma conclusão a que poderemos chegar, entre muitas outras, poderá ser a tentativa das empresas espanholas, mais fortes e musculadas, à procura de mercados alternativos à crise interna, se lançará sobre o mercado nacional, batendo as nossas de menor escala. Poderá ser assim no sector da construção. De facto foi no sector imobiliário que surgiram os primeiros sinais de abrandamento e da crise espanhola. Esta não existe, é apenas aparente, mas pode ser real.

2 comentários:

Anónimo disse...

A globalização moderna traduz-se num estado em frequente mutação, com características “geométricas” (classificação não consensual, utilize multiplicáveis) seguramente muito difícil de interiorizar na consciência social global actual, principalmente ao ritmo das mutações, tornando-se num factor de permanente instabilidade devido à ocorrência de aspectos relevantes inesperados, difíceis de gerir devido às necessidades de actualização e à sua elevada frequência. É muito mais fácil estagnar do que acompanhar o ritmo das mutações!
A título de exemplos de factores globais reflicta-se, entre outros possíveis, sobre os seguintes temas que são absolutamente globais:
1. O ambiente (os recursos marítimos, outros hídricos, o ar, a camada de ozono, a desertificação em África e na Amazónia, o efeito de estufa);
2. As crises económicas e financeiras internacionais que apesar de serem de origem diversa se reflectem com características globais;
3. A(s) guerra(s) em qualquer ponto do globo que afectam gravemente e principalmente os envolvidos mas que se reflectem em diversos aspectos mundiais, por exemplo, na economia nomeadamente nos preços das matérias primas;
4. Os acidentes naturais (terramotos, tsunamis, vulcões, furacões, inundações, derrocadas, incêndios) que afectam por exemplo; a segurança, o nível de vida, o ambiente e a economia global;
5. O desenvolvimento demográfico e económico de sociedades emergentes e consequentes deslocalizações de fábricas, centros de comércio, hábitos, redução de recursos naturais per capita, etc;
6. O empobrecimento económico devido às alterações climáticas de países já sub desenvolvidos;
7. A saúde pública (transmissão de vírus/bactérias);
8. etc.
No estágio actual de globalização, é fundamental transitar para uma atitude proactiva (de controlo por antecipação, de prudência) consciente das possíveis alterações do estado das coisas. Isto acontece sem nenhuma perca da importância do indivíduo, apesar de existir um sentimento contrário mas que não traduz a realidade. Apesar da globalização tudo o que cada um de nós faz continua a ser importante e isso afecta-o e afecta-nos.
A instabilidade resultante da inevitável globalização e suas imprevisibilidades justifica um nível de consciência e de preparação evolutiva, ajustável.
Não sendo remédio para tudo, do ponto de vista económico (lato) recomenda-se vivamente adoptar a atitude da formiga e não a da cigarra. Ou seja, recolher e armazenar (poupar) nos períodos de crescimento da riqueza para atravessar os períodos de estagnação e de recessão com a tranquilidade possível sem súbitas alterações do nível de vida. Evitar extravagâncias, sempre! Principalmente se esse sentimento resultar de um período de crescimento económico anormal, sem retorno estimado, evitar desperdícios, procurar formas alternativas de viver consumindo menos recursos e procurar sempre soluções com matérias primas e formas de fabrico o mais ecológicas possíveis (inovação e procura de inovações é sempre necessário para assegurar desenvolvimento). Prevejam-se formas de variação cíclica de rendimentos e não constantes crescentes! Tomem-se as decisões adequadas independentemente de impulsos contrários, justificando-as de forma sustentada e não meramente opinativa ou suportada por exemplos não aplicáveis à nossa realidade.
Tudo isto implica obviamente trabalho de análise da conjuntura e adaptabilidade!
No entanto, em alguns dos aspectos expostos, não tem sido essa a orientação nem atitude das economias dos países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, antes pelo contrário. Este facto agravou e agrava os efeitos, aumentou e aumenta os períodos de estagnação/recessão económica, transforma os períodos de crescimento em grandes trovoadas de grande intensidade mas não necessariamente em crescimentos sustentáveis. Este comportamento acentua gravemente as discrepâncias económico-sociais prejudicando gravemente as classes mais baixas, em particular as menos instruídas. Como se percebe, estes factos não são necessariamente maus para todos, alguns dos factores referidos são impulsionados pelos especuladores que compreendendo e analisando factores económicos e sociais, utilizando recursos económicos volumosos (em alguns casos de dimensão superior à de alguns estados) manipulam e gerem informações para obtenção rápida de lucros de actos, principalmente financeiros.
Eis uma das faces da realidade da globalização!

Mário de Jesus disse...

Agradeço o profundo e reflexivo comentário. Na essência concordo com o que foi dito. Se esta traz instabilidade e por vezes desequilibrios, também oferece oportunidades.

Mas a globalização, como já foi intensamente definida e classificada, tem aspectos positivos e negativos. Creio que na reflexão apresentada neste comentário, estão bem apresentados ambas as faces da moeda.