Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, setembro 30, 2007

Nós e o Sistema

Portugal é o segundo país da OCDE que menos tempo dedica à Matemática no currículo do 2º ciclo do ensino básico, de acordo com o relatório Panorama da Educação 2007, recentemente divulgado.

Segundo o estudo da OCDE, que refere dados de 2005, apenas 12% do currículo dos alunos portugueses com idades compreendidas entre os 9 e os 11 anos é dedicado à Matemática, o que representa menos 4% do que a média dos Países analisados.

Paralelamente a esta notícia, temos a novidade de pela primeira vez um jovem estudante luso ter alcançado uma medalha de ouro nas Olimpíadas Ibero-Americanas da Matemática 2007, realizadas em meados de Setembro em Coimbra.

Entrevistado após alcançar esse feito, o Jovem João Guerreiro, afirmou que este resultado se deve a um gosto natural que tem pela Matemática e a muitas horas diárias dedicadas a aprendizagem e solução de problemas com graus de dificuldades elevados.

Questionado sobre possíveis causas para a grande maioria dos jovens alunos portugueses demonstrarem aversão à Matemática e obterem notas fracas a esta disciplina, João Guerreiro apontou apenas uma causa, as poucas horas que a generalidade dos estudantes dedicam à aprendizagem da Matemática.

Desmistificando o “papão” da matemática, afirmou que a Matemática não se aprende com um estudo reduzido e intermitente. Na mesma lógica, dedicando horas de estudo a esta disciplina, toda a aprendizagem se tornará bem mais fácil.

Baseando nestas observações gostaria que manifestassem qual a vossa opinião sobre o facto de não obtermos o sucesso desejado; dever-se-á tal facto a um sistema desequilibrado e pouco motivador ou o grande “mal” reside em nós por termos aversão a tudo a que nos obrigue a um esforço mais dispendioso e duradouro? Somos apenas vítimas do sistema ou poderemos ter um papel mais activo e produtivo se nos esforçarmos mais?

Aguardo os vossos preciosos comentários.

sábado, setembro 29, 2007

11º Encontro do FRES


Estimados visitantes

Realizou-se ontem dia 28 a partir das 20 horas no Restaurante Kardápio em Lisboa, o 11º Encontro do FRES.

Foram debatidos o sistema nacional de educação, partindo de algumas propostas defendidas pelo Fórum de Liberdade de Educação – designadamente no que concerne à questão sobre a existência em Portugal de um sistema que garanta a aprendizagem com igualdade de oportunidades.

Foi ainda apresentado por João Mateus, seguido-se um debate, o sistema de ensino da Alemanha, na sequência dos trabalhos que têm vindo a ser efectuados pelo FRES.


segunda-feira, setembro 24, 2007

Portugal Hoje – o medo de existir


Portugal, como defende o filósofo José Gil no seu extraordinário livro cujo título está em epígrafe e se recomenda e que classifica o país como a nação da não-inscrição portou-se como um país fraco.

De facto os exemplos multiplicam-se pela sociedade sendo o último o episódio da vinda do Dalai Lama a Portugal o exemplo do que se afirma. Contráriamente à Áustria e Alemanha, em que os respectivos chanceleres se afirmaram e se “inscreveram” na importância, reconhecimento e respeito por esta visita, não cedendo às pressões do governo chinês para não receber aquela personalidade com honras de estado, em Portugal, assobiámos para o ar e mais uma vez cedemos às pressões (desta vez chinesas) não tendo a coragem necessária de tomar uma decisão auto-determinada. Não tivemos por isso a coragem de nos afirmar como nação de força. Falhámos de novo.

Aqui ficam alguns testemunhos do que José Gil considera ser o Portugal de hoje, o nosso Portugal, por outras palavras, o que para a posteridade ficará sobre o que todos nós somos.

A não-inscrição não data de agora, é um velho hábito que vem sobretudo da recusa imposta ao indivíduo de se inscrever. Porque inscrever implica acção, afirmação, decisão com as quais o indivíduo conquista autonomia e sentido para a sua existência. Foi o salazarismo que nos ensinou a irresponsabilidade – reduzindo-nos a crianças grandes, adultos infantilizados”.

Em Portugal não há espaço público porque este está nas mãos de umas quantas pessoas cujo discurso não faz mais do que alimentar a inércia, o fechamento sobre si próprios da estrutura das relações de força que elas representam”.

Numa palavra, o Portugal democrático de hoje é ainda uma sociedade de medo. É o medo que impede a crítica. Vivemos numa sociedade sem espírito crítico – que só nasce quando o interesse da comunidade prevalece sobre o dos grupos e das pessoas privadas”.

Em Portugal nada se inscreve, quer dizer, nada acontece que marque o real, que o transforme, que o abra. É o país por excelência da não-inscrição”.

Apesar das liberdades conquistadas herdámos antigas inércias: irresponsabilidade, medo que sobrevive sob outras formas, falta de motivação para a acção, resistência ao cumprimento da lei etc.

A não-inscrição não ocorreu apenas no plano político, mas em todos os planos da vida social e individual. Porquê? Porque nada há para se inscrever, nem uma ideia para o país, nem um destino individual”.

O medo é uma estratégia para nada se inscrever. Constitui-se, antes de mais, como medo de inscrever, quer dizer, de existir, de afrontar forças do mundo desencadeando as suas próprias forças de vida. Medo de agir, de tomar decisões diferentes da norma vigente, medo de amar, de criar, de viver. Medo de arriscar. A prudência é a lei do bom senso Português”.

Enfim, vale-nos de facto a nossa alegria na adesão às novas tecnologias, essa ousadia que não se espalha e não contagia a sociedade noutros planos da vida. O que é pena.

sábado, setembro 15, 2007

2008: ANO EUROPEU DO DIÁLOGO INTERCULTURAL

A União Europeia pretende que 2008 seja também assinalado como o Ano Europeu do Diálogo Intercultural.

A construção de uma Europa com uma identidade própria e mais sólida passa também pela difícil, mas não impossível, integração da diversidade cultural que compõe cada nação.
Nunca o mundo ( e a Europa em particular ) assistiram a fenómenos de migrações tão vincados como nos dias de hoje.
As cidades e as vilas de cada região europeia são cada vez mais cosmopolitas, criando necessidades maiores de entendimento entre povos e culturas diferentes.
O mote deste ano europeu do diálogo intercultural é simples mas notável. Pretende-se que em vez de falarmos das pessoas ( dos outros povos ) falemos com as pessoas. A subtil diferença destes dois estados de diálogo tem uma importância tremenda na capacidade de interagirmos com os outros.
Gostaria de lançar o desafio de também nós no FRES nos debruçarmos um pouco neste projecto de dimensão europeia. Estamos envolvidos em outras frentes mas, pode ser interessante acompanhar este projecto em que todos os cidadãos europeus são chamados a dar o seu contributo.
Conforme consta no seguinte site quem pretender, pode apresentar junto da Comissão Europeia, propostas de actividades a desenvolver para as comemorações de 2008: Ano Europeu do Diálogo Intercultural
Mais informações em http://ec.europa.eu/culture/eac/dialogue/call_idea_en.html

quinta-feira, setembro 13, 2007

José Hermano Saraiva


José Hermano Saraiva
"Historiador e jurista (n. Leiria 3.10.1919). Na Universidade de Lisboa licenciou-se em Direito (1940) e em Histórico-Filosóficas (1946). Exerceu a advocacia e o magistério nos ensinos secundário e superior, tendo sido professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina e na Faculdade de Letras de Lisboa. Foi ministro da Educação Nacional (1968-1970) e embaixador de Portugal no Brasil (1972-1974). É o secretário-geral da Academia das Ciências de Lisboa. (...) Granjeou grande audiência com programas televisivos de divulgação histórica, ao revelar grandes qualidades didácticas e invulgar poder de comunicabilidade.(...)"
OLIVEIRA, Manuel Alves de, O Grande Livro dos Portugueses, Lisboa, Círculo de Leitores, 1991, p.459

Nunca aceitei pacificamente as homenagens póstumas. Não deixando de reconhecer a importância de se homenagear a memória das pessoas, julgo que em tantos casos poderíamos também fazer uma pequena homenagem em vida a pessoas que tanto contribuem para o bem da Nação.

Sempre preocupados em criticar negativamente, torna-se um pouco mais difícil o exercício de procurar pessoas a quem se poderiam eventualmente prestar homenagens pela sua obra e pela sua nobreza de carácter.
O primeiro nome que me ocorreu foi o do Professor Doutor José Hermano Saraiva. Lembro-me de quando era mais novo ter uma certa antipatia por “ aquele senhor aborrecido” que falava de assuntos que me pareciam ter pouco ou nenhum interesse.
Felizmente a evolução tem destas coisas. Com o passar do tempo crescemos, reanalisamos o mundo que nos rodeia e vamos criando novas estruturas de valores.
Quando repetidamente falamos em dar o nosso contributo para um Portugal melhor, não posso deixar de realçar o notável papel que este Historiador e Jurista tem tido ao longo de décadas, trazendo até nós um inesgotável filão de episódios reais e lendas da nossa história.
Mas se existir ainda alguém que pensa que ele se resigna a ser um “contador de histórias” desengane-se. José Hermano Saraiva tem sabido no presente, falar-nos do passado e projectar-nos para o futuro. Percorrendo todos os cantos de Portugal, em cada um descobre sinais particulares de interesse, realçando o que de bom e diferente tem essa terra.
Bom e diferente; com admirável entusiasmo, ensina-nos a todos que para sermos competitivos face a tantos concorrentes nacionais e estrangeiros, um dos caminhos que todos e cada um de nós pode trilhar é o caminho em que não basta sermos bons mas torna-se absolutamente indispensável demonstrar ao mundo que somos diferentes. Que os traços da nossa cultura, das nossas tradições, dos nossos produtos, são únicos e valiosos. Será essa a mais valia que poderá fazer com que uma pequena e aparentemente esquecida região, seja incluída em roteiros turísticos e culturais, com óbvias repercussões económicas.
Obrigado Professor, por tanto nos ensinar sobre o nosso passado, e por nos indicar caminhos para o futuro.

sábado, setembro 08, 2007

Modelos Politicos e Económicos e o papel do Estado

Estimados Fresianos,

Tenho estado ausente dos vossos debates sobre qual o modelo ideal? o Estado Social ou Estado Liberal?.
Na minha modesta opinião têm vantagens e desvantagens. Não existem modelos perfeitos. O modelo ideal neste momento é a chamada democracia social de mercado que já existe em Países como Dinamarca, Suécia e Finlândia já que combina liberalismo económico com regulação do estado em diversos sectores como a educação, justiça, segurança social, defesa nacional e sáude.

Para além disso este modelo tem como pilar uma consciência nacional e colectiva em que se dá primazia ao Estado de Direito, Liberdades e Garantias individuais, isto é a liberdade individual no âmbito das actividades económicas e politicas não é posta em causa pelo Estado.

Em Portugal estamos numa fase de adopção de modelos quer pelas familias politicas da esquerda ou da direita. Algum partido de esquerda se digna hoje a defender o colectivismo e a propriedade colectiva dos meios de produção?. A Esquerda socialista ocupa o espaço politico do PSD (Social democracia) e implementa reformas e politicas públicas que se fossem realizadas pelo PSD ou PP seriam consideradas medidas de direita. Porque é que isto acontece? após a queda do muro de berlim e a desintegração do sistema soviético as referências politicas quer dos partidos socialistas e comunistas no espectro politico europeu passaram a ser outras. Hoje assiste-se a chamada desideologização da vida politica já que como dizia Francis Fukuyama " estamos na época do fim das ideologias" dada a economia de mercado ter vencido. Será que é totalmente válida esta tese?
Também não concordo com Fukuyama em absoluto.
A democracia liberal e a economia de mercado ainda não está totalmente implementada em todos os Estados que compõem o sistema internacional apesar de a globalização diminuir cada vez mais o campo de intervenção do Estado.
O Estado ainda continua a ter um papel estratégico em áreas como diplomacia, segurança interna e defesa nacional e em muitos Países ainda assume um carácter intervencionista de forma a impedir a desregulação dos mercados principalmente quando existem situações em que empresas estrangeiras efectuam aquisições de empresas nacionais.

Em jeito de conclusão podemos afirmar que os modelos politicos e económicos são dinâmicos e que o papel do Estado é maior ou menor tendo em conta o maior ou menor grau de liberdade individual existente nesse País. Em Países onde o Estado é mais paternalista as liberdades individuais são sem dúvida menores já que mesmo que se queira expressar a liberdade individual de cariz económico existem sempre limitações regulatórias por Parte do Estado. Tudo pode mudar nesses Estados quando a liberdade ou consciência colectiva for uma aglutinação das das liberdades individuais dos cidadãos tal como acontece no sistema escandinavo.
Se a consciência colectiva é fruto do Estado e não dos cidadãos então não existe verdadeira democracia liberal.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Educar tem de voltar a estar na moda

A propósito da consideração da nossa colega Estela sobre as Ideologias parecerem estar fora de moda, apercebi-me do tremendo impacto que as modas exercem sobre as nossas acções e pretensões.

As televisões nacionais decidiram há vários anos, colocar no dito horário nobre diário, um inesgotável rol de telenovelas e reality shows. Nas horas a que a maioria dos cidadãos conseguem estar em frente do pequeno ecrán, os programas educativos tornaram-se um oásis. Educar deixou de estar na moda.

Ultrapassando os limites da educação escolar e considerando a educação no sentido lato ou seja, o somatório das várias vertentes da educação que devem acompanhar a nossa vida, a maioria de nós reconhecerá que a educação é o pilar do desenvolvimento de cada ser humano e da relação que estabelece com o meio envolvente.

Muitas das nossas acções e pretensões esbarram numa tremenda falta de cultura educacional que testemunhamos nos dias de hoje. Massacrados por uma longa “campanha de desinformação”, cada vez temos mais dificuldades em que os outros escutem e reflictam sobre as ideias que lançamos.

Para um maior sucesso das muitas propostas que iremos continuar a fazer, seria também muito importante que a educação voltasse a estar na moda.

sábado, setembro 01, 2007

A China e a Índia


Ainda a propósito dos nossos debates sobre a India e a China e o seu impacto no contexto mundial, deixo aquei algumas pérolas de um livro fantástico de Federico Rampini: China e India – as duas grandes potências emergentes.

“ Perguntei a um indiano as mesmas perguntas que a um chinês que não me soube responder o seguinte – O que será a India daqui a vinte anos e em que direcção o emergir da India como superpotência pode levar o mundo?

A resposta impôe-se a si mesma e foi seguinte – A India não muda o mundo, a India é o mundo. A India , pela sua atraente diversidade, mistura de identidades culturais sedimentadas pela história, a coexistência de extremos socioeconómicos e contradições, até mesmo os conflitos políticos latentes entre comunidades étnicas e religiosas, contém todo o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro.

“ A china está concentrada na indústria enquanto a India se evidencia no sOftware, na consultadoria e nos serviços...na China, criam novas fábricas na India laboratórios e vão para a frente, de preferência, aqueles empregos onde a comunicação em tempo real é indispensável.”
“Se chineses e indianos colaborarem e aprenderem uns com os outros, a ascenção destes dois países será irresistível”.