Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sábado, março 29, 2008

Batalha Naval

Lembrei-me de repente de um dos jogos favoritos da minha infância.

Longe das Playstations e outras tecnologias actuais, utilizávamos papel e caneta ou lápis.

Cada jogador dispunha em cada jogo de um papel quadriculado que simulava o mar e onde tinha de colocar a sua frota, desde os submarinos ao porta-aviões.

O jogo consistia então em escolher 3 tiros em cada jogada de forma a adivinhar a localização que o adversário tinha escolhido para a sua frota. Esses tiros ou acertavam em parte dos navios do adversário ou, eram tiros na água.

Era um jogo simples e muito divertido que misturava intuição e estratégia.

Lembrei-me dele a propósito dos muitos contributos que testemunhamos ao ler diversos jornais e revistas semana após semana.

Considerando os navios como problemas que temos de resolver no dia-a-dia, um objectivo poderia ser dar tiros nesses “navios”, de modo a afundá-los, leia-se, resolver os problemas.

Infelizmente, conseguimos atingir o paradoxo de ter um exército de pessoas a produzir bons artigos e a dar boas ideias mas que, ao não serem devidamente aproveitadas, representam tiros na água, perdendo-se ingloriamente essas mais valias.

É como se a vida não passasse de uma brincadeira, onde podemos pacificamente ignorar a urgência na resolução de problemas simples ou complicados.

Vivemos pois um tempo de desperdício. Desperdício de talentos, desperdício de recursos que assumimos como inesgotáveis.

Felizmente assistimos a um ressurgir de novos grupos e novos movimentos que insistem em “dar pedradas no charco”.

Resta-nos então acreditar no velho ditado:
“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”

Miopia internacional das PME - O caso Português

No âmbito da actividade profissional que tenho desenvolvido quer como consultor quer como formador nas áreas de comércio internacional tenho vindo a constatar que ainda existem grupos de empresários de PME que continuam com a chamada doença "miopia internacional".

Doença esta que no âmbito dos estudos consagrados a internacionalização ainda afecta muito
alguns sectores de actividade em Portugal. Quais são os sintomas dessa doença? Vejamos:

- Estratégia de exportação definida pelo lado da oferta e não pelo lado da procura
Exemplo de discurso: tenho um bom produto e a um bom preço............mas sem estudar a concorrência directa e indirecta no plano global de produtos semelhantes e alternativos existentes em outros mercados.

- Aquele meu amigo que tem a empresa A está a exportar para o País X ou Y logo eu também vou exportar e ser bem sucedido nesses mercados.

- O mercado Português está estagnado e aqui não vendo nada logo é melhor fazer as malas e ir a procura de mercados sem uma estratégia definida. Há uns tipos que dizem que o que está a dar é os PALOP, outros que falam na Europa Central e de Leste onde as míudas são giras..... Porque não ir até aos PALOP, pois, eu até conheço bem Angola,pois, o meu bisavô fez lá a tropa...........

- Há uns tipos nesses mercados que me querem comprar uns produtos......eu fui lá para vender o que fabrico que são produtos têxteis mas isso eles já lá tinham então conheci uns distribuidores que me pediram se lhes arranjava vinho. Pensei cá para os meus botões eu tenho uma amigo da Adega Cooperativa que quer exportar, pois, ele não consegue entrar com os vinhos deles nas grandes superficies pois o produto tem que ser referenciado logo sugeri-lhe para irmos vender o vinho deles nesses mercados onde estive........vou perguntar quantas caixas leva um contentor de 20 FCL de tinto do bom.......e mandar umas amostras com rótulo de portugal,pois, agora é só para eles verem o produto. depois logo se vê o que vai dar...já me estava a esquecer........essa empresa que quer comprar é um importador/distribuidor de relevo nesses mercados? quais os termos de pagamento a praticar? quais os termos de entrega? custos de logistica? quais são? custos de adaptação de embalagem foram feito? o meu amigo também me disse que isso agora não é relevante......isto é como vender a porta da fábrica - o Lado da oferta é que manda.......e o meu amigo vai 1 semana num ano a um desses mercados logo tem um elevado conhecimento desses mercados. Para que tanta interrogação sobre como efectuar as transacções internacionais? é uma perda de tempo!

quinta-feira, março 27, 2008

Jantar/Debate do FRES - As Cidades


Estimados fresianos e caros visitantes


O FRES realizou ontem no restaurante Kardápio em Lisboa mais um jantar debate cujo tema de discussão foi "As cidades como pólos de desenvolvimento local e regional".

Durante este encontro foram discutidos os diferentes papeis das cidades, quer como pólos de crescimento e desenvolvimento territorial, quer como modelos de atractividade de pessoas, saberes, cultura, ciência e conhecimento, quer ainda como factores de assimetria regional ou nacional. Os papéis e impactos do crescimento das cidades, criando por um lado fócus de desenvolvimento, sejam eles estruturais, económicos ou sociais, estão, por outro lado, a provocar desequilibrios urbanos, a incrementar indiçes de criminalidade e a intensificar fenómenos de desigualdae social. A problemática do que é uma cidade competitiva versus uma cidade não competitiva, (seus indicadores) foi também abordada.

Nesta óptica foi igualmente discutido e debatido se os indicadores que definem os vários conceitos ou critérios de competitividade de uma cidade (segundo o método do Fórum Económico Mundial) são os mais adequados.

Daremos em breve aqui notícias sobre as conclusões ou (ausência delas) relativas a este debate.

Saudações fresianas

sábado, março 22, 2008

O Empreendedorismo social e os Think Tanks


Falar hoje em Portugal sobre o que é um Think Tank representa, para a maioria das pessoas, falar de algo completamente desconhecido. É infelizmente assim num país que não devia estar distante destas temáticas dos grupos de reflexão mas sim integrado numa outra dinâmica e grau de desenvolvimento social e intelectual. Acreditem, pois temos no dia-a-dia a prova disto. Testem. Experimentem.

Se internamente os poucos Think Tanks que existem estão virados para dentro e apenas trabalham numa perspectiva de debate e reflexão, já nos países da Europa e EUA onde estes proliferam de forma muito significativa como verdadeiros núcleos de debate, reflexão, pesquisa e investigação, estes, estão completamente virados para fora. A sua acção desenrola-se na esfera da produção de debates, produção de papers e realização de trabalhos de pesquisa e investigação, divulgação e discussão de políticas de desenvolvimento e cooperação (terceiro mundo, Ásia, África, países vitimas de catástrofes, ciências médicas ou investigação biológica, molecular ou estudos sociológicos concretos, apenas para referir alguns exemplos).

Todas as semanas se realizam por exemplo em universidades americanas (através de think tanks académicos- ou em Bruxelas no âmbito da comunidade europeia através de think tanks oriundos de vários países especializados em temáticas diversas) workshops, reuniões, seminários ou conferências sobre os trabalhos que estes grupos desenvolvem. Neles trabalham imensas pessoas que escrevem e investigam sobre os temas em curso. Estes grupos são geradores dos seus próprios proveitos e receitas. Este movimento da sociedade civil é designado por empreendedorismo social. Voltaremos a falar deste tema em posts seguintes.

Temos falado muitas vezes destas ideias entre alguns de nós no FRES e pretendemos dar passos em frente neste sentido. No fundo sabemos que sem ousadia e ambição, atitude ou determinação nada nos distingue da multidão cinzenta que compõe a maioria da sociedade civil em Portugal. Pretendemos com tempo, paciência e perseverança ultrapassar as fronteiras deste país e levar as nossas ideias ou propostas ao centro da Europa onde estão aqueles que falam por nós e que nos devem representar. Sabemos como fazê-lo, falta-nos tempo e alguma organização. Mas fá-lo-emos sem dúvida.
Se pretendermos hoje ir a Bruxelas apresentar uma proposta, um paper, sabemos com quem falar e quando ir. Temos espaço aberto para nós. Porque não o fazemos agora? Talvez por difícil articulação da vida profissional. Mas vamos tentar? Será daqui a 1, 2, 5 anos…não sabemos. Mas podemos manter como linha de orientação esse objectivo e esse rumo.

terça-feira, março 18, 2008

Aprender a nadar

A propósito do sub-aproveitamento do valioso recurso que Portugal dispõe ao contar com uma enorme zona marítima sob sua jurisdição, o Professor Universitário Viriato Soromenho Marques teceu algumas considerações interessantes e importantes.

Quem tiver a curiosidade de conhecer um pouco mais sobre a sua obra pode visitar a sua página oficial

http://viriatosoromenho-marques.com/

Quanto às considerações propriamente ditas, elas alertam para a necessidade de haver uma consciência da importância estratégica que o Mar pode representar para Portugal, sobretudo numa altura em que os Países lutam cada vez mais pela posse e administração de recursos.

A enorme zona marítima que Portugal administra pode ser aproveitada não só pelos sectores tradicionais de pesca e navegação, como também pelo sector do turismo e pelo sector da energia; ainda numa fase embrionária, a exploração do Mar como fonte de energia renovável e não poluente, pode ter um papel importante a desempenhar, caso se verifiquem os estudos e avanços tecnológicos necessários.

Outra chamada de atenção que o Professor Viriato Soromenho Marques fez foi a de que é absolutamente vital uma conjugação de esforços. Essa conjugação visa o aproveitamento de capacidades, de forma coordenada e, tendo como suporte uma visão estratégica do Mar, integrando os diversos factores acima referidos.

Curiosa é também a referência a uma necessidade de sermos persistentes estrategicamente, rentabilizando as iniciativas do sector público e do sector privado e partindo de uma consciência do que temos e do que precisamos de ter para poder investir e ganhar vantagens económicas com o Mar que dispomos.

Não menos importante foi a chamada de atenção para o facto de, se nada fizermos e formos negligentes, não só perderemos o potencial económico como também poderemos passar a ter um Mar maltratado com todos os perigos que isso pode acarretar.

A forma sensata e fundamentada como expõe as suas ideias, visando amplos consensos, fez-me apreciar as suas considerações e sentir uma certa identificação com o que temos procurado fazer no FRES.

sexta-feira, março 14, 2008

Investimentos e urgência de criação de emprego

A semana que hoje encerra teve algumas boas notícias em termos de investimento, nomeadamente:

1. A La Seda de Barcelona, que tem como principais accionistas o grupo português Imatosgil e a Caixa Geral de Depósitos (CGD), anunciou o arranque da construção em Sines de uma fábrica de PTA (ácido teraftálico purificado, a matéria-prima de todas as formas de poliéster). Este investimento, louvado pela sua importância local e nacional pelo Primeiro Ministro Engº José Sócrates, representa um valor de cerca de 400 milhões de euros, permitindo à empresa espanhola passar de terceiro para primeiro “player” na Europa neste segmento.
A La Seda de Barcelona foi fundada em 1925 e é líder no mercado europeu de PET (polietileno tereftalato), o plástico utilizado em embalagens.
Pormenores interessantes sobre este investimento podem ser vistos em

http://www.mun-sines.pt/inovaemprego/documentos/apresentacao_artenius_ruisousa.pdf

2. Investimento a nível da Hotelaria

Hotelaria: Axis investe 12 M€ em Viana do Castelo
http://www.millenniumbcp.com/SME/middle/04/showNew/0,3532,3-20080311115958-DIARIODIGITAL----true-,00.html

3. Investimento a nível do Comércio

AKI investe 35 M€
http://www.millenniumbcp.com/SME/middle/04/showNew/0,3532,3-20080311134500-DIARIODIGITAL----true-,00.html

4. Investimento em Logística

Como síntese dos investimentos atrás referidos e para realçar a importância de continuarmos todos a trabalhar bem e a bom ritmo, transcrevo os seguintes parágrafos relacionados com esta notícia.

“ O primeiro-ministro, José Sócrates, disse na terça-feira dia 11 de Março, que a plataforma logística Lisboa-Norte, no concelho de Vila Franca de Xira, é um «elemento modernizador da economia» e que representa a confiança dos investidores estrangeiros em Portugal.
«Estou aqui hoje para sublinhar a importância deste investimento [plataforma logística], que é um instrumento modernizador da nossa economia«, afirmou hoje José Sócrates durante a cerimónia de lançamento da primeira pedra da plataforma logística de Castanheira do Ribatejo.
Na ocasião, o primeiro-ministro destacou a importância que o investimento empresarial estrangeiro tem para a economia portuguesa, salientando que Portugal «precisa de investimento modernizador e que dê emprego às pessoas«.
A plataforma logística, que estará concluída em 2018, representa um investimento de 265 milhões de euros por parte do grupo espanhol Abertis.
A nova infra-estrutura permitirá, segundo as estimativas da Abertis, criar mais de 5.000 postos de trabalho directos e 12.500 indirectos.
Para o primeiro-ministro, o investimento do grupo espanhol traduz «um elemento de confiança na economia portuguesa e nos portugueses«, o que significa «mais oportunidades de emprego«.
«Queremos que este investimento ande depressa porque há muita gente a querer trabalhar«, sublinhou.”

Esta é uma frase emblemática, que merece todas as análises e nenhum comentário em particular.

quinta-feira, março 06, 2008

Verde por 2 minutos

As questões ambientais têm tido uma importância crescente.

Somos diariamente bombardeados com muita informação pela televisão, jornais, revistas, etc.
A maior parte dessa informação consiste em guerras, violação de direitos humanos, desporto e factos políticos de duvidosa relevância.

Neste contexto, chamo particular atenção ao “ Minuto Verde”. Trata-se de um programa transmitido de manhã cedo e, como o nome indica, com a duração de apenas um minuto. Nele deparamos com pormenores interessantes sobre situações práticas diárias e sobre cuidados que algumas profissões necessitam de ter em atenção, para obter uma mais eficiente utilização de recursos.

Estas informações são fornecidas por alguns membros da Quercus, associação que todos conhecemos e que visa a defesa do meio ambiente.

A este propósito gostaria de fazer dois reparos ou sugestões:
- Julgo que se o programa fosse visualizado na dita “hora nobre”, abrangeria uma maior audiência, sendo um momento ideal para adquirir e aplicar conhecimentos no nosso dia-a-dia.

- Por outro lado, se em vez de apenas um minuto, onde tanta informação relevante é transmitida, pudéssemos contar com dois minutos diários, muito mais conhecimentos poderíamos adquirir, com benefícios para a nossa vida em casa, no trabalho e em todo o lado.

Violência contra as mulheres continua a aumentar

Amnistia Internacional divulga estudo com números preocupantes

“ Os números são alarmantes e revelam apenas a ponta de um iceberg. Um estudo hoje divulgado pela Amnistia Internacional indica que 4 portugueses são vítimas de crime todos os dias, sendo que as vítimas são essencialmente do sexo feminino.
De acordo com a Amnistia Internacional, os números agora divulgados indicam que o o fenómeno da discriminação de género continua enraizada no País e que as queixas conhecidas revelam apenas uma parcela dos casos reais conhecidos pelas autoridades. “
A 2 dias de se assinalar mais uma vez o Dia Internacional da Mulher, é com tristeza e apreensão que escuto notícias destas. Elas são o testemunho que muito ainda temos a percorrer para que as mulheres, TODAS AS MULHERES, sejam tratadas com o respeito que merecem.
A brutalidade e os maus-tratos, quer físicos quer psicológicos, que se infligem sistematicamente a homens, mulheres e crianças, são um verdadeiro acto de cobardia.
Lutarei como posso para combater essas maldades, que afectam maioritariamente as mulheres.
Nestes dias, e em especial no dia 8 de Março, múltiplas serão as iniciativas em todo o Pais, para homenagear e mimar as Mulheres em Portugal.
em
podemos ver que:
“No âmbito das comemorações do Dia da Mulher, Vila Real de Santo António tornar-se-á, durante três dias, a “Cidade da Mulher”, com actividades dedicadas ao público feminino.
Esta iniciativa da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António pretende homenagear todas as mulheres, não só do concelho, mas de todo o país, oferecendo-lhes a possibilidade de se dedicarem exclusivamente a si próprias durante três dias. “
Gosto de Vila Real de Santo António e gostava de lá estar nestes dias.
Mas o que gostava mesmo, mesmo muito, muito, muito, é que em breve não fosse mais necessário comemorar o Dia Internacional da Mulher.
Em vez disso, deveríamos todos ter a noção do valor desse ser tão igual a nós e ao mesmo tempo tão especial, e mimá-las todos os dias ou, no mínimo, respeitá-las.

terça-feira, março 04, 2008

Prons and Cons: Education´s true hour

Assisti ontem ao programa Prós e Contras sobre o tema educação. É de facto um programa único como poucos na televisão nacional e a não perder.

Como primeira conclusão refiro para já o seguinte: tinha assistido ao da semana passada sobre o mesmo tema, no qual participaram as partes litigantes – o Governo através da Ministra da Educação por um lado e os professores por outro - e comparativamente àquele, o de ontem sem as partes litigantes, antes debatido entre pessoas que pensam e trabalham a educação num contexto fora das partes beligerantes, foi muito mais profícuo, esclarecedor e interessante.

Depois várias questões relevantes foram abordadas pelos participantes. Quero aqui referir as que me pareceram ser de destacar. Não sendo de destacar quem disse o quê, apenas referirei as ideias que me pareceram essenciais.

Foi referida a necessidade de haver a criação de uma plataforma de intermediação do litígio hoje vigente entre professores e Ministério. Essa plataforma deverá ser composta por pessoas independentes, capazes, com competências e com prestígio suficiente para tratar o tema. No fundo uma intervenção cívica (ou um misto de) independente para mediar o conflito. Foi ainda referida a necessidade de vermos os professores como uma classe acima das disputas políticas, cuja importância da profissão é transversal a toda a sociedade portuguesa, devendo ser transcendental a todo este clima de quezília instalada. É aos professores que nós confiamos os nossos filhos para nos ajudarem a educá-los.

Outro interveniente referiu que hoje, o sistema de educação ao nível do ensino secundário, tal qual muitos de nós o conheceram e viveram, outrora de classe mundial, está hoje muito distante do melhor que existe nos países mais desenvolvidos ao nível da educação. A escola não se terá adaptado bem a uma certa modernidade, uma vez que há um novo paradigma a que chama a inteligência colectiva (com o advento da Internet) através do qual as pessoas agem, discutem e se expressam em grupo através da net, a qual tem hoje uma força que pode fazer mudar o estado das coisas e a perspectiva que se tem da realidade.
Diz o mesmo que por exemplo “lá fora” ou seja noutros países como os EUA, o grau de exigência, as temáticas de leitura e a atenção para todos os fenómenos de participação intelectual e cívica exigida aos alunos, não tem comparação em Portugal.

Um dos convidados da assistência regista uma ideia de salientar: a escola não pode e não deve estar vocacionada nem o sistema de ensino tampouco, para educar em função das necessidades das empresas, mas antes sim em função da felicidade dos alunos. Os alunos devem estudar e seguir as orientações, os cursos, os ensinamentos, as temáticas com as quais pretendem ser felizes. Esta busca da felicidade não pode ser condicionada de modo a que a escola apenas prepare as pessoas para trabalhar nas empresas. E a arte, as ciências, a literatura, a música, a pintura, a poesia e tudo o resto?

Outro dos convidados do debate reforçou a ideia que todos os intervenientes defenderam: é necessária a avaliação de professores. Deu como exemplo o facto de ter dado aulas na Inglaterra durante 3 anos e ter sido avaliado 2 vezes. Sem traumas e com toda a naturalidade é assim. Não se pode conceber uma profissão com a importância deste calibre sem as pessoas serem avaliadas.

Uma questão que esteve em aberto foi se os pais deveriam participar neste modelo de avaliação. Agora em minha opinião e também conforme foi referido por um dos intervenientes julgo que sim que é indispensável.

Tal como refere um dos convidados da assistência, recorrendo ao futebol como analogia, os treinadores são diariamente avaliados bem como os jogadores. É isso que os faz procurar ser melhores e vencedores. E os melhores avaliadores dos treinadores são os próprios jogadores. Também, pela mesma lógica de raciocínio, os pais podem ser bons avaliadores dos professores.

Finalmente ainda a destacar o facto de ter sido salientado que a disciplina, o esforço e a dedicação como factor essencial para uma escola de sucesso. Um dos convidados sublinha uma frase quanto a mim paradigmática: uma escola fácil não prepara os alunos para uma vida difícil.

Referiu ainda o aprumo e disciplina que testemunhou entre os alunos da Academia de Alcochete do Sporting como um exemplo a observar.

Não previmos isto no FRES quando há mais de um ano tomámos como tema mais relevante para trabalho a Educação. Parece que adivinhava-mos. Está como nunca na ordem do dia e prende a atenção das pessoas mais atentas e conscientes.

Agora esperemos pelo debate.

segunda-feira, março 03, 2008

Fuga das Estatísticas

Deveremos andar estatisticamente felizes por o número do desemprego baixar umas décimas ?

Há 3 semanas lia-se nas notícias que

“ Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que no quarto trimestre do ano passado a taxa de desemprego caiu uma décima para os 7,8%, e o número de desempregados atingia os 439,5 mil.”

Analisando estes números isoladamente até não parece muito mau. Mas numa altura em que aumentam o número de falências, com os sectores tradicionais de comércio e indústria a perderem dezenas de milhares de empregos, esta relativa “estabilidade” dos números do desemprego podem ter outras explicações.

Sendo um desafio interessante para os apaixonados da estatística, aqui fica a seguinte ideia:
- Porque não estudar a correlação entre a evolução do número de desempregados e a emigração no período dos 2 ou 3 últimos anos ?

Hoje li a seguinte notícia:

“ Portugueses em Espanha

Emigração para o país vizinho aumentou 40% em 2007

O número de portugueses a viver em Espanha aumentou mais de 40 por cento no ano passado. Madrid e a Galiza são as zonas preferidas de quem resolve emigrar e já são mais de 100 mil os que residem para lá da fronteira. “

fonte:
http://sic.sapo.pt/online/noticias/pais/20080303_Portugueses+em+Espanha.htm

Se a Economia Espanhola e outras, como por exemplo as do Reino Unido, França e Suíca, continuarem a absorver os nossos desempregados a um bom ritmo, os números manter-se-ão em níveis estatisticamente satisfatórios.

É claro que isso será mais uma vez fruto dos sacrifícios de milhares de compatriotas nossos que, não acreditando mais no futuro do nosso país, rumam a velhos destinos, onde o valor do trabalho parece (ainda ) ser reconhecido.

Os que cá ficam, deveriam estar atentos.
Estamos ainda longe do cenário de um ex-presidente do Brasil quando disse
“ O nosso país está à beira do abismo, mas vamos dar um grande passo em frente”.

Não é no entanto um exagero, alertar para o facto de os sinais de abrandamento da nossa economia ( sobretudo das milhares de pequenas e médias empresas que estão a travar lutas dramáticas pela sobrevivência ) começarem a ser muito fortes.

sábado, março 01, 2008

Defeitos e Feitios

A presidência do Conselho de Ministros aprovou recentemente o Programa pagar a tempo e horas.

No portal

http://www.dre.pt/pdf1sdip/2008/02/03800/0116701172.PDF

encontramos a Resolução do Conselho de Ministros n.º 34/2008
publicada no Diário da República, 1.ª série — N.º 38 — 22 de Fevereiro de 2008

Nela podemos ler que

“ Na economia portuguesa tem -se verificado a prática de prazos de pagamento alargados em transacções comerciais. De facto, vários estudos internacionais estimam que o prazo médio de pagamentos em Portugal seja significativamente superior ao praticado nos restantes países europeus. A prática de prazos de pagamento alargados é comum aos vários agentes económicos, onde se incluem alguns serviços das administrações públicas e algumas empresas do sector empresarial do Estado.
A redução dos prazos de pagamento nas transacções comerciais na economia portuguesa para níveis próximos dos padrões internacionais melhorará o ambiente de negócios, reduzindo custos de financiamento e de transacção, introduzindo maior transparência na fixação de preços, criando condições para uma mais sã concorrência. Por isso, o Estado deve contribuir para essa redução, acrescendo ainda que a prática de prazos de pagamento alargados pelas
administrações públicas e empresas públicas tem um efeito de arrastamento a toda a economia.”

Como sempre, várias considerações se podem tecer sobre esta iniciativa indo desde o esperançado “até que enfim uma medida importante” até ao descrente “mais uma medida para não sair do papel”.

Se é certo que não é por decreto que todos vão começar-se a comportar bem, não é menos certo que seria bem pior não fazer nada.

Hoje, a concorrência já não se faz apenas a nível local. Há muitos anos que pertencemos a um espaço económico mais alargado ( a União Europeia ) e cada vez se sente mais os efeitos da globalização ( concorrência a nível mundial ).

Estes factos, aliados a uma necessidade cada vez maior de aproximação e transparência de regras entre os múltiplos agentes económicos, levam-me a aplaudir esta medida do Governo.

Diz-se na gíria, com algum abuso e muitas vezes com pouca graça, que “para pagar e para morrer, quanto mais tarde melhor”.

Este espírito de que os prazos de pagamento não devem ser cumpridos, distorce fortemente as regras de concorrência, criando dificuldades tanto maiores quanto menor for a dimensão da empresa e a sua robustez financeira. Muitas pequenas e médias empresas vivem hoje em dia uma situação asfixiante, não porque não tiveram um bom desempenho comercial, mas porque os cumprimentos financeiros dos seus clientes deixam muito a desejar.

Este é mais um assunto que dá “pano para mangas”. Não quero no entanto alongar-me, dizendo apenas que gostava que este programa estatal ( logo destinado aos organismos e empresas da administração publica ) fosse visto também como um bom exemplo a seguir pelas empresas do sector privado, sobretudo por aquelas que, tendo capacidade financeira para cumprir os compromissos com os seus fornecedores a tempo e horas, não o fazem apenas porque se assiste a um abusivo, “quanto mais tarde se pagar, melhor”.