Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

terça-feira, maio 13, 2008

Cooperação e Desenvolvimento - Que ajuda?


Ajuda ao desenvolvimento em risco

Este era o título de um artigo recente publicado no Semanário Económico e que concluía que os dados sobre a ajuda ao desenvolvimento publicados pela OCDE eram desoladores. Segundo aqueles dados os principais países doadores – UE, EUA, Canadá e Japão – não conseguiram dar cumprimento aos seus compromissos financeiros de combater a pobreza no mundo e proporcionar um futuro melhor a milhões de homens, mulheres e crianças.

Segundo o mesmo artigo, os números da ajuda ao desenvolvimento em 2007 ficaram muito além dos objectivos fixados. No ano passado a parte de ajuda pública ao desenvolvimento concedida pela UE em relação ao rendimento nacional bruto, diminuiu de 0,41% para 0,38%, quando os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio definiram até 2015 que esta deveria atingir os 0,7%.

Significa que em 2007 cerca de 1.700 milhões de euros foram doados a menos, o que teria permitido tratar milhões de crianças, dos 11 milhões que morrem anualmente por falta de cuidados de saúde, para citar alguns exemplos.

E a crise alimentar provocada com o aumento dos preços dos bens alimentares em especial dos cereais e do arroz, certamente irá agravar este estado de coisas. Um problema que pôs já em risco o Programa Alimentar Mundial. Um problema preocupante que a todos nos deve merecer uma reflexão, e, mais do que isso, alguma acção.

Posto isto, quais serão as razões? Menor solidariedade? Efeitos da crise financeira mundial? Enfraquecimento da atitude dos mais ricos face à problemática da ajuda ao desenvolvimento?

3 comentários:

Otavio Rebelo disse...

Caro Mário,

Penso que as razões são várias:aumento da população a nível mundial, emergência de Países como a China e a India em termos de comércio mundial mas que não estão ( em principio ) integrados no grupo de países doadores, abrandamento da economia mundial, maiores restrições a nível de cada país, que obrigam a manter ou diminuir os respectivos contributos. Seja como for, este é apenas um início de uma abordagem deste assunto que merece um empenho maior para que se encontrem as causas e soluções para manter o nível de ajuda em valores desejáveis e necessários. Espero voltar em breve a este oportuno e importante desafio que lançaste.

Anónimo disse...

Alguns países "ricos" estão a ficar menos "ricos", e alguns países "pobres" menos "pobres"! O desenvolvimento populacional (sentido lato) a nível mundial (ex. China+Índia) aumentam o valor das matérias primas, devido ao aumento da sua procura. Assim, as indústrias transformadoras perdem importância relativa no valor final dos produtos finais. As vantagens tradicionais de alguns dos países do 1ºMundo atenuam-se!
Sente-se agora de forma generalizada mais ou menos evidente que o planeta é um recurso limitado para a população em desenvolvimento com as tecnologias predominantemente utilizadas (modelo de desenvolvimento do 1.º Mundo)! A exploração massiva das vantagens tecnológicas sustentadas em extravagâncias ambientais nas diversas indústrias estão agora severamente limitadas, e entramos inevitavelmente na era das energias renováveis e ecologicamente limpas. As vantagens do mundo tecnológico, perante as evidências amortecem relativamente aos 2º e 3º Mundo que são ricos em matérias-primas (ex. mão de obra barata, cereais, petróleo, etc.) de elevada procura.
Aliado ao sentimento atrás expresso, existe efectivamente um refrear na rotação de capital a nível mundial, parcialmente empatado e parcialmente enterrado, em inúmeros imóveis devolutos e outros créditos, concedidos nos estados unidos em particular e no mundo desenvolvido em geral. Este foi o resultado da actividade de empresas financeiras que suportaram parte relevante da sua actividade no empréstimo de capital sem assegurar devidamente o seu retorno, prejudicando os seus sócios, clientes, parceiros e economia global. Não é a primeira crise economia global devido a deslizes financeiros, já nos vamos habituando à ideia de que elas acontecem, é no entanto, talvez a mais grave a nível global da era moderna.
Resta-me ainda concluir que apesar das boas intenções, em ajudas planetárias, salvo em situações de emergência graves, só tendo a mais é que se pode oferecer! Nem a EU, nem os EUA estão actualmente seguramente em condições favoráveis para o fazer de mãos largas, por isso efectuaram cortes nessas ajudas.

Nuno Maia

Mário de Jesus disse...

Concordo com ambos pois existe de facto uma contracção mundial por parte das economias dos países doadores, infelizmente. Por um lado provocada pela crise financeira subprime surgida no verão passado nos EUA. Esta, que levou muitas instituições à falência e a um crescendo do desemprego, contraíu os mercados financeiros mundiais pois os bancos, desconfiados, passaram a emprestar menos aos outros e, quando o fizeram, a taxas mais elevadas. Po outro lado temos os EUA e a UE numa situação de crescimento desacelerado ou pouco mais que mediocre (a Europa na casa dos 2,1% bem como os EUA em valores igualmente baixos). O desemprego na europa continua elevado o que igualmente é um elemento negativo em termos de expectativas (a Alemanha tem apresentado valores acima dos 8% apenas para dar um exemplo). Os países da Europa lutam contra o déficit orçamental dos seus estados, o que acontece igualmente nos EUA que apresenta valores brutais nos chamados déficits gémeos (comercial com o exterior e orçamental). O Japão mantém uma certa estagnação. Todos estes factores em nada ajudam a aumentar o sentimento de solidariedade dos países doadores. Este é pois um tema que nos merece ainda maior profundidade da discussão.