Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sexta-feira, março 31, 2006

Uma área que necessita de ser apostada com mais determinação por parte das universidades é a do empreendedorismo. Faz falta ao País e ás empresas. Esta, é uma temática que extravasa os limites da Universidade mas, é aqui que se deve começar a trabalhar o conceito. As Universidades não desenvolvem os seus alunos num conjunto de competências chave que lhes permitem encarar de uma forma mais inovadora e criativa o mercado de trabalho, ou seja um curso superior deveria criar valor nos alunos em termos de desenvolvimento do potencial e capacidade de trabalho e no apurar do espírito crítico para que os futuros trabalhadores aprendam a tomar decisões e iniciativas. Há que aproveitar todos esses factores e levar a que se dêem passos que de outra forma jamais seriam dados. Há que exercitar e estimular as mentes. No caso do empreendedorismo, não significa que todos os alunos tenham de criar uma empresa, mas podem e devem tornar-se pessoas mais empreendedoras. As Universidades, hoje em dia, para além do papel fundamental de ensinar e investigar devem também assumir o papel de incentivar e incutir esse espírito nos seus alunos.
Por outro lado, é importante que as empresas criem nas suas estruturas e propósitos corporativos um ambiente propício para o desenvolvimento e implementação destas NOVAS competências.
Para fazer a ponte ( faculdade-mundo laboral) de uma forma construtiva as empresas devem possibilitar ( durante os cursos) aos alunos, pequenos estágios ( blocos de 6 meses) , nos quais, devidamente acompanhados, os alunos poderão liderar pequenos projectos que estimulem precisamente o desenvolvimento destas competências.
Para isso, deveriam ser canalizados apoios e incentivos ( estatais e privados) e a função de uma vaga de estágio deverá ser a de permitir um primeiro contacto e experiência profissional relevante , e não a de “ encher chouriços” à custa de mão de obra “barata”.
Falamos tanto do desemprego entre os jovens licenciados mas, esse desemprego existe em parte, porque esses jovens não saem preparados das faculdades para assumir as tarefas profissionais que o mercado exige, e porquê? Porque as faculdades estiveram 4, 5 ou 6 anos a encher e a atafulhar os cérebros dos jovens com factos e fórmulas, em vez de os ensinar a pensar, a serem criativos, a desenvolverem a auto-estima e a interligar os conhecimentos teóricos com experiências práticas adquiridas em diversos períodos de estágios em empresas.
Estágios estes que poderiam estar inseridos no âmbito de, por exemplo, acordos celebrados entre entidades patronais e universidades, apoiadas pelo governo, fazendo parte do currículo universitário sem os quais os estudantes não poderiam obter a tão almejada licenciatura.

segunda-feira, março 27, 2006

Desenvolvimento, interesse nacional e cultura

Sabemos já que não vale a pena copiar modelos económicos! Cada povo, cada cultura, um modelo. É desta adequação que nasce o desenvolvimento e o progresso. É algo que os economistas tentam compreender e que é tb fonte de crítica ocasional do público em geral. O enquadramento da análise económica em modelos diferentes dá origem a visões diferentes e aparentes desacordos na interpretação do presente e estimação do futuro.
A diferença de opiniões é saudável, principalmente quanto a assuntos para os quais não existem soluções exactas e absolutas! Os economistas não são nem têm que ser uma espécie de partido de classe que precise de se preocupar com uma imagem de coerência para o exterior - imaginem-se reuniões periódicas da ordem dos economistas, cujas deliberações fossem vinculativas, em que se decidisse a corrente de pensamento, interpretações sobre o estado da economia e estimativas a adoptar por todos os economistas membros - absurdo! No entanto, também é verdade que a situação conjuntural das economias pode ditar a maior ou menor adequação de determinada corrente de pensamento.
A tendencia de defesa do "interesse nacional" na economia através da "protecção" dos centros de decisão nas grandes empresas também já não convence. Olhemos para outras economias, e outras culturas, abertas e cosmopolitas, e atente-se ao seu desenvolvimento, patente nos níveis de rendimento, produtividade, de criatividade institucional e de inovação tecnológica. São a justificação do foco na relação equilibrada entre os agentes económicos nos mercados, em detrimento da defesa deste ou daquele "centro de decisão", nacional ou não. A relação equilibrada entre os agentes garante o poder ao mercado como um todo, num lugar onde a procura (o consumidor) tem a possibilidade de escolher entre ofertas alternativas que concorrem pela sua atenção, pelo seu dinheiro, pelo seu voto. Ganha a melhor oferta, ganha o consumidor, ganha uma economia onde sobrevivem as melhores empresas, não as mais subsidiadas, ganha o Estado que recebe mais impostos e concede menos subsídios, ganhamos todos!
Quanto à cultura, parece-me útil o autoconhecimento para enquadramento no que seria um modelo mais "adequado" a Portugal. Sempre com a ressalva de que é sempre possível mudar, mesmo a cultura. Um bom ponto de partida para esse autoconhecimento, numa perspectiva de comparação com o resto do mundo é o estudo de Hoefstede, onde os portugueses aparecem com traços culturais que podem ter tido alguma alteração desde o tempo em que o estudo se efectuou, mas que ainda assim nos dão uma visão da nossa posição no mundo. As diferenças entre portugueses e espanhóis são gritantes! Atente-se às semelhanças com algumas culturas Norte-Europeias ...

Adesão à CEE

Comemorou-se hoje em Bruxelas os 20 anos de adesão de Portugal e Espanha à CEE. Para isso o 1º Ministro Sócrates esteve presente na comemoração desta data. Agora o que julgo ser relevante e merecedor de partilha com todos vós são os números!

Em 20 anos Portugal recebeu da Europa 48 mil milhões de euros de fundos comunitários para o desenvolvimento. Imenso não nos parece? O equivalente a 1/3 do PIB nacional!
E a opinião quase generalizada é que este fundos foram demasiados e ineficientes. Para uns, uma vergonha, uma desgraça para outros, uma benção para tantos, um factor de desenvolvimento e uma ajuda inestimável para ainda outros tantos. Uma economia dependente de Bruxelas disseram alguns.

Arrisco a dizer que eram necessários, bem vindos e justos, mas mal aproveitados uma vez que não investimos o suficiente na formação, na educação e conhecimento, na formação profissional, social e humana. Não investimos o suficiente na preparação das empresas para a internacionalização nem tão pouco na investigação e inovação ao nível das novas tecnologias. E acima de tudo não se geriu de forma rigorosa todos estes fundos. E por isso falámos mal de nós, dos empresários, dos politicos, enfim... de todos nós portugueses.. como habitualmente.

Agora o caso Espanhol: os espanholitos receberam mais do dobro dos fundos destinados a Portugal. Exactamente 100 mil milhões de euros no mesmo período! O que dizer então deste facto? Mereceram mais do que Portugal? Justificaram mais do que Portugal? E quanto à sua utilização? foi melhor ou pior que a portuguesa? Claro que ouve boas e más utilizações e também desvio de utilizações para fins menos próprios. O que é certo, pelo menos para mim, é que nunca ouvi os espanholitos a dizer mal de si próprios, em especial a divulgar aos quatro ventos que os fundos europeus foram desbaratados para fins desadequados.

A questão de Espanha foi mais de estabilidade política (4 governos em 30 anos contra 23 ou 24 em Portugal).

E cá continuamos nós a dar tiros nos pés...


Mário Jesus

sexta-feira, março 17, 2006

E os desafios para Portugal ?

Os desafios para as empresas portugueses que pretendem celebrar sucesso em mercados cada vez mais globais, são muitos e difíceis.
Todavia as empresas são constituídas por pessoas e são estas que estão por detrás de cada caso de sucesso ou insucesso.
A esmagadora maioria das empresas portuguesas são PME´s, cujos destinos, ou melhor dizendo, a responsabilidade da delineação do rumo estratégico a seguir se encontra, muitas das vezes, concentrada nas mãos de uma só pessoa.
Por razões históricas essa pessoa, regra geral, foi o fundador da empresa, esteve na origem da ideia inicial e no desenhar do primeiro plano de negócios, e assim se manteve. Todavia, as empresas vão evoluindo, mas, a organização delas e a capacidade de decisão nem sempre sofreu grandes alterações ao longo dos tempos.
Num mundo complexo, recheado de incertezas, enquadrado num cenário de mudança os nossos empresários necessitam urgentemente de planear estrategicamente. O que significa isso?
Bem, o tema tem sido objecto de constantes debates, inclusive nas campanhas eleitorais, mas existe alguma confusão na interpretação do mesmo.
A essência do Planeamento estratégico para as empresas resume-se, na minha opinião, no colocar de, e responder a, 3 questões chave;
1.) Descobrir o posicionamento em de uma empresa dentro do seu mercado, e qual a Sua competência “core (Missão dessa empresa) ,2.) definir o espaço de negócios que ela pretende vir a ocupar no futuro ( que tipo de oferta ( produtos e/ou serviços) ela pretenderá vir a oferecer e que nichos de mercado ela deverá vir a servir. ( testemunho de visão ). 3.) a forma de como ela pretende vir a atingir esses objectivos ( Plano de negócios ), para isso os lideres dessas PME´s deverão ter a capacidade de conduzir a sua organização através de todo o processo de mudança condicionado por um ambiente Macroeconómico bastante diferente daquele que tínhamos há uns anos atrás.
Existem algumas ferramentas de análise que podem ajudar (ex: SWAT) mas a competência mais importante para vencer este desafio é, na minha opinião, a capacidade de liderança.
Uma liderança que tenha um estilo marcadamente participativo, ou seja uma liderança que tenha por base a capacidade do gestor em inspirar e motivar os seus colaboradores no atingir dos objectivos propostos, aprendendo a delegar, incentivando a iniciativa individual, envolvendo os colaboradores na definição de objectivos e estratégias criando uma cultura empresarial que seja caracterizada por um novo estilo, mais transversal do que vertical ou seja contrário ao modelo tradicional do: “ quero, posso e mando, e quem está mal… muda-se.”
A minha visão é a de que podemos fazer a diferença no nosso país e nas nossas empresas, se “educarmos” os nossos gestores para um novo estilo de liderança que seja inovador e criativo, precisamos de instituir, comunicar e partilhar novos valores corporativos, os nossos gestores necessitam de espelhar uma imagem de entusiasmo, paixão, inspiração, ambição e uma vontade inabalável de vencer.
Criar um ambiente empreendedor dentro das empresas é acima de tudo viver, acreditar e partilhar em todas as situações um sentimento de que vale a pena apostar numa formação profissional adequada e contínua adaptada e desenhada de acordo com as necessidades pessoais de CADA colaborador. A Formação contínua deve ser como uma ida ao alfaiate; cada funcionário deve ter acesso a um pacote de formação individual “feito à medida”.

quarta-feira, março 15, 2006

Portugal Desafios para o futuro

Portugal Desafios para o futuro

(Breve resumo do artigo publicado na edição de Março de 2006 da revista Economia Pura)

“Falta a Portugal a ousadia, capacidade de inovação e de assumir riscos, bem como o atrevimento necessários para criar produtos e serviços de design modernos, com campanhas de promoção agressivas.

Posição geográfica
Plenamente integrado geograficamente no espaço económico, político e social europeu e membro de pleno direito da União Europeia (UE), Portugal está contudo em posição geográfica periférica relativamente ao centro da UE a 25. Por outro lado posiciona-se no centro do triângulo ocupado nos seus vértices pelo Brasil (e América Latina), Europa Ocidental e pela África lusófona (entendida aqui como os países africanos de expressão portuguesa ou PALOP). Este é assim um eixo determinante para Portugal no futuro.

Brasil. As razões a favor do reforço destas relações explicam-se pela própria História dos dois países e em especial pelo papel que Portugal desempenhou enquanto potência colonizadora
Europa. Portugal deve procurar manter-se no que se designa por “pelotão da frente” ou no grupo dos países que correm na “primeira velocidade”. É indispensável que seja cumprido o Pacto de Estabilidade e Crescimento como forma de o País se disciplinar ao nível das finanças públicas e na gestão das variáveis macro-económicas. Cumpridos estes objectivos, estará em melhores condições para atingir um nível de estabilidade económica (e política) indispensável ao crescimento e desenvolvimento social futuros
África. Os países lusófonos são uma excelente plataforma para o relançamento português ao nível económico e empresarial no quadro africano, uma vez que representam mercados alternativos para as empresas e empresários nacionais.
China. Este caso é paradigmático: a presença portuguesa por 500 anos em Macau (eis de novo a importância da História) pode representar um trampolim de acesso à China, dados os sinais da presença Portugal ao nível cultural, económico ou empresarial naquele território.

Educação e escolaridade
No quadro interno são inúmeros os desafios que Portugal vai ter de enfrentar num futuro próximo. De entre estes considero que a problemática da educação e escolaridade é, talvez, a mais determinante de todas as apontadas para o sucesso no futuro. Existe um excesso de oferta a nível universitário dado o elevado número de universidades para os estudantes actuais e potenciais do País havendo também a necessidade de apostar de forma mais vincada no ensino de cariz técnico-profissional.

Organização empresarial
O desafio da produtividade tem muito a ver com três factores essenciais, que, no meu entender, são os principais determinantes para a sua melhoria: a atitude perante o trabalho; as formas de organização empresarial e as competências de gestão dos empresários.

Segurança social
É neste campo que Portugal tem outro dos principais desafios a enfrentar.
Há cerca de 15 anos existiam 8 trabalhadores no activo para cada reformado, hoje este rácio passou de 4 para 1, sendo possível que, daqui a alguns anos (poucos), seja de 2 para 1. Este problema foi agravado na última década com a implementação pelo Estado e empresas (públicas e privadas) das reformas antecipadas.

Emprego
Hoje o desemprego é um dos principais problemas de fundo da sociedade portuguesa e é o que pode provocar não só instabilidade social mas também restrições no consumo interno (menos rendimentos disponíveis para gastar) e ao nível da produtividade agregada (menos indivíduos no activo).

Exportações e internacionalização
Um último ponto: a internacionalização empresarial do País. Se estivermos atentos chegamos à conclusão de que os chamados tradicionais sectores de actividade económica, onde Portugal apresenta elevada experiência, know-how, qualidade e capacidade competitiva, são, na sua maioria, sectores tipicamente exportadores, onde parte dessa competitividade foi obtida (e discutida) nos mercados internacionais. São disso exemplos o sector da cortiça, cristalaria, faianças decorativas, cerâmica, moldes, cortumes, têxteis e calçado, ou dos vinhos (sobretudo os do Porto).
Falta a Portugal enquanto país (e a muitos empresários) a ousadia, capacidade de inovação e de assumir riscos, bem como o atrevimento necessários para criar produtos e serviços cuja oferta se caracterize pela credibilidade, fiabilidade, prestígio e notoriedade, associados a conceitos de design modernos, acompanhados por campanhas de promoção agressivas quer do ponto de vista institucional (do País) quer do ponto de vista empresarial.”

Mário de Jesus

sexta-feira, março 10, 2006


Fala-se hoje tanto na falta de competitividade das empresas portuguesas face ás suas congéneres estrangeiras, da necessidade emergente em ser criado valor para os seus accionistas e do fraco “rendimento” da nossa economia. As sociedades modernas não são economias de mercado, são economias de organizações em que as empresas são o factor fundamental na criação de valor e no progresso económico, ou, tal como Peter Drucker afirmou:” as organizações são a principal invenção da sociedade moderna e no centro delas está a criação de valor”. Mas o que significa a criação de valor? Do ponto de vista financeiro e duma forma muito simplista podemos afirmar que uma empresa estará a criar valor se o resultado da produção de um bem tiver um retorno financeiro maior do que o valor dos recursos investidos no seu fabrico.
Todavia, a questão fundamental, na perspectiva de
Sumantra Ghoshal, não é, como "comer" o máximo de um valor criado mas sim como criar novo valor, pelo que, a missão das organizações comerciais que concorrem num determinado mercado não deve ser a de tentarem apropriar-se da maior fatia desse valor, pois, assim, os interesses delas não são compatíveis com os da sociedade.
Para se adaptarem melhor a este cenário de mudança as empresas portuguesas precisam de estratégias não lineares para criar “o tal “ novo valor, ou como afirma Gary Hamel, de desenvolver as suas capacidades de continuamente redesenhar produtos e conceitos de serviços, recriando as fronteiras dos mercados. No fundo, trata-se de reinventar as regras do jogo.
Existe hoje um consenso generalizado de que vivemos num mundo cada vez mais globalizado e não linear, marcado por uma nova geração de consumidores, que não são tão "leais" como as gerações anteriores, que são mais "experimentais", pelo que, vivemos num mundo económico mais "aberto". A maior parte das estruturas empresariais portuguesas estão obcecadas por uma tentativa sistemática de "apanhar" as líderes de mercado, todavia ,na maior parte dos casos, nunca o conseguem e perdem muito tempo em "benchmarking" e a analisar relatórios de vendas e índices de performance, mas, não resolvem a equação.
As organizações verdadeiramente inovadoras são as que são capazes de revolucionar a sua estratégia. Criar novos conceitos e reinventar os moldes em que operam.
Para que isto aconteça a missão das nossas empresas deverá ser, na minha opinião, a de desenvolver um processo incubador de gerar novo valor e não um objectivo predador de apropriação do valor existente. Uma firma é também uma instituição social e não só económica, ou seja o objectivo não deverá ser o de ganhar cota de mercado, apenas baixando preços e níveis de serviço existentes, reduzindo custos à conta de trabalho precário, não qualificado e mal remunerado esperando assim sobreviver à custa de praticar os preços mais baixos, mas sim, o de procurar e criar novas oportunidades de negócio bem como novos nichos de mercado criando assim o tal novo valor que apoie a criação de postos de trabalho qualificados contribuindo para a comunidade em que está inserida também em termos de pagamentos de impostos suplementares adjacentes a uma melhoria de margens, lucros e vendas.
O preço é, como se sabe, apenas, uma das dimensões da competitividade, e, para celebrar sucesso no futuro as empresas portuguesas necessitam de inovar e reinventar as suas estratégias, para isso, precisam de inspirar e motivar os trabalhadores para atingir os objectivos propostos nessas novas estratégias, aplicando um novo estilo de liderança, um estilo participativo em que tentem captar e fomentar a imaginação e criatividade de cada colaborador.
Para tal os gestores de topo deverão abdicar do seu “direito” exclusivo no delinear de estratégias envolvendo também outros níveis hierárquicos internos nessas análises e discussões, deverão concentrar os seus recursos numa busca incessante de procurar em fornecer novos benefícios para os Seus clientes e travar uma luta sem quartel a todos os factores internos que inibam a criatividade.
Os empresários portugueses necessitam de aprender a encorajar o empreendedorismo a todos os níveis, aprender a celebrar e partilhar sucesso, banir a nostalgia em relação a modelos de negócio obsoletos criando novos e vibrantes mercados internos nos campos da inovação a fim de reter e atrair capital financeiro e humano.



quarta-feira, março 08, 2006

Notoriedade e Imagem positiva

Em recente conferência realizada em Lisboa pelo Banco de Portugal, subordinada ao tema do desenvolvimento económico de Portugal no espaço Europeu, foi apresentado por um dos oradores um modelo de desenvolvimento económico para uma melhor competitividade para Portugal, no meu entender, no mínimo discutível. Não pretendendo referir aqui todas as premissas apresentadas nesse modelo, gostaria apenas de mencionar algumas das questões que me pareceram mais relevantes e objecto de alguma controvérsia.

Defendia esse modelo, a necessidade de proceder a uma desvalorização real dos salários, como forma mais eficaz e imediata de resolver os problemas da falta de competitividade nacional, pelo facto de este caminho poder proporcionar um impacto menos negativo (em termos de desemprego) no processo de ajustamento da economia Portuguesa. Curiosamente esta ideia faz-me recordar o modelo passado de competitividade com base nos baixos salários. Esta proposta era em parte baseada no facto de se verificar, dentro de um determinado período de tempo, um crescimento nominal dos salários e dos custos unitários do trabalho, acima do crescimento da produtividade.

Defendia igualmente este orador (e aqui não estarei em desacordo) que o país deveria investir num turismo vocacionado para os centro Europeus, em idade de reforma, cujos rendimentos que dispõem lhes permitem usufruir (e exigir) de uma oferta turística de alguma qualidade de acordo com as suas necessidades e expectativas. Esta oferta deverá no entanto ser oposta à oferta tradicional e baseada num portfólio diverso de produtos e serviços mais sofisticados, como por exemplo a qualidade de serviços de saúde.

Segundo o autor, este modelo de desenvolvimento com base no crescimento e diferenciação do sector turístico, deverá ser adoptado em vez do tão defendido modelo de desenvolvimento económico português baseado no conhecimento e no desenvolvimento de novas competências nas novas tecnologias. Neste ponto não poderia estar mais em desacordo. Não por não acreditar no turismo.

Em face das soluções atrás referidas, chego à conclusão que o país revela uma necessidade absoluta de investir na sua imagem e notoriedade. Senão vejamos.

Se é certo que para combater os problemas da produtividade, esta deve crescer a taxas superiores às taxas de crescimento nominal dos salários bem como dos custos unitários do trabalho, quanto a mim esta não deve ser a abordagem prioritária para combater o fraco crescimento da produtividade em Portugal.

Não nos esqueçamos de algumas das variáveis do modelo de crescimento e desenvolvimento da Irlanda: aposta determinante na educação e conhecimento como valorização dos recursos humanos, controlo das despesas públicas correntes, redução dos impostos sobre as empresas (o que contribuiu para intensificar o investimento directo estrangeiro) e que permitiu aumentar a produtividade.

Para Portugal o problema essencial passa por: grande investimento na educação e formação – desenvolvimento de novas competências – elevação da motivação – elevação da produtividade per capita e agregada – aumento da competitividade em termos internacionais.

Voltando à questão da imagem e da notoriedade do país, é essencial divulgar lá fora o que de bom e positivo temos vindo a construir nos últimos anos. Como é possivel não nos lembramos dos casos de sucesso e de excelência desenvolvidos internamente em sectores como o das tecnologias de informação e comunicação ( telemóveis pré-pagos, sistema de pagamento da via verde, mapas e livros virtuais, jogos virtuais, ritmo de penetração da internet nas escolas e nas empresas e adopção destas novas tecnologias). Observemos o ritmo e intensidade com que aderimos aos sistemas de pagamento electrónico, como o Multibanco, os cartões de crédito ou o uso do telemóvel ou dos contactos via SMS, para facilmente concluirmos que, ao nível das novas tecnologias, somos early adopters.

Veja-se ainda o sucesso de algumas das nossas empresas de telecomunicações no exterior, em mercados tão distantes como o Brasil ou Angola. E que dizer ainda dos prémios ganhos por alguns dos nossos compatriotas inventores em concursos internacionais? Casos que, infelizmente por falta de investimento em capital, ou porque simplesmente não se revelam rentáveis no curto prazo, são esquecidos. Estes são activos que o país não pode descurar.

Também no campo da genética e da biotecnologia, temos exemplos de sucesso, onde podemos encontrar empresas que desenvolvem investigação na procura de medicamentos aplicados na cura de doenças como o cancro ou que se dedicam ao trabalho de investigação em células estaminais. Estamos a Investir em Portugal em parques de biotecnologia (como o de Cantanhede). Estas nossas empresas são já reconhecidas internacionalmente.

É um facto que Portugal tem um bom activo que é a oferta turistica, a qual não esgotou o enorme potencial que representa como factor de crescimento económico e de competitividade futura. Aqui estou de acordo com o nosso orador. Portugal, para além de bom sol, boas praias, excelente gastronomia e bons vinhos é também pacatez, segurança, estabilidade politica e social. Estes são bens e serviços transaccionáveis, que nos permitem criar uma oferta de elevada qualidade e sofisticação.

Os 800 Km de costa com um mar rico em especies piscícolas e potencial de aproveitamento energético através das ondas, a localização geográfica do país em latitude e longitude e a sua topografia, que nos permitem aproveitar como poucos os recursos para o desenvolvimento da energia eólica e da solar (sendo certo que para tal são necessários determinados recursos financeiros –o que acredito ser uma questão de tempo) e esta beleza natural, são activos potenciais a rentabilizar fora de um modelo de crescimento baseado nos baixos salários. E isto para não falar da desmotivação surgida com um crescimento nominal negativo dos mesmos, tendo em atenção o conhecimento generalizado que já estamos a anos de distancia dos rendimentos médios dos nossos parceiros mais próximos.

É igualmente importante não esquecer alguns dos sectores económicos onde Portugal apresenta uma elevada competitividade internacional, os chamados tradicionais, como os moldes, cortiça, cristalaria, calçado, cerâmicas decorativas, componentes para a industria automóvel ou aglomerados de madeira, onde deveremos continuar a apostar. Nenhum país de elevada competitividade abandona fácilmente os sectores onde conquistou as suas vantagens competitivas ao longo de décadas.

Por tudo isto julgo que existe ainda um preocupante desconhecimento do país nos mercados externos, uma imagem de Portugal desfocada e fora de tempo, que urge rejuvenescer. A qual se demonstra existir entre alguns académicos que nos visitam.

Como alguns afirmam, Portugal deve deixar de aparecer como país do sul da Europa para ser antes um país do Oeste da Europa. Temos que reposicionar-nos geográficamente.

Este rejuvenescimento terá que ser concretizado através de uma campanha de imagem institucional forte, coesa, agressiva e bem organizada, coordenada entre os organismos nacionais responsáveis (embaixadas, consulados, icep) centrada em conceitos de credibilidade, prestígio, fiabilidade, simpatia, calma e segurança. É urgente a criação de um slogan forte de modo a aumentar a notoriedade e a imagem positiva do país.

Mário de Jesus