Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sexta-feira, dezembro 29, 2006

O Nosso Despertar


Estimados FRESianos

Ao terminar este ano de 2006 e à porta do Novo Ano que se avizinha, importa sintetizar, sublinhando, aquilo que de bom construímos no seio do FRES. Acreditamos que este foi o ano do verdadeiro arranque deste nosso projecto cívico e intelectual o que a todos nos deve orgulhar pelo trabalho realizado, pela aprendizagem que nos foi proporcionada por todos bem como ainda pelos objectivos e obra alcançados.

Foi em 2006 que criámos o nosso Blog, que o aprendemos a utilizar e que lhe demos vida, instrumento essencial para a expressão do nosso pensamento. Foi em 2006 que iniciámos a discussão dos grandes temas como a educação, a competitividade, o turismo, o futuro económico e social do país. Foi igualmente em 2006 que escolhemos o nosso primeiro grande tema de análise e trabalho – A educação e o conhecimento – o que nos permitiu iniciar a apresentação e o debate de vários sistemas educativos de vários países de vários continentes. Em suma o que nos permitiu aprender mais.

Mas 2006 foi igualmente o ano em que, após fecharmos a nossa carta de princípios, valores e objectivos, projecto iniciado em 2005, escrevemos e criámos os nossos próprios estatutos. E em sequência foi o ano em que registámos o FRES em escritura pública tornando-o numa verdadeira Organização que se quer responsável.

Aqui discutimos ideias, mais ou menos polémicas, mais ou menos pessoais, criticámos o sistema, efectuámos diagnósticos e apresentámos sugestões. Aqui sugerimos livros para leitura, lemos novos livros sugeridos por outros membros, escrevemos e publicámos artigos sobre temas como a economia, a sociedade, a gestão e os negócios, o turismo ou a internacionalização do país. Em 2006 o FRES mereceu a atenção e o respeito de quem nos leu e acompanhou, temos disso prova.

Acima de tudo partilhámos conhecimentos e usufruímos dos ensinamentos que de todos brotaram, de acordo com as suas sensibilidades e experiências. Partilhámos, no fundo, esta propriedade intelectual que nos valoriza e faz crescer como cidadãos conscientes.

Façamos votos para que 2007 seja pelo menos tão profícuo em ideias e iniciativas como este que agora termina e que tenhamos a ousadia, coragem e capacidade para produzir e desenvolver novas ideias e projectos tão valorosos como os que iniciámos e terminámos em 2006. O céu pode ser o limite da nossa criatividade.

"Se não intervirmos e desistirmos, falhámos".

A Direcção do FRES

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Novas Recomendações da OCDE


São concretas e radicais, algumas delas, mas certamente vêm romper com hábitos perniciosos instalados e colmatar algumas falhas do sistema. Mas exige-se sentido critico de tudo isto.

Em síntese eis algumas das recomendações mais relevantes:

i) Universidades passem a ser Fundações, garantindo o Estado parte do financiamento, mas a sua gestão feita de acordo com o modelo do sector privado. Uma forma de responsabilizar as instituições de ensino dando-lhes autonomia financeira e administrativa mas exigindo-lhes resultados como o sucesso dos seus alunos. Não merece discussão esta última parte.

ii) Professores fora da função pública. Aí está uma forma de se dar o passo para se gerir as instituições numa óptima privada. Poderemos ter uma gestão segundo um modelo privado sem retirar, obrigatoriamente, os professores do sector público, desde que responsabilizados pelo seu trabalho e resultados.

iii) Duplicar, a longo prazo, o valor das propinas, passando estas de 17% do custo real de formação do aluno para 40%. Significa reduzir o peso do financiamento do Estado no ensino superior. Ajuda ao deficit orçamental da função pública.

iv) Reitores das universidades escolhidos por concurso público e eleitos por prazo não superior a dez anos. Há em Portugal a imagem de uma liderança e gestão fracas. Em muitos casos sabemos que é a pura verdade. Há insensibilidade na gestão, incompetência e lobby académico instalado.

v) Participação da sociedade civil (sempre) na elaboração de um quadro regulatório e de qualificações exigidas de modo a se saber que tipo de diplomado o mercado procura. Nada mais correcto. A sociedade civil somos todos nós, contribuintes, estudantes e pais de estudantes. O FRES.

vi) Defesa de um crescimento no investimento do Estado no ensino superior de modo a estimular os níveis de frequência universitária. Portugal tem um nível de despesa pública de 1,04% do PIB no ensino terciário, um pouco abaixo da média da UE15 mas muito abaixo de países como a Finlândia, Dinamarca e Suécia (the shinning cases).

vii) Cada instituição deverá recorrer a uma maioria de elementos externos nos órgãos de governo da instituição. Mas quem? Políticos? Com que qualificações e experiência de gestão? Atenção a este aspecto.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Recomendações da OCDE "Olhares da Educação 2006"

Dizia o relatório da OCDE de Setembro de 2006, designado por “Olhares da educação 2006” que Portugal continua a ser o país membro desta Organização em que a população activa passa menos anos na escola. Os portugueses têm uma média de anos de escolaridade de 8,5 anos, menos 3,5 anos que a média da população dos países da OCDE. Em média, a população portuguesa não consegue sequer cumprir a escolaridade obrigatória.

Segundo este mesmo relatório, apenas 13% da população activa tem licenciatura, menos de metade do indicador dos países referidos acima. No entanto é no ensino secundário que o atraso é maior: apenas 25% dos portugueses têm este nível de ensino, quase três vezes menos que a média da população da OCDE. As perguntas a formular são: como é que vamos lá chegar? Como vamos com eles competir?

Tendo os piores índices de qualificação dos 31 países analisados, isto significa maiores dificuldades de obter bons salários, melhor emprego, dificuldades em atingir maior competitividade e registar menor crescimento económico. Prova disto, diz o estudo, é que o aumento das qualificações significa descida do desemprego pois 84% da população que atingiu o ensino superior está empregada. Bom, mas entre nós é sabido que temos demasiados licenciados no desemprego, razão pela qual este rácio não nos deve satisfazer. O país necessita francamente de manter empregada uma população altamente qualificada, quanto a isso não há discussão.

Diz igualmente a OCDE neste relatório que o investimento por aluno no ensino superior em Portugal representa menos um terço que a média dos países da Organização (5.315 euros por ano). Pudera, gastámos demais em auto-estradas para alimentar o lóbi construtor e o do poder local. No ensino secundário a média de investimento por aluno desceu para 4.801 euros estando ligeiramente abaixo da média da OCDE que é de 5.485 euros. Mas não só de valores monetários se deve fazer o ensino. Importa é a qualidade do mesmo. Deve merecer reflexão o facto de, segundo o PISA (relatório internacional que avalia o desempenho dos alunos de 15 anos a Matemática) menos de 1% dos estudantes portugueses conseguir realizar problemas complexos, quando comparados com 8% na Finlândia.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Um nome a reter

Nasceu numa família de agricultores pobres. Eram seis irmãos que dormiam todos numa divisão de uma pequeníssima casa. Mas havia alegria e criatividade na escassez.

AC detestava a rotina, vivia distraído, desconcentrado, desligado da realidade das dificuldades dos pais que contrastavam com a grandeza dos seus sonhos. O pai tinha um problema cardíaco. AC sonhou ser médico e também cientista. Desejava descobrir coisas que ninguém pesquisara, desvendar enigmas ocultos. Estes sonhos contrastavam com a pouca vontade de estar na escola.

AC era sociável e afectivo mas claramente irresponsável. Gostava de festas e poucos compromissos. Tinha um amigo com o qual fazia serenatas de madrugada com um violão, mas as raparigas nunca acendiam a luz do quarto porque nem ele nem o amigo sabiam tocar e o som era péssimo.

Chegou um momento em que AC deixou de brincar com a vida e resolveu levá-la a sério. Estudava mais de 12 horas por dia para entrar na faculdade de Medicina. No início tinha vertigens e sentia-se tonto mas a palavra desistir não existia no seu dicionário. Entrou na faculdade de Medicina.

Na faculdade, parecia um jovem alienado. Não tinha boa memória, mas tinha uma apurada capacidade de observação e um desejo de criar coisas originais. Por vezes discordava dos professores. Era crítico, tinha coragem para pensar e ousadia para ser diferente.

Entre o segundo e terceiro ano da faculdade teve uma depressão. Era a última coisa que todos pensavam que ele poderia ter. Com medo de não ser compreendido, escondeu a sua crise de amigos e íntimos. Na entendia o que era uma depressão, só que sentia uma profunda tristeza e aperto no peito. Sentia-se isolado.

AC percebeu que estava a sufocar o seu sonho de ser cientista e de ajudar a humanidade e foi isso que o fez empreender uma luta interior, em vez de se conformar. AC descobriu que “quando o mundo nos abandona, a solidão é superável, mas, quando nós mesmos nos abandonamos, a solidão é quase insuperável”.

Com este acidente, AC tornou-se um grande observador de si próprio. Desenvolveu uma técnica psico-terapêutica revolucionária (a mesa redonda do eu) e saiu da depressão mais forte, humilde e compreensivo. Os seu sonhos voltaram e cresceram. Descobriu que “a dor nos pode destruir ou construir. Ele preferiu usá-la para se construir”.

AC descobriu que treinar o “eu” para ser líder de si mesmo é fundamental para a saúde psíquica e deparou-se com o paradoxo do sistema social – “que ser humano é esse que governa o mundo exterior mas é frágil para governar o mundo psíquico?” Quando AC se tornou psiquiatra passou a aplicar as técnicas que desenvolveu neste momento. “Todo o ser humano tem um poder intelectual represado sob os destroços das suas dificuldades, perdas, doenças e actividade profissional. Felizes os que os libertam.”

AC casou-se ainda estudante e passou dificuldades financeiras. Depois de terminar o curso, procurou uma faculdade e um cientísta para expor as suas ideias – foi humilhado. Procurou noutra faculdade e ao revelar que a sua tese não tinha tido orientador foi ainda mais humilhado. Mal sabiam que ele escrevera de maneira diferente da que lhe tinham ensinado. Ao tentar publicar os seus estudos, nem sequer obteve resposta das editoras.

Voltou à psiquiatria clínica e ajudou muitas pessoas. Facilmente se destacava em todo o lado e a ascensão social foi meteórica. Tinha espaço nos media que fazia inveja a muitos políticos e alcançou um status superior ao das pessoas que antes o haviam rejeitado.

No entanto, percebeu que precisava fazer uma difícil escolha, entre a fama e o sonho de produzir ciência. Resolveu abandonar a fama. Ninguém o apoiou, a não ser a mulher.

Saíu de São Paulo e foi para o interior. Construiu a sua clínica e casa numa mata. Começou tudo de novo. Por vezes entrava um cobra no consultório e AC aproveitava para incentivar o paciente a controlar as suas emoções. De novo encontrou o sucesso no seio dos seus pacientes.

Intensificou a produção científica, passou a escrever cerca de trinta horas por semana e a dar menos consultas. Teve três filhas. A tese parecia interminável. Após quase 3 mil páginas e quase vinte anos, AC terminou finalmente a sua tese. Era uma tese muito complexa e mesmo os mais aptos académicos teriam dificuldade em compreendê-la. Após inúmeras tentativas de publicação do texto, finalmente uma grande editora resolveu apostar no projecto. Foi um fracasso de vendas pois ninguém compreendera os textos. AC não desistiu e optou por democratizar as suas descobertas através de livros simples de divulgação científica. Resolveu começar de forma ousada – publicou um texto em que analisava a personalidade e inteligência de Jesus Cristo. O livro foi um sucesso estrondoso. Ao todo foram 5 livros sobre o tema.

Esta é a história de Augusto Cury, um famoso psiquiatra e cientista brasileiro. O sonho de AC começou a tomar forma no caos de uma depressão, atravessou fracassos, experimentou rejeições e tornou-se por fim realidade. Mais de um milhão de pessoas lêem os seus livros todos os anos só no Brasil. Estão publicados em mais de quarenta países e estão a ser adoptados em diversas faculdades de Psicologia, Sociologia, Educação, Direito e são usados em diversas teses de mestrado e doutoramento em vários países como Espanha, Portugal, Cuba e Brasil. A sua Teoria da Inteligência Multifocal está a ser estudada em pós-graduações e vários profissionais estão a especializar-se na aplicação e expansão das suas ideias.

(O texto em cima foi extraído e adaptado do livro “Nunca desista dos seus sonhos” de Augusto Cury)

Augusto Cury é um exemplo de perseverança e atitude positiva. A maioria de nós teria desistido e ter-se-ia acomodado à sua sorte perante uma porção dos obstáculos que AC enfrentou.

Lembro-me de um conceito de "sorte" que ouvi no seio de um encontro de empreendedores - a sorte existe na confluência da oportunidade e da preparação. Acredito que a receita ficaria mais completa se lhe acrescentassemos uma pitada de iniciativa.

Que diferença faria se a perseverança fosse ensinada na escola, entre outras competências, hoje identificadas como facilitadoras do sucesso (para que cada um de nós consiga optimizar e concretizar o seu potencial), da comunicação eficaz (pedra basilar da vida em sociedade e da produtividade do trabalho) e da liderança (potenciadora do sucesso individual e colectivo).

Para uma abordagem inteligente à escola e à educação em geral, não podemos ignorar o trabalho de Augusto Cury - Vale a pena lêr “Pais brilhantes, Professores fascinantes”, só para começar.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Ainda a propósito do Prémio Nobel da Paz - A dimensão económica do microcrédito

(Artigo publicado no Semanário Económico)

Os princípios e as experiências inerentes ao conceito do microcrédito, representam uma abordagem contrária aos princípios do crédito bancário tradicional. A criação e desenvolvimento deste conceito, destinava-se a ajudar os mais pobres e desfavorecidos a obter o apoio financeiro necessário à criação de um projecto, desenvolvimento de uma actividade, empresarial ou comercial, em pequena escala, quer a título individual ou colectivo, como forma de subsistência e até de elevação humana. A essência do microcrédito assenta, por isso, em princípios e práticas inovadoras ainda que contrárias à actividade bancária desenvolvida nos países mais avançados e ao conceito do crédito segundo o modelo mais ortodoxo.

A dimensão social do microcrédito é reforçada pelo facto de, na sua génese, ter sido dirigido principalmente às mulheres, dado que, nas sociedades mais antigas, foram desde sempre estas as responsáveis pela gestão dos meios de subsistência da família. Prova disto é o facto de 95% dos actuais 3.12 milhões de beneficiários do microcrédito concedidos pelo Grameen Bank, serem mulheres.

A experiência do microcrédito, criada e desenvolvida há 21 anos no Bangladesh através do Grameen Bank por Muhammad Yunus, então professor de economia, é actualmente um conceito de crédito aplicado em mais de 60 países em todos os continentes, ainda que estas experiências sejam adaptadas localmente em função das características sociais, económicas e demográficas dos seus beneficiários, adoptando até diferentes designações. Em todo o caso importa referir que, seja qual for o modelo sob o qual este conceito seja aplicado, estamos perante uma actividade bancária lucrativa, através da qual se empresta dinheiro e se cobram juros e não perante acções de solidariedade social. O que é neste caso assinalável é o facto de 99% dos empréstimos concedidos, por exemplo, pelo Grameen Bank, apresentarem um retorno nos prazos e condições acordadas.

Em Portugal, a filosofia do microcrédito é desenvolvida pela ANDC – Associação Nacional do Direito ao Crédito. A Missão da ANDC é, segundo a própria, definida como “ o desenvolvimento de uma actividade que facilite a concessão de crédito a pessoas que não têm acesso ao crédito bancário, mas que querem desenvolver uma actividade económica concreta, para a qual reúnem condições e capacidades pessoais, de modo a que possam contrair esses empréstimos para esse fim junto dos bancos”.
Esta associação tem actualmente 304 sócios, dos quais cerca de 95% são particulares sendo os restantes 5% empresas e instituições de solidariedade social, desenvolvimento regional, ou formação profissional entre outras. Em cinco anos permitiu a concessão de 310 empréstimos que criaram 396 empregos, tendo o valor acumulado dos empréstimos atingido 1.298.674 EUR ( dados da própria ANDC).

A actividade desta associação só tem sido possível devido à colaboração e parceria obtidas junto de um conjunto de instituições activas no combate à pobreza, exclusão social e desemprego. Entre estas instituições encontram-se associações para o desenvolvimento e formação profissional, misericórdias, centros sociais e paroquiais, associações de acção social e familiar, fundações, autarquias e outros organismos públicos. A estas instituições a ANDC solicita a identificação de potenciais micro-empresários e o seu encaminhamento para os seus serviços.

Para o crescimento e sucesso da ANDC é essencial o reforço da colaboração com um maior número de instituições como as já referidas, para além de novos protocolos com diversas entidades bancárias, o que garantirá o crescimento do número de projectos financiados e da criação de emprego, o que, para além disto, representará uma maior partilha de risco. É de salientar que o primeiro ( e julgamos único) protocolo estabelecido pela ANDC com a banca, foi concretizado com o BCP.

Um outro aspecto relevante para a actividade do microcrédito desenvolvido pela ANDC diz respeito à necessidade de reforço do Fundo de Garantia que actualmente apresenta ainda valores pouco significativos. Em face disto seria importante a obtenção de um crescimento acentuado do numero de sócios institucionais, os quais poderiam contribuir positivamente para o reforço deste Fundo. Neste capítulo, o desenvolvimento de uma estratégia de Marketing e comunicação, divulgando a ANDC, poderá ser um veículo importante para atingir este objectivo.

Para melhor entendermos o papel que o microcrédito pode desempenhar em Portugal, basta analisar a estrutura do tecido empresarial do país. Este é constituído essencialmente por PME, as quais representam 99.5% do total das empresas nacionais, num universo de perto de 1.2 milhões de empresas, das quais cerca de três quartos estão constituídas sob a forma de empresários em nome individual ( isto é cerca de 900 mil empresas). Acresce a isto as conclusões obtidas através de um estudo apresentado pelo comissário europeu para as empresas, Erkki Liikanen, as quais indicaram que cerca de dois terços da população portuguesa pretende trabalhar por conta própria, o que nos leva também a concluir que não restam dúvidas quanto à tendência nacional para o individualismo em termos profissionais, bem como à reduzida dimensão dos negócios em Portugal. Ora este é sem dúvida um mercado de elevado potencial para o microcrédito.

Neste cenário o papel da ANDC como promotora do microcrédito poderá ser essencial para ajudar a revitalizar a iniciativa individual e o espírito empresarial, o que potencia o crescimento económico e reforça a competitividade. Este projecto é tanto mais relevante quanto poderá ser implementado não só ao nível do microcrédito comercial mas também no âmbito agrícola, o que certamente constituirá um instrumento de apoio importante para os pequenos empresários agrícolas em Portugal. Neste quadro, será determinante para a ANDC o estabelecimento de protocolos de cooperação junto de entidades como o IEFP ou Ministério do Trabalho, pela sua possível intervenção ao nível da criação de emprego, ou até junto de novas ONG´s que actuem no âmbito do desenvolvimento económico e social.

quinta-feira, novembro 09, 2006

A Propósito do Prémio Nobel da Paz - A dimensão social do microcrédito

(artigo publicado no Vida Económica)

Não é novo o conceito económico do microcrédito. Nasceu no Bangladesh há quase duas décadas pela inspiração e determinação de Muhammad Yunus, então professor de economia na Universidade de Chittagong.
Tratando-se de uma abordagem diferente do conceito de crédito bancário, é criado e desenvolvido numa óptica inversa à filosofia tradicional das práticas bancárias. Dirigido aos pobres e mais desfavorecidos como os desempregados, desocupados e, fundamentalmente, às mulheres, uma vez que nas sociedades tradicionais sempre foram elas as responsáveis pela gestão dos meios de subsistência da família, procurou sempre servir pessoas que, apesar de não apresentarem qualificações suficientes para se enquadrarem no mercado competitivo de trabalho, nalguns casos porque nunca lhes foi dada essa oportunidade, possuem no entanto talentos, saberes, aptidões ou conhecimentos que lhes permita desenvolver uma actividade produtiva em pequena escala quer a título individual quer colectivo.

Actualmente, este conceito está reproduzido em todos os continentes e por mais de 60 países tanto do mundo desenvolvido como em vias de desenvolvimento. Exemplo próximo da realidade portuguesa é a existência da Associação Nacional de Direito ao Crédito, entidade que desenvolve no nosso país programas de microcrédito para os mais desfavorecidos, apoiando financeiramente pessoas com ideias, tornando assim viáveis pequenos projectos de pessoas talentosas e permitindo-lhes desenvolver uma actividade económica de forma digna, introduzindo essas pessoas no sistema económico, que de outra forma estariam em situação de marginalização.

Para além de representar uma diferente filosofia relativa ao crédito, um outro principio está inerente à actividade do microcrédito, pelo menos entre os seus defensores e praticantes, que é o facto de considerar o acesso ao crédito como um Direito do Homem ( ideia desde sempre defendida por Muhammad Yunus). Este principio está ligado a um outro que defende que a condução da ciência económica deve estar orientada por uma consciência social, uma vez que, segundo a filosofia do microcrédito, o indivíduo não pode ter definido à partida o seu papel económico e social na comunidade onde está inserido, apenas em função da sua condição económica derivada do nascimento. Como ser pobre não é sinónimo de ser incapaz, à ciência económica cabe o papel de “cuidar” daqueles que, por razões diversas, não atingiram um estatuto social suficiente para garantir os seus próprios meios de subsistência sem a ajuda de terceiros. O microcrédito poderá ajudar a cumprir este papel.

A essência deste novo conceito inverte o sentido, sendo mesmo contrário, aos princípios e práticas da actividade bancária tal qual a conhecemos e entendemos nas sociedades ocidentais desenvolvidas e mesmo entre a maioria das sociedades modernas do mundo actual. Porque, como afirmou o professor Yunus, considera que o crédito significa confiança; porque os destinatários do microcrédito não têm condições para oferecer quaisquer tipo de garantias; porque o crescimento, desenvolvimento e internacionalização da actividade bancária tradicional, ocorreu tendo como base uma plataforma de desconfiança entre os intervenientes no negócio, desconfiança essa suprida apenas pela criação de produtos complexos para cobertura de riscos, elevadas contrapartidas e novas formas de garantia dos riscos de crédito.

A prova do sucesso deste conceito é dada pelo próprio Grameen Bank, criado por Yunus no Bangladesh, primeira instituição bancária no mundo a desenvolver os programas do microcrédito, o qual apresenta um nível de reembolso/retorno do crédito concedido, na ordem dos 98%.

É pois possível estabelecer uma ligação e paralelismo entre a prática do microcrédito, no âmbito da actividade bancária, com uma nova cultura empresarial, que se ocupa dos aspectos inerentes à dimensão social das empresas: a Economia de Comunhão.

Este último conceito, assente na cultura do dar e partilhar, conduz a acção das empresas a um novo principio de gestão empresarial, mais solidária, tanto mais que este principio defende a partilha do lucro não só para o crescimento e enriquecimento da própria empresa e dos empresários, mas também pelos indivíduos mais pobres e necessitados da sua comunidade envolvente, na procura de um “homem novo”, capaz de por em prática e divulgar esta filosofia, através da qual as relações económicas e empresariais assentam na reciprocidade e confiança.
A banca e o microcrédito, as empresas e a filosofia de gestão empresarial de partilha, são duas faces da mesma moeda. Ambos os conceitos representam uma nova dimensão social da economia, uma nova direcção para a ciência económica, cujo objectivo é servir o Homem, ainda que de forma racional, mas no entanto mais solidária.

sábado, novembro 04, 2006

Alunos e ratos na primária

Jornal Expresso em de 28 de Outubro

"Falta de espaços de recreio, ratos a passearem nos corredores, ausência de casas de banho e de cantinas, é a realidade com que convivem, diáriamente, milhares de crianças do ensino básico em Lisboa."

"Na EB 68 da Penha de França, os painéis de azulejos antigos que revestem as paredes estão parcialmente danificados, a instalação eléctrica é primária e as canalizações já há muito perderam o seu prazo de validade. Encarregados de educação dizem que, durante o inverno, o frio entra por todo o lado e muitas das crianças têm de usar luvas nas aulas para aquecer as mãos."

"Mais de metade da rede escolar do 1º ciclo do ensino básico, frequentado por cerca de 20 mil crianças, encontra-se em situação similar".

" Uma parte substancial das instalações escolares tem mais de 60 anos sendo necessário um investimento nunca inferior a 30 milhões de euros"

"Não é admissível que as crianças tenham que conviver com ratos nas escolas ou ir à casa de banho do café porque a sua escola não tem um WC"

Afinal, não é unicamente o sistema de educação da Índia que, como vimos, revela carências ao nível das infra estruturas básicas. Infelizmente parece que também no nosso próprio canto revelamos graves carências.

Saberemos quantificar o impacto que isto terá no aproveitamento escolar? Alguém terá tido essa preocupação? E se acontecer aos nossos filhos?

quarta-feira, novembro 01, 2006

6º Encontro do FRES


Momento da apresentação do sistema de educação da Alemanha por João Mateus. O debate alargado viria de seguida.

6º Encontro do FRES


Henrique Abreu faz a sua apresentação sobre o sistema de educação da Islândia merecendo da audiência a atenção desta, a qual foi sempre muito interveniente.

6º Encontro do FRES


Momentos da apresentação do sistema de educação da India após a Islândia. O debate ocorrerá no final das apresentações.

6º Encontro do FRES



Mais alguns momentos de atenção à apresentação do sistema de educação da Islândia.

6º Encontro do FRES



Para um melhor conhecimento do ambiente de trabalho. Oferecemos aos nossos visitantes algumas imagens do recente encontro/tertulia realizado no Hotel Embaixador no dia 27 de Outubro.

domingo, outubro 29, 2006

Educação e Formação no mercado de trabalho global-Mudança de paradigma

Na sexta-feira passada dia 27 de Outubro decorreu no hotel Embaixador em Lisboa um encontro do FRES onde se abordou a temática dos sistemas de educação e em que três membros da direcção do FRES expuseram ao público assistente três case studies de sistemas de educação: 2 europeus Alemanha e Islândia e um não europeu que foi o caso da India.
As pessoas podem perguntar ? porque é que estes oradores vêm falar de outros sistemas de educação e não do português que é o que interessa resolver? interessante questão....Contudo, o que é que temos hoje? um Portugal numa europa alargada a 25 estados-membros e a partir de Janeiro de 2007 a 27 Estados (Bulgária e Roménia) e talvez num futuro a 28 com a adesão da Turquia.

E este cenário coloca-se as gerações presentes e vindouras de Portugal: Como melhorar o nosso sistema de educação e formação num mercado de trabalho a escala global? Qualquer jovem saido do liceu ou da Universidade no minimo ( integrado no Sistema de Bolonha) vai ter que concorrer a partir de 2007 no mercado de trabalho com jovens de 27 países se cingir geograficamente apenas a União Europeia. Mas se quer entrar no mercado global tem que ter em conta países como: China, India, Singapura, Malásia, Rússia, Ucrânia, Turquia,Estados Unidos e Brasil forte emissores de mão de obra qualificada para serem trabalhadores globais.

Numa interessante obra dos cientista politicos alemães Hans Peter Martin e Harald Shumann
"A armadilha da globalização" os autores citam uma quadro dirigente da Sun Microsytems que numa conferência realizada em São Francisco consagrada ao tema: "Tecnologia e trabalho na economia global" afirmou o seguinte: " Na nossa empresa, cada um pode trabalhar quanto queira" e também não precisamos de visto para o pessoal estrangeiro. Segundo ele, os governos e as regras por estes impostas ao mundo do trabalho perderam todo o significado. Por agora são de preferência "bons cérebros da india" que trabalham quanto podem. A empresa diz esse quadro, recebe por computador eloquentes candidaturas do mundo inteiro. "Contratamos os nossos empregados por computador, eles trabalham por computador e são despedidos por computador". A mundialização da economia, as altas tecnologias de comunicação, o baixo custo dos transportes e a globalização do comércio mundial tranformaram o mundo num mercado único o que conduz a uma concorrência global no mercado de trabalho.

A maioria das empresas europeias estão a criar postos de trabalho nos mercados onde se estão a internacionalizar e não nos mercados de origem nacional. Por exemplo na alemanha os empresários dizem que os alemães trabalham muito pouco, têm rendimentos demasiado elevados, tiram férias demasiado longas e gozam demasiadas baixas por doença e os empresários quando tomam decisões de investimento olham para o leste da europa e para a Ásia onde a ética no trabalho tem valores diferentes dos europeus e os custos sociais são mais baixos.

Este é um exemplo de um cenário que Portugal deve estar atento, pois, se não melhorarmos os nossos sistemas de educação e formação as nossas gerações futuras não serão competitivas no mercado de trabalho global.

As empresas globais procuram novo tipo de trabalhadores: os chamado knowledge workers que como dizia Peter Drucker " A sociedade do saber é uma sociedade de grandes organizações - Governos e Empresas - que funcionam necessariamente com o fluxo de informação" As oprtunidades de carreira citando ainda o autor " requerem cada vez mais um diploma universitário, pois, o centro de gravidade deslocou-se para o trabalhador do conhecimento, no entanto, nenhuma instituição educativa - nem mesmo as escolas superiores de gestão - tenta equipar os alunos com as competências elementares que lhe permitiriam tornar-se membros efectivos de uma organização: a capacidade de apresentar ideias oralmente e por escrito; a capacidade de trabalhar com outras pessoas; a capacidade de moldar e orientar o trabalho pessoal, a sua contribuição e a sua carreira. A pessoa educada deveria ser o novo arquétipo da sociedade pós-empresarial.

Portugal e os trabalhadores portugueses para serem competitivos no mercado global deverão ter sistemas de educação e formação tendo em conta modelos de economias do conhecimento e não modelos de economias de mão de obra intensiva como foi implementado no passado. Se não mudarmos este paradigma estamos a comprometer as gerações presentes e futuras.

Devemos preparar as pessoas para a possibilidade de abraçarem carreiras globais e para isso as escolas devem proporcionar programas de educação e comprensão global de outras culturas e modos de viver. A chamada educação para a tolerância e global awareness.

Segundo especialistas em RH internacionais os futuros trabalhadores globais devem ter o seguinte perfil: " A estamina de um corredor olimpico, a agilidade mental de um Einstein; os skills de comunicação de um professor de linguas, a capaciade de discernimento de um juiz, o tacto de um diplomata e a preserverança de um construtor egipcio de pirâmides". E se esses trabalhadores globais vão medir as exigências de viver num país estrangeiro, deverão ter uma sensibilidade a cultural local, o julgamento moral não deverá ser muito rigido e deverão fundir-se com o ambiente local e não mostrarem sinais de preconceito".

Ao preparamos a nossa sociedade para este novo tipo de realidades no mundo laboral estamos a preparar jovens competentes e abertos ao mundo. Portugal sempre cresceu quando foi aberto ao Mundo. Vejamos a era dos descobrimentos. As novas elites que se formarem nos bancos das escolas devererão ser formadas nos principios da compreensão do : Nós e os Outros de forma a quando se depararem com situações de dificuldades não afirmarem: " o Inferno são os outros" mas somos nós próprios (Portugueses no geral: Estado, Sociedade e Empresas) que não melhoramos os nossos sistemas de educação e formação usando modelos antigos em situações novas (nova realidade internacional).

sexta-feira, outubro 27, 2006

6º Encontro FRES

Estimados Fresianos e distintos visitantes

O FRES informa que irá realizar hoje a partir das 19 Horas no Hotel Embaixador em Lisboa, o seu 6º encontro geral. Em ambiente de tertúlia, entre outros temas serão abordados alguns dados e análises sobre o sistema de ensino de alguns países europeus e asiáticos.

Daremos posteriormente notícias sobre esta sessão de trabalho.

Saudações Fresianas

terça-feira, outubro 24, 2006

Coragem para conversar

Para Jack Straw (ex-Ministro dos Negócios estrangeiros do governo de Tony Blair) - A conversação franca e aberta entre diferentes opiniões é a base de uma sociedade livre e civilizada.

Para João Carlos Espada (investigador, doutorado e Professor universitário em Oxford, Inglaterra) - A arte da conversação foi considerada por Oakeshott, o grande filósofo conservador inglês do século XX, como distintiva de uma sociedade livre. Karl Popper colocou-a no centro da tradição ocidental de sociedade aberta - fazendo remontar a arte da conversação à Atenas comercial e marítima de Sócrates.

Diz ainda João Carlos Espada que Edmund Burke, Adam Smith, David Hume e Jonhson, consideravam a conversação como alicerce de uma sociedade civilizada. Os clubes de Londres nasceram como lugares de conversação - um distintivo da "gentlemanship". O chanceler da Universidade de Oxford, Lord Jenkins, afirmava aos seus discípulos " conversem, conversem sempre; é basicamente isso que se faz nesta universidade há oitocentos anos".

Diz Maria de Fátima Bonifácio, investigadora do I.C.S. na revista “Atlântico” de Setembro de 2006, referindo-se ao Professor Adérito Sedas Nunes, fundador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa – “ Quinzenalmente durante anos funcionou um seminário de sociologia dirigido por Sedas Nunes, aberto a quem quisesse participar e onde os investigadores podiam apresentar livre e informalmente os seus “papers”. Os temas e os domínios disciplinares eram os mais variados. Falava quem tinha que dizer e quem ficava calado ouvia e aprendia. Dependendo do temperamento de cada um, as críticas eram por vezes muito duras e contundentes, possivelmente difíceis de suportar por alguma natureza mais susceptível. Não era raro que as vozes se elevassem no calor da discussão. Ao fim da tarde, separávamo-nos amigos como dantes. O autor do “paper” discutido ia para casa com uma série de objecções em que pensar e certo, portanto, de que a versão final do seu artigo (ou capítulo, ou livro) seria bem melhor do que se não tivesse ouvido as críticas e as perguntas dos colegas.
Haja a coragem para conversar...

terça-feira, outubro 17, 2006

Atitude.......

O Presidente da Républica Portuguesa, o Professor Cavaco Silva afirmou há dias ,no início do seu terceiro Roteiro para a Inclusão, de que é Sua intenção resolver problemas, e não …..criá-los.
Escusando-se a "falar sobre o passado", o Presidente realçou bem a sua intenção de "mostrar os bons exemplos" do que já se faz bem para que estes "possam frutificar".
A mensagem fundamental que eu retiro é a de que; mais que palavras o que o nosso país necessita neste momento é de acção , mais do que boas ideias precisamos de as implementar, mais do que apontar aquilo que está mal necessitamos de propor soluções e publicitar os casos de sucesso como exemplos a seguir.
No caso das empresas temos várias fundadas, desenvolvidas e lideradas por empreendedores portugueses,
com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses: Efacec, Fepsa, Ydreams, GALP, SIBS, BPI, BCP, BES, CGD, Sonae, Brisa, Bial, Grupo Amorim,……mas também algumas grandes empresas multinacionais instaladas no nosso País, mas lideradas por portugueses, com técnicos portugueses, que, ano após ano obtêm grande sucesso como ; a Siemens , Bosch, Alcatel, BP, Nobre apenas para referir algumas.
Na verdade as pessoas que estão por detrás destas organizações tiveram o mérito de agir em vez de “reagir”, actuar em vez de esperar, liderar em vez de gerir denotando uma atitude empreendedora positiva que eu gostaria de ver vivida como lema principal no universo das empresas em Portugal, na sociedade civil em geral e nas organizações governamentais em particular.
È um pouco como a velha questão filosófica de que, para uns o copo está “meio vazio” enquanto que para outros ele está “meio cheio”. Não será preferível responder a esta pergunta da seguinte forma ? Se quisermos mais água…. é só voltar a encher

sábado, outubro 14, 2006

Nobel da Paz para Muhammad Yunus e Grameen Bank



"Todo e cada indivíduo no mundo tem o potencial e o direito de viver uma vida decente. Em várias culturas e civilizações, Yunus e o Banco Grameen têm demonstrado que mesmo os mais pobres dos pobres podem trabalhar para o seu desenvolvimento", afirmou a Comissão Nobel, ao justificar a decisão "

Nobel da Paz para Muhammad Yunus e Grameen Bank


Alguém pode lutar pela paz sem primeiro combater a pobreza?



quinta-feira, outubro 12, 2006

PPPs imperfeitas

Desde o final da década de noventa que muito se tem falado sobre Parcerias Público Privadas, vulgarmente designadas de PPP, e da sua aplicabilidade nos mais diversos sectores de actividade. Quase sempre eram referidas como a solução perfeita e quase milagrosa para todas as ineficiências que subsistiam em alguns sectores de actividade que os governos tinham relutância em ver sair da sua esfera de controlo.

Se as constatações anteriores fossem o título de uma tese, poderíamos afirmar que esta teria ficado provada para todas as economias da Europa Ocidental. Como sempre, não há regra sem excepção, pelo que Portugal está a fazer o favor de confirmar esta regra. Resta saber a razão de tal escolha. Os mais pessimistas dirão que alguém teria de o fazer. Outros pensarão que não foi uma escolha voluntária. Como não acredito em fatalismos, estou de acordo com a segunda ordem de razões.

Como tal penso ser importante perceber o que correu mal até agora na implementação de PPPs em Portugal. Para começar parece-me importante que se explique de forma clara em que consiste uma PPP: trata-se de um contrato estabelecido entre uma entidade pública e outra do sector privado, em que a entidade privada se compromete a desempenhar uma determinada actividade, de acordo com critérios estabelecidos. Nada mais simples. Existe um largo espectro de possibilidades em aberto para este tipo de parcerias, desde simples contratos de manutenção de edifícios, passando pela construção de infra-estruturas, bem como a operação e gestão de serviços públicos tais como hospitais, prisões, e escolas. As PPP têm evoluído para contratos de maior duração, por forma a criar compromissos de longo prazo de ambas as partes e são hoje em dia constituídas por combinações das tarefas descritas anteriormente, tais como concepção, construção, financiamento e operação (Design, Build, Finance and Operate, ou DBFO), incluir igualmente a manutenção (DBFOM), contratos de concessão, etc.

As razões pelas quais um estado tem interesse em criar PPPs são idênticas às razões que nos levam a contratar um sapateiro quando precisamos de arranjar os nossos sapatos. Certamente que para a maior parte de nós, as meias solas colocadas pelo sapateiro resultam num trabalho de melhor qualidade, por um preço menor do que se tivéssemos que comprar a cola e demais utensílios, demorando igualmente menos tempo do que se tivéssemos que aprender o oficio. Maior eficácia, eficiência e produtividade, por um preço mais baixo são razões suficientes para justificar a nossa escolha pelo sapateiro. Melhor ainda seria se pudéssemos pagar em suaves prestações.

Como tal, a criação de uma PPP resulta na obtenção de um negócio mais vantajoso para os contribuintes, ao garantir a prestação de um serviço de maior qualidade por um preço mais baixo. Tem igualmente a vantagem de o valor de investimento necessário, que naturalmente é substancial no caso da edificação de infra-estruturas não sobrecarregar em demasia o erário público, sendo o seu custo diluído pela duração do contrato.

Sendo assim, o que está a falhar na implementação das PPP em Portugal? A resposta é simples: a definição do contrato de parceria assume crucial importância para o sucesso das PPPs. As responsabilidades de ambas as partes bem como o papel a desempenhar pelo sector público e privado deverão ficar claramente definidos nesta fase. A chave para o sucesso e a fonte da eficiência das PPP é a correcta divisão de tarefas, sendo cada parte responsável pelas actividades que desempenha de forma mais eficiente, assumindo e gerindo os riscos que melhor conhece e sabe controlar. O facto de as PPP permitirem a realização de investimentos consideráveis sem o correspondente impacto no défice orçamental, parece ser o critério que tem estado na base das decisões de implementação de PPPs em Portugal, de que o caso das SCUTs é um exemplo bem ilustrativo. A resolução deste problema está longe de ser difícil ou complicada: basta que a prioridade na implementação das PPPs passe a ser a transferência de risco do sector público para o sector privado.


Ricardo Pedrosa

quarta-feira, outubro 11, 2006

Portugal aposta no conhecimento e inovação

Portugal aposta e investe na ciência. Para o próximo ano o orçamento para a ciência e tecnologia irá crescer, segundo o 1º ministro, 64%. Hoje foi um dia importante no caminho a trilhar para o conhecimento. O país assinou um acordo de parceria com o prestigiado MIT (Massachusetts Institute of Technology) subscrito por 7 Universidades portuguesas e cerca de 26 Institutos para além de algumas empresas nacionais. Trata-se de um acordo histórico realizado no Centro Cultural de Belém, que se destina a criar conhecimento, apostar na tecnologia e inovação, a fazer crescer e desenvolver o capital humano nacional. Numa área onde tem existido grande escassez: formação e conhecimento.

Este acordo está direccionado para a cooperação científica nas áreas da engenharia e gestão. Acto único em Portugal. O acordo propõe entre várias coisas aumentar o nº de doutoramentos concluídos em Portugal, a participação e ligação das empresas às universidades para realizar uma das etapas mais relevantes no campo da inovação e desenvolvimento: a investigação, desenvolvimento e criação de valor. Permitirá a exportação de conhecimento e a criação de uma imagem de marca de qualidade da ciência e tecnologia nacionais no quadro da globalização. Várias empresas se ofereceram para este acordo, no sentido de participarem neste movimento do conhecimento. Trata-se de um investimento de cerca de 141 milhões de euros para os próximos 5 anos, dos quais cerca de 32,5 milhões de euros se destinam exclusivamente ao MIT. Várias colaborações e parcerias serão criadas com a Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, com o Instituto Superior Técnico, com a Universidade Católica ou com o Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa. O que se pretende é, entre outras coisas, colocar uma escola de Gestão entre as 100 melhores do mundo.

Este é o tipo de apostas de que o país precisa de forma a estar colocado no caminho do conhecimento internacional e global. Fartos de notícias negativas é tempo de aplaudirmos estas iniciativas positivas de grande relevância nacional e internacional. Projecto apadrinhado pelo Presidente da Republica, ele próprio economista, prova-se aqui que é tempo de ultrapassar interesses confinados a circulos político-partidários, particulares ou corporativistas e remar e rumar no mesmo sentido. Apoiar o país no desenvolvimento e caminhar no sentido do conhecimento.

Os Idosos em Portugal - Que esperança senão continuar a pagar

Li hoje na imprensa que o sistema retributivo de pensões da segurança social vai sofrer alterações e que estas vão ser penalizadoras para os reformados em idade avançada e com recursos financeiros limitados.

Sinceramente, eu sou um leigo neste campo da segurança social e gostaria que me explicassem o seguinte: Porque é que em Portugal os idosos nasceram pobres, educaram os filhos com muitas dificuldades e vão morrer pobres? E agora no final da vida ainda vão ser mais afectados na estrutura familiar (marido e mulher) através de mais contribuições e restrição de direitos adquiridos.

Em Portugal ser idoso é sempre pejurativo e visto como algo de negativo quer na vida quotidiana quer na vida laboral. Já estás velho para isto.........a empresa quer um jovem dinâmico e de elevado potencial..........são frases tipicas e correntes no discurso do cidadão comum. No Japão quanto mais velho se é mais se respeitado é (senioridade + sabedoria).
Eu sei que a economia portuguesa está a atravessar imensas dificuldades, principalmente o nosso Estado de Previdência que está em falência.

Mas digam-me em Portugal alguma vez existiu Welfare State que abrangeu todas as classes sociais? O Welfare State que existiu foi sempre para funcionários públicos ou cidadãos pertencentes a determinados regimes sociais.

Na minha opinião nunca existiu um verdadeiro Welfare State universalista como no Reino Unido, Alemanha ou Suécia.

Se estudarmos a história da europa pós 1945 quando foi criado esse sistema no Reino Unido nem Portugal sabia o que isso era nem nunca fomos doutrinadores nesse campo.

A realidade crua é esta: os idosos vão ter que trabalhar mais pois com as reformas de miséria que recebem que nem dá para pagar os medicamentos quanto mais a alimentação, os filhos vão ter que ajudar os pais quando podem, pois com a taxa de desemprego a aumentar como é que eles também vão poder ajudar os pais? .............Desculpem mas isto foi um pesadelo.....pois o sonho tornado em realidade é que neste momento estou a lêr uma noticia de um jornal diário de 2015 que diz tem a seguinte manchete:" Reformados portugueses enchem praias do Algarve e ocupam a maior taxa de ocupação nas Unidades Hoteleiras locais" Segundo uma fonte oficial o instituto de turismo considerou um mercado estratégico a promoção de Portugal junto do segmento dos reformados portugueses, pois, têm elevado poder de compra e são uma alternativa aos turistas do norte da europa.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Dia da República - Dia de Reflexão histórica

Hoje comemora-se em Portugal o dia da República. 5 de Outubro de 1910 marcou a ruptura com a monarquia e a instauração do regime republicano em Portugal. Independentemente de sermos monárquicos, republicanos, maçons ou não maçons ou quer que seja, hoje é um dia de reflexão para olharmos para a nossa história de Portugal feita de rupturas e avanços, de mudanças politicas e sociais, de confrontos entre principios ideológicos e valores politicos. História é continuidade e feita de pessoas que marcaram um determinado periodo e que acreditavam em determinados valores como a coisa pública e na necessidade da mudança.
Hoje o que é a coisa pública? um conceito abstracto...............Mal utilizado e fora de contexto. Tudo é coisa pública. Fecham-se hospitais e maternidades no interior em nome da coisa pública, desertifica-se o interior em nome da coisa pública. Será que também se quer acabar com o conceito de comunidade e de serviço público em nome da coisa pública? O Estado existe porque eu cidadão existo?
Deixo-lhes para reflexão um excerto da obra o Novissimo principe (Edição especial de 1980) do Professor Adriano Moreira que dizia o seguinte: " A comunicação entre as gerações processa-se com resistências inegáveis, que ocasionam cortes irreparáveis entre a experiência dos mais velhos e a criatividade dos mais novos, tudo em prejuizo da preservação do abalado consenso nacional". E continuando a sua leitura: " Existe uma diferença fundamental entre ideólogos, revolucionários, politicos e estadistas. Dos primeiros aquilo que nos chega são traduções sem concorrência de de um pensamento nativo, que nehuma das formações politicas em acção produziu dentro das duas fileiras. O internacionalismo é a regra do nosso tempo, mas isso não implica que a corrente do pensamento circule num único sentido, sem retribuição nascida nas originalidades nacionais".

quarta-feira, outubro 04, 2006

A Adesão de Portugal e Espanha a União Europeia - Visões diferentes caminhos diferentes

Tem sido tema de reflexão para o cidadão comum a seguinte questão: Porque é que Espanha está a viajar em primeira classe no Euro-Train e Portugal continua a viajar em 2ª classe num comboio que se não for aumentada a capacidade poder correr o risco de desativação?
Vejamos uma possivel explicação do ponto de vista estratégico mas que é discutivel e polémica:

Espanha considerou sempre a adesão à União Europeia um factor estratégico de:
- desenvolvimento económico,
- integração de Espanha na cena politica europeia
- engradecimento do seu papel no relacionamento internacional com a Ámerica Latina

Portugal quando aderiu a Ex-CEE numa definiu uma estratégia quer europeia quer internacional, apesar de existir um consenso entre todas as forças politicas da altura que com a perda do império ultramarino e do relacionamento altlântico a possivel alternativa para o nosso desenvolvimento económico estava na Europa. A Europa trouxe-nos uma aproximação as economias mais fortes e a integração no maior espaço comercial do globo com reais vantagens para o progresso da nossa sociedade.
Contudo, toda a ajuda financeira que recebemos e nomeadamente a transferência de fundos comunitários não podem ser vistos como um fim mas como um meio para o alcance de niveis de desevolvimento similares dos Países do centro e norte da Europa. Isso ninguém põe em causa e não gosto de fazer demagogia. O que é criticável é um pais que condiciona o seu desenvolvimento económico a ajudas recebidas do exterior mostra que não tem uma estratégia nacional mas sim uma relação de dependência de centros de decisão externos mas em que a influência no processo de decision-making é reduzido.

Em geoestratégia existe uma fórmula P=VX C (Poder =Vontade x capacidade). Se queremos ter poder internacional e capacidade de influência em Bruxelas devemos seguir a seguinte estratégia:
- Estratégia nacional acima de interesses corporativistas e sectoriais
- Definição do interesse nacional
- Estratégias de Lobbying concertado
- Formulação e implementação de uma politica externa que tenha em conta os interesses nacionais e permanentes de Portugal (Europa-África - América)
- Forte articulação entre Estado, Empresas, Sindicatos e forças vivas da sociedade civil de forma a reforçar a imagem de um pais coeso, forte e aberto ao Mundo com grandes consensos sobre as questões principais que entravam o nosso desenvolvimento: competitividade das empresas; educação e formação; reforma do Estado.
- Diversificação das relações internacionais de Portugal: os Pequenos países podem escolher os amigos mas não os vizinhos.
- Internacionalização da lingua portuguesa: a Lingua portuguesa deverá serdivulgada pelo sector privado e não apenas pelo Estado vejamos o caso dainternacionalização da lingua inglesa e espanhola: quantos institutos de linguas desses países existem espalhados pelo mundo? Em Portugal só falamosno defunto instituto camões.
- Organização definitiva do modelo de promoção das exportações e de captação de IDE.
Agora extinguiu-se a API antes criou-se a API............brinca-se com instrumentos diplomáticos como quem joga ás damas......... que reflexos têm estas decisões no exterior? O que irão pensar os potenciais investidores? Os jogadores e o relvado estão sempre a ser mudados..............

Em Espanha o ICEX não muda porque mudam ministros ou presidentes, pois, são instrumentos diplomáticos e a arma diplomática implica continuidade mesmo que haja mudanças politicas internas "My country right or wrong" disse Churchill.

Quando os Espanhois aderiram à União Europeia afirmaram: daqui a 10 ou 15 anos queremos estar no posicionamento internacional X......Portugal não................apesar de termos feitos grandes progressos......leiam o que diz António Barreto no seu livro "tempo de incerteza" que é uma análise" brilhante do ponto de vista sociológico da nossa história económica e social pós 25 de Abril.

O que falta infelizmente em Portugal é uma nova geração de politicos com visão estratégica e descomprometidos de traumas do passado, mas essa geração ainda não têm acesso aos centros de decisão.
Portugal evoluiu bastante no pós adesão e não se esqueçam que num sistema internacional globalizado um País pequeno tem sempre a ganhar estando dentro do sistema em vez de estar fora.
Estar fora implica isolamento internacional......vejamos a albânia.......o que é importante é defendermos os nossos interesses nacionais e ter pessoas capacitadas e qualificadas para essa missão.

Os Espanhois nisso são bons já que através das posições e lugares internacionais que têm acesso engrandecem a MARCA ESPANHA. podemos aprender com os nuestros hermanos.

Em pleno 2006 e vinte anos passados após adesão à UE entristece-me sermos vistos como os pobres da europa, atrás da República Checa, Eslovénia e Grécia, termos portugueses a serem explorados no mercado de trabalho em Espanha e na Holanda e a serem expulso dos Açores e porquê? porque começando pela máquina diplomática e consular não existe espirito de defesa do interesse dos nossos cidadãos. Ser português devia ser motivo de orgulho para esses cidadãos......numa europa alargada os Portugueses ainda são vistos como eram antes de 1974? ir a salto... e o conceito de cidadania europeia?

Os nuestros hermanos já estão na europa rica e EL TORO associado ao orgulho(vontade x capacidade) dá-lhes poder para serem tratados como gold members da União Europeia nós ainda parece que estamos longe disso.

terça-feira, outubro 03, 2006

Internacionalização e lingua portuguesa

Hoje em dia o tema da internacionalização está na ordem do dia. Governo e empresários todos defendem que o caminho para a sobrevivência da nossa economia passa pela internacionalização. Contudo, quando se fala em internacionalização existe um factor que tem sido menosprezado e que é o factor -lingua portuguesa.
Porque é que não valorizamos a nossa lingua nos processos de internacionalização?Como o fazem os americanos, os espanhóis, os britânicos e o franceses?

Espanha quando definiu por exemplo a sua estratégia de politica económica externa para o mercado brasileiro teve como suporte a diplomacia da lingua e da cultura castelhana como factor de afirmação cultural e económica no mercado. O que é que fez? enviou um conjunto de professores/leitores de lingua castelhana para o brasil e abriu localmente dezenas de institutos cervantes.

Os ingleses também têm o seu British Council que é um instrumento diplomático de divulgação da lingua e cultura inglesa e para além disso contam com a internacionalização da lingua inglesa via sector privado como é o caso de institutos de lingua como a International House e EF
ou outras marcas que actuam nesse campo e que já são verdadeiras insignias internacionais.

E em Portugal o que temos feito? temos o defunto Instituto Camões e meia-dúzia de leitorados que lutam com dificuldades orçamentais. Enquanto que também da parte do sector privado não temos grupos empresariais constituidos que actuem no ensino e divulgação da lingua e lingua portuguesa no plano internacional como existe no Reino Unido.

Nas recentes multinacionais portuguesas os programas de lingua portuguesa deveriam estar mais presentes e deviam ser ministrados aos quadros das filiais estrangeiras.

Nas bibliotecas estrangeiras deviamos encontrar mais livros de autores portugueses. As campanhas de promoção de Portugal no Mundo não deviam menosprezar a componente da lingua e especificidades culturais de portugal de forma a apresentarmos um produto diferenciado.

Os nossos escritores deviam estar associados aos processos de internacionalização. As empresas portuguesas ao internacionalizarem-se para determinados mercados localmente deveriam apoiar acções de comunicação e de divulgação da lingua e cultura portuguesa de modo a reforçar empresas com identidade portuguesa.

Sabemos que é um trabalho longo e continuo mas se analisarmos o sucesso de determinados países com capacidade de projecção internacional temos sempre associado uma estratégia global com variaveis: económicas, culturais, financeiras, financeiras e acima de tudo com assumpção de obtenção de prestigio e influência internacional.

Why diplomacy matters?

Portugal é uma velha nação europeia aberta ao mundo e a globalização. Ser uma Nação aberta ao Mundo significa elevada capacidade de relacionamento internacional e uma leitura atenta e permanente dos desenvolvimentos internacionais em várias áreas geográficas do globo.

Para que essa capacidade de relacionamento internacional seja posta em prática torna-se imperativo um novo modelo de diplomacia atentas as mutações dos sistemas politico e económico internacionais e aos mercados emergentes com potencial de investimento e de exportação para as empresas portuguesas.

A diplomacia deverá estar munida de um eficaz sistema de market research como suporte de forma a os decisores politicos e empresariais obterem informação em tempo útil quando têm que formular estratégias politicas e empresariais.
A chamada E-Diplomacy que já é praticada nos EUA e em outros países com interesses globais é uma ferramenta fundamental nesta era de informação.
As embaixadas e as delegações do ICEP no exterior deverão funcionar em network e estar munidas de Sistemas de Informação actualizados e com apropriados Data Base Management. A expressão utilizada no mundo empresarial " gathering information" deverá estar presente na diplomacia portuguesa de forma a serem recolhidas informações correctas na politica e economia internacional.
Para além disso, o planeamento estratégico deverá ter um papel relevante na detecção das nossas forças e fraquezas e das ameaças e oportunidades para as empresas portuguesas que operam no mercado internacional.
Sempre que fosse definido um mercado-alvo ou uma prioridade da nossa politica externa esses temas deveriam ser debatidos com os actores intervenientes nesse processo e com todos aqueles que têm interesses nesses mercados ou nessa prioridade de politica externa.
A Politica externa de um País tem sempre como objectivo a defesa do interesse nacional. A definição de interesse nacional hoje em dia tem componentes diferentes do passado. Contudo, a vertente diplomacia económica e a sua interacção com a politica doméstica cada vez são mais relevantes o que implica a articulação entre o Estado e outros agentes económicos.

Deslocalização para Espanha e os seus Opositores

A deslocalização das empresas internacionais para Espanha deve-se na minha perspectiva aos seguintes factores: Centralidade Ibérica e consolidação do mercado Ibérico que é um mercado único na perspectiva das multinacionais há bastantes anos. Principalmente das multinacionais norte-americanas. Forte relacionamento politico-diplomático EUA-Espanha que se aprofundoubastante com o Governo de Aznar e que já é uma continuidade e um eixo permanente da politica externa espanhola. Imagem de prestigio internacional de Espanha e o seu crescente papel como actor na cena económica e comercial internacional. Atractividade fiscal do mercado. Melhores custos operacionais em termos de logistica e de supply chain. Forte competitividade dos Portos Espanhóis: Barcelona e Valência emdetrimentos dos Portos Portugueses. Qualificação dos RH e internacionalização das universidades espanholas.Por exemplo no ranking dos MBA do The Economist o IESE já está no topo a competir com o mundo anglo-sáxonico. Para não falar em ESADE e Instituto de Empresa. As Universidades Espanholas e digo isto por conhecimento de causa todos os anos atraem milhares de estudantes qualificados do mundo latino-americano na área das pós-graduações. Se uma multinacional norte-americana com interesses na america latina quiser recrutar um quadro para mobilidade internacional ou para ser expatriado para esses mercados pode recrutá-lo em Espanha ou nos EUA (hispano-falantes).
Posicionamento internacional de cidades como Barcelona e Madrid que desenvolveram estratégias de marketing territorial com vista a atrair quadros internacionais e IDE. O que é que Lisboa e Porto por exemplo têm feito nesse sentido? O Mestre Kotler já falava deste novo marketing que nos lembra o velho modelo das cidades-Estados. Politicas públicas coerentes e transparentes. O modelo de comunidades autónomas em Espanha torna-se mais fácil para quem quer investir e obter incentivos. Forte articulação Estado/Banca e Associações de empresários quer na estratégia de promoção das exportações quer na atraacção de IDE. Diplomacia económica profissionalizada. A existência de um grande número de quadros espanhóis em posições de destaque em empresas internacionais que podem influenciar os mecanismos de decisão. Na internacionalização das economias e captação de IDE esse aspecto não deve ser descurado e Espanha sabe utilizar com habilidade.No caso português temos que saber "vender os nossos atributos positivos"numa perspectiva de longo prazo.O investidor olha para Portugal como um todo. E como sabem as nossas politicas públicas não são coerentes e numa perspectiva de longo prazo mas meramente de carácter imediatista e mediático.Como captar investimento para Portugal? quando o todo não funciona em harmonia? Poder Central, Autárquico, Institutos Públicos? a Johnson Controls fecha............a GM da Azambuja fecha........e o português fica sempre a espera que o D. Sebastião do Terreiro de Paço venha resolver-lhe esta questão? sempre o Estado omnipresente...... E os clusters nacionais com PME portuguesas onde estão? essas não apoiam porque não dão direito a capa de jornal e feira de vaidades.....toca a apoiá-las na sua internacionalização com programas realistas e exequiveis como se faz em Espanha

sexta-feira, setembro 29, 2006

FALTA CUMPRIR PORTUGAL

Fazendo eco e decalque do que é o sentimento de muitos de nós fresianos, deixamos o registo das palavras do mestre, as quais, em seu tempo, demonstraram a esta nação, outrora valente, que faltava cumprir Portugal. Acreditamos que ainda nos falta cumprir Portugal...

O Infante

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse,
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.


Fernando Pessoa em “A Mensagem”

quarta-feira, setembro 20, 2006

Uma fusão anunciada

Entre a API e o ICEP.
O Governo decidiu e anunciou a fusão entre estas duas instituições, ambas criadas, é verdade, com objectivos estratégicos similares, como sejam, em termos globais, a contribuição para o fortalecimento, crescimento e desenvolvimento do sector empresarial e da economia portuguesa. No entanto a cada uma é atribuída uma função diferente e uma missão distinta. Por isso discordamos desta fusão. Quanto a nós estamos perante uma decisão que resulta de um equívoco, pois ainda que existam objectivos genericamente confluentes, ambas as instituições estabelecem formas de actuação e trilham caminhos diferentes, pelo que, não vislumbramos qualquer vantagem nem complementaridade na sua fusão. Para melhor nos elucidarmos sobre a missão e o âmbito de actuação da API e do ICEP vejamos primeiro a API em http://www.investinportugal.pt/:

“A API – Agência Portuguesa para o Investimento tem como objecto a promoção activa de condições propícias e apoios, para a realização de grandes projectos de investimento, de origem nacional ou de origem estrangeira... assume o papel de interlocutor único para os promotores de investimento de dimensão elevada, sejam nacionais ou estrangeiros”.

Quanto ao ICEP podemos ver em http://www.icep.pt/ que o ICEP tem como missão “desenvolver e executar politicas de apoio à internacionalização da economia portuguesa, à promoção e divulgação das actividades económicas, nomeadamente na área do comércio de bens e serviços, da imagem de Portugal e das marcas portuguesas no exterior”.

Posto isto, é mais do que evidente as diferenças na missão de cada uma delas. Não estamos aqui a defender a sua extinção nem a menosprezar os seus objectivos, como defendem alguns economistas, por exemplo no caso da API, quando defendem que só os maus países que não são atraentes têm necessidade de captar o investimento do exterior, pois caso o fossem, não teriam essa necesssidade pois vendiam-se a si próprios. O que dizemos é que esta decisão corre ao contrário do que acontece noutros países.

Este modelo de fusão é o oposto do que está a ser adoptado pelas economias mais fortes, que revelam maior capacidade exportadora e elevado grau de atractividade de IDE como é o caso da Espanha.
Espanha tem o seu ICEP (ICEX) mas acaba de criar recentemente a INTERES (ver em http://www.interes.org/).

Segundo notícia recentemente publicada no reliable FDI magazine (Grupo FT) em Junho deste ano onde se entrevistava a responsável pela gestão de marketing e comunicação do INTERES “ o INTERES foi criado em Outubro de 2005 com um capital social de € 300.000. O accionista é o ICEX, Instituto do Comércio Externo Espanhol. De acordo com o relatório sobre o investimento mundial em 2005 da UNCTAD, Espanha é um dos países destino mais atractivos para o investimento estrangeiro e está classificado no 8º lugar entre os países que mais investimento captou no exterior… a criação de um organismo como este torna-se necessário e essencial tendo em vista publicitar as vantagens competitivas e a imagem de Espanha como país atractivo para o investimento estrangeiro”.
As funções de captação do investimento estrangeiro em Espanha, antes da responsabilidade da Direcção Geral para o Turismo e Investimento, departamento do Ministério da Industria, Comércio e Turismo, passam a partir de finais de 2005 para a esfera da responsabilidade do INTERES.

Mas há mais exemplos: A República Checa tem dois organismos:

- Czech Trade- Czech Invest

Hong Kong tem dois organismos:

- Invest HK- Hong Kong Trade and Development Council

A Suécia tem igualmente duas instituições distintas:

- Invest in Sweden (ISA)- Swedish Trade Council


Quando a tendência nos outros países é fazer a separação entre a instituição que promove o país no exterior e a que é responsável por captar o investimento estrangeiro, em Portugal caminha-se no sentido oposto e pretende fundir-se. Com que objectivos e vantagens? Para desburocratizar? Para racionalizar?
Julgamos que nem tudo deve ser pensado apenas na perspectiva da desburocratização, uma vez que, com seriedade política, eficiência na gestão, preserverança e realismo nos objectivos, a burocracia não incomodará assim tanto. Qual a relevância e o papel actual do IAPMEI? Porque não agilizar a interligação deste organismo com as associações empresariais e com as câmaras de comércio e indústria?

Sabemos por experiência profissional que a maioria das empresas portuguesas não estão presentes nos marketplaces de comércio internacional e que quase desconhecem as estratégias de e-business.O próprio site do ICEP é medíocre prestando notícias passadas. Relevante seria apresentar relatórios sectoriais sobre os clusters nacionais, divulgar oportunidades de negócio em tempo real, informação que seria de extrema utilidade para os empresários nacionais promoverem os seus produtos e serviços e ainda para os importadores estrangeiros conhecerem a oferta nacional desses produtos e serviços.
Do ICEP gostaríamos de ver ministradas acções de formação contínua sobre temáticas de comércio internacional como acontece em Espanha no homólogo ICEX. Em Portugal, contrariamente ao que encontramos na Irlanda com o Irish Exporters Association, não existe nenhuma associação privada para promoção do comércio além fronteiras, o que certamente representaria uma forma complementar de atender às necessidades do país em termos de promoção nos mercados internacionais e concorreria com as acções do ICEP reduzindo assim a responsabilidade e o excessivo papel do Estado na promoção do comércio externo.


Alfredo Motty e Mário de Jesus

segunda-feira, setembro 18, 2006

A China no caminho do turismo nacional

Tal como previmos e desejámos em recente discussão do FRES, eis a China no caminho do turismo português. Os dados apontam para que não nos tenhamos enganado.

Fazendo referência a um artigo de hoje do Jornal de Negócios, o qual se baseia num estudo efectuado pelo Espírito Santo Research, a China e a Irlanda deverão ser as apostas do país.
O sector do turismo representa 11% do PIB nacional (um dos sectores mais importantes da economia). Mas o seu crescimento é ainda insuficiente, estando atrás do registado pelos nossos parceiros (e concorrentes) espanhóis. Em 2004 Portugal encontrava-se na 20ª posição do ranking mundial de destinos turísticos, o que, segundo a World Tourism Organization, equivale a uma (pequena) quota de 1,5%. Havíamos caído 5 posições relativamente aos dados de 2002. No topo temos a França, Espanha e EUA. Entre 2004 e 2014 o turismo em Portugal deverá registar uma quota média de crescimento anual de 4,6%. Segundo o mesmo estudo Portugal deve apostar na captação de turistas provenientes da China e Irlanda. Porquê? Porque a relação histórica com a China (via Macau), o potencial de turistas que no futuro podem gastar mais, assim o exige. Com a Irlanda porque, ainda que apenas 2,5% dos turistas sejam Irlandeses, são os que permanecem, em média, mais noites. Segundo o Eurostat, os principais turistas em Portugal são os espanhóis, britânicos, alemães e holandeses. Apostas estratégicas do turismo nacional: congressos,, golfe, mar, turismo residencial e termas.

A China, já a 6ª maior economia do Mundo em 2004, à frente da Itália, prevê-se que venha a ser a 5ª maior após dados recolhidos de 2005 (à frente da França). As maiores: EUA, Alemanha, Inglaterra, França, China e Itália. Fantástico, para um país fechado ao Mundo há 1 década.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Jantar/Debate

Realizou-se ontem, dia 12, no Restaurante Kardápio em Lisboa, mais um jantar/debate organizado pelo FRES.
Em discussão estiveram temas como a preparação de Portugal para a sociedade do conhecimento, no âmbito da estratégia nacional para o desenvolvimento sustentável, com especial incidência na discussão do estado da educação em Portugal. Foram ainda abordados exemplos de sistemas educativos como o Alemão, Finlandês (Escandinavo) e Americano.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Rumo à China

A propósito da Cimeira Europa-Ásia realizada hoje em Helsínquia, Finlândia, assistimos ao aperto de mão entre o 1º Ministro Sócrates e o 1º Ministro Chinês.
O que se espera é que este não tenha sido apenas um acto mediático para a fotografia da posteridade mas sim um acto consciente e realista que manifeste a importância que a China pode ter para o futuro da economia e das empresas portuguesas.

Mais ainda é de louvar a intenção divulgada por Sócrates em preparar em breve uma visita com missão empresarial a este país. De facto a China é já e será no futuro um parceiro incontornável nas relações económicas e empresariais, para a Europa em geral e para Portugal em particular. Não esqueçamos a alavanca politica, cultural, económica e empresarial que representa Macau para nós (ou não fosse a presença portuguesa naquele país durante 500 anos). O caminho é este e está certo – rumo à China.Vendemos muito daquilo que a China compra – por exemplo serviços financeiros sofisticados – a China compra muito daquilo que vendemos – por exemplo Turismo. Aguardamos a continuidade.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Como promover Portugal

Portugal tem em curso um plano estratégico de promoção do país no estrangeiro, designado por “Programa Marca Portugal” gerido pelo Ministério de Economia e Inovação e operado pelo ICEP em colaboração com vários organismos públicos. Tendo em vista a necessidade do país em captar mais investimento estrangeiro, aumentar as exportações e atrair um maior número de turistas, tais metas só serão alcançadas se o país apresentar uma imagem positiva e de confiança no exterior, aliada a uma reputação de qualidade.

Este programa insere um conjunto de iniciativas desenvolvidas segundo 7 eixos de acção com objectivos específicos:

Eixo 1 – Padrão Portugal

Eixo 2 – Clube de Marcas Portuguesas

Eixo 3 – Difusão Portugal

Eixo 4 – Acções de Portugal Marca nos Mercados

Eixo 5 – Portugal Acolhe

Eixo 6 – “Prefiro Portugal”

Eixo 7 – Medir para Gerir

Tendo em vista o programa acima referido, Portugal deve aproveitar o marketing “Word of Mouth” como ferramenta para divulgar e promover o país no exterior. É opinião dos profissionais do sector, dos governantes e aceite por muitos portugueses, que o turismo é um dos vectores em que o país mais deve apostar, dada a qualidade de factores como a beleza natural, o clima, o mar, as praias, a gastronomia, a segurança, sem esquecer a riqueza histórica e a amabilidade intrínseca de um povo de brandos costumes. Os predicados estão cá todos. Como fácilmente percebemos, este conceito de marketing será especialmente eficaz ao nível dos eixos 5 e 6 deste programa.
Que melhor forma existe para divulgar o país que não seja pela própria palavra e através daqueles que todos os anos nos visitam? Portugal recebe todos os anos mais de 27 milhões de visitantes. Só de Espanha vêm mais de 20 milhões de visitantes - que de norte a sul do país conhecem a nossa história, cultura, lugares, sabores, tradições, gostos e simpatia. Veja-se a amplitude que pode tomar a promoção do nosso país através destas pessoas. Quem melhor do que eles para falar de nós, se puderem retornar ao seu país para contar os bons momentos e experiências aqui passadas? Mas para que isso aconteça têm que ser bem recebidos e tratados, servidos de forma ímpar e profissional, acompanhados nas suas necessidades, demonstrando-lhes interesse no seu bem estar, superando as suas expectativas ao nível da qualidade dos serviços prestados.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Portugal com tradição na pesca

Fiquei mais uma vez simultâneamente surpreendido e encantado pelas notícias que li sobre Portugal.

Temos a maior Zona Económica Exclusiva da UE no Atlântico, com uma área de 1.656.000 Km quadrados de mar sob a nossa jurisdição, a 4ª maior frota de pesca comunitária, que representa 11,2% do total da UE, temos o 3º lugar no nº de pescadores e empregados na industria transformadora de pescado, no contexto europeu, com cerca de 20 mil postos de trabalho. Por ano e ainda no contexto europeu, temos o 10º lugar em termos de produção, com 221 mil toneladas de peixe capturado.

Mais interessante ainda é que somos o 3º país do mundo a consumir peixe e o 1º na comunidade europeia. A Islândia é o líder com um consumo de 91 kilos/pessoa/ano, o Japão o segundo, com 65 Kilos/pessoa/ano e Portugal com 57 kilos/pessoa/ano.

No entanto como exportamos muito, das 221 mil toneladas capturadas, exportamos 117 mil, isto significa que temos que importar dois terços do que consumimos, i.e. cerca de 371 mil toneladas para satisfazer as 466 mil toneladas que consumimos.

Porém o sector tem vindo a sofrer, como muitos outros: os empregados neste sector já foram mais de 30 mil há 10 anos e só nos últimos 6 anos foram abatidas 264 embarcações (porque nos dizem que pescamos demais!). Por outro lado e apesar destes números apenas 3,6% do que produzimos (capturamos) é consumido pelos 25 de UE, muito pouco.

Outros problemas no sector são o excesso de corporativismo (mais uma vez), com demasiadas associações e organismos associativos, com os quais não é fácil (nem muitas vezes possível) falar, com muitos jogos de interesses à mistura, o que se vira contra os próprios pescadores.

Recomenda-se o combate ao excesso de corporativismo, com coragem política, com sabedoria empresarial, com esclarecimentos aos interessados (os pescadores) e com clarificação das suas vantagens e ganhos em combater esta burocracia e os lóbis instalados. O sector precisa e o país agradece. Este é um dos seus males. Vá Portugal fazer Lóbi em Bruxelas a lutar pelo sector em defesa do seu mar.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável

É um dos desígnios nacionais e a estratégia com a qual os governantes portugueses se comprometeram perante os parceiros europeus (estratégia de Lisboa em 2000) e que têm que cumprir. Deve ser do conhecimento de todos os portugueses sendo obrigação da sociedade civil proceder ao seu acompanhamento, análise, crítica e eventuais correcções através de sugestões.

Como tal deve ser do conhecimento de todos os fresianos. Daqui que seja importante o seu debate, até porque incorpora um dos temas do nosso actual debate e discussão: a educação e o conhecimento.

É obrigatória a visita ao site www.desenvolvimentosustentavel.pt

Aqui ficam resumidos os seus objectivos:

1. Preparar Portugal para a “Sociedade do Conhecimento”- acelerar o desenvolvimento científico e tecnológico e melhorar as qualificações e a valorização do capital humano.

2. Crescimento sustentado,competitividade à escala global e eficiência energética – assegurar o crescimento mais rápido da economia portuguesa.

3. Melhor ambiente e valorização do património natural – modelo de desenvolvimento que integre a protecção do ambiente e a conservação dos recursos naturais.

4. Mais equidade, igualdade de oportunidades e coesão social – assegurar a satisfação de necessidades básicas como a saúde, justiça, formação, educação, cultura e segurança social.

5. Melhor conectividade internacional do país e valorização equilibrada do território – melhor planeamento com efeitos directos no território de modo a reduzir a periferia geográfica do país no contexto europeu.

6. Um papel activo de Portugal na construção europeia e na cooperação internacional - afirmação de Portugal no Mundo através de uma estratégia de sustentabilidade global e do reforço das relações internacionais do país com algumas regiões mais determinantes para o nosso futuro.

7. Uma administração pública mais eficiente e modernizada – elemento fundamental para uma governação com sentido estratégico e o caminho para uma maior eficiência do estado.

O Governo e o país estão a solicitar a colaboração da sociedade civil a participar neste debate do desenvolvimento sustentável e a dar o seu contributo. A sociedade civil não pode demitir-se desta sua responsabilidade. Por isso ao FRES é pedido que colabore e participe. Para o efeito é obrigatório intervirmos neste debate através de recomendações a prestar no site indicado.

Está no entanto aberto o debate entre nós sobre este tema, se acharmos necessário, até ao final do mês de Agosto e até 15 de Setembro, data limite para as nossas recomendações.

Saudações Fresianas

quinta-feira, julho 27, 2006

Por um país capaz e audaz

Portugal é um país negativo. Negativo no crescimento. Negativo no comércio. Negativo na atitude colectiva. Negativo na governação. Negativo nas deseconomias externas. De tão negativo, que tem transformado forças em fraquezas, amarrado a desculpas, ideologias e direitos adquiridos.
Este país é hoje a negação da História, do seu contributo para a civilização moderna, da sua incomparável História multicultural e multiracial. É a negação da grande Nação que Afonso Henriques fundou, da afirmação do Santo Condestável, do pioneirismo do Infante D. Henrique, da visão estratégica de D. João II. O país negativo de hoje é o mesmo que Eça de Queiroz descrevia nas “Farpas” ou que Camilo Castelo Branco resumiu com “A queda de um anjo”. Um país cuja decadência económica e política se acentua a partir de 1820 e que nunca soube conjugar a suposta “democratização” e o suposto “constitucionalismo” com a sua tradução em crescimento e desenvolvimento económico.
Um país que não se constrói pelas elites, pois elas não se afirmam enquanto tais. Um país em que o povo inculto não assume uma atitude proactiva. Em que as pessoas preferem ser enganadas pela febres da Expo, do Europeu ou do Mundial de Futebol do que pensar diariamente que só podem ter futuro se se empenharem quotidianamente no presente.
Ora, para termos um país positivo, é preciso mudar tudo, ou pelo menos quase. A capacidade de fazer rupturas marca a evolução dos grandes povos. Mesmo que duras, são necessárias. E marcam a mudança colectiva. Mostram às pessoas que não há fora do prazo, que não há adiamentos, que é agora, pois o futuro - a Ásia - não espera por ninguém.
Exemplos simbólicos - ou talvez não? Fazer uma nova Constituição, elegendo para isso um parlamento extraordinário; eliminar todos os direitos e privilégios que discriminam os portugueses, consoante trabalhem para um dos muitos regimes da administração pública ou para uma empresa; mudar um hino anacrónico e uma bandeira folclórica; responsabilizar tudo e todos; dar espaço aos criadores, para que livremente formem novas elites; promover a excelência dispersa pelo país, em vez de importar megalomanias e especialistas, que grandes danos têm causado às finanças.
Este esforço também depende de todos nós. No recente discurso do dia de Portugal, o Presidente da República defendeu e bem, a co-responsabilização de todos os cidadãos com a construção do país. Com a educação que os pais promovem, com a saúde. Quase glosando Kennedy e a histórica frase “não perguntem o que o vosso país pode fazer por vocês, mas o que podem vocês fazer pelo vosso país”. E em boa hora, Cavaco Silva alerta desafia os portugueses, porque o país negativo também se alimenta de quem só se queixa, de quem não reclama quando deve, de quem fica indiferente no trabalho e na cidadania.
Mas para mobilizar o povo para um país positivo, é necessário ter estratégia, governação e elites. A primeira não pode passar por definir como estratégicos os sectores do betão e auto-estradas, nem pela Ota ou TGV. A governação faz-se com decisões diárias que, promovam a concorrência, a capacidade empresarial e a liberdade económica. E as elites aparecem na proporção inversa à da mão instrumentalizadora do Estado. Porque um Estado medíocre com dirigentes risíveis não quer elites: prefere múmias, vassalos, seguidores e bajuladores. Dirigentes do Estado incompetentes e danosos querem é ter interlocutores frágeis e na sua dependência, que digam “sim” e “ámen”, que esperem pelo cheque, e que mais tarde ou mais cedo não se esqueçam de quem subsidiou. Em resumo, as elites autónomas, vivas a criativas, só despertam quando confiam no país e não como desde há muito por cá sucede, têm medo de ser notadas, copiadas e abatidas pelos tais funcionários medíocres que servem superiores interesses políticos e económicos.
Este Estado negativo leva a que cérebros, criadores, empresários e inovadores, saiam de Portugal à procura de mercado ou simplesmente de espaço. Porque não acedem aos privilégios de derrogações ministeriais reservadas à elite de serviço, não fazem parte de grupos que vivem à custa dos favores políticos, não se resumem à mediocridade de empregar os “servidores públicos”, antes ou depois, consoante seja conveniente.
É este Estado negativo que tem que ser erradicado. Alguém pensa que seria possível Aljubarrota, a conquista de Ceuta, a descoberta do caminho marítimo para a Índia, o achamento e colonização desse colosso que é o Brasil, caso não tivéssemos uma estratégia, uma governação e elites, coesas e competentes, não unidas pela baixa política e pela mediocridade dos golpes baixos e do tráfico orçamental, mas pelo compromisso, pelo risco, pela aventura, pela parceria público-privada?
Na magnífica odisseia dos Descobrimentos, convém lembrar que Portugal inventou a economia-mundo ao ligar sem intermediários Europa, Ásia, África e América. Não foi o Estado que criou essa economia-mundo! É que a descoberta era feita por concessão pelo Estado do direito de exploração a privados das terras que descobrissem. Concessão por décadas e onde os privados punham o dinheiro e o risco, enquanto o Estado ganhava expansão, impostos. Era assim que na altura – não como hoje – se faziam as parcerias público-privadas: dando o Estado espaço e transferindo risco para os privados. Num País de edifícios sem utilização, de SCUTs sem risco para o promotor, da inimputabilidade e de irresponsabilidade dos “boys”, pode isto existir?
Para termos um país positivo, um dirigente público que minta, que seja incompetente, que não sirva o país tem que ser exemplarmente demitido. Mesmo que seja amigo de alguém, temos que distinguir amizades de competências. E não apenas exigir atitude a todos os cidadãos, mas dar o exemplo. O que significa não permitir que, em nome de instituições públicas, se cometam absurdos e abusos por quem as comanda. Só porque se é amigo de alguém que os tutela. Só eliminando-os do Estado, deixaremos espaço para que outros, capazes e audazes, permitam aos portugueses construírem um país positivo.



Joaquim Rocha da Cunha

quarta-feira, julho 26, 2006

Nada é Simplex nas empresas públicas e privadas - por Jorge Castro

"Lamentavelmente, estou em crer que para este «mal» não há, em Portugal, empresas públicas ou privadas.Trata-se de uma questão cultural, se quisermos, que define uma atitude.Numa empresa pública, como numa privada, atribui-se um computador topo de gama a um director, por exemplo, não porque seja necessário ou, sequer, porque esse director domine as técnicas, mas sim porque é um director, logo, «merece» mais do que os seus subordinados.É esta «lógica» que subverte as relações laborais, nas perspectivas de competências e de eficácias, torcendo-as para o espúrio lado do status... que não levam as empresas a lado nenhum que não seja o da falência.A diferença, aqui, entre público e privado, é apenas esta: no privado, a fonte seca e a empresa fecha, depois de atribuídos os Ferraris aos respectivos donos; nas empresas públicas, a fonte não seca, não se atribuem Ferraris, mas os Mercedes e os Jaguares e os BMW têm a sua quota de venda permanentemente assegurada.E, assim, Portugal terá a melhor frota automóvel da Europa em circulação nas piores estradas da Europa.Como se vê, nem tudo é mau!Concluindo raciocínios, já de si intermináveis:- As estradas serão, em média, as piores da Europa, mas a gasolina é das mais caras... e as portagens, também... e a electricidade, também... e o gás também... e a água também... e a saúde também... e a internet também... e valerá a pena continuar?...Apenas porque uma escassa minoria de umas centenas de milhar (que parecem muitos, mas não são!) se permite estabelecer padrões de vida, sem rei nem roque, dos quais são os únicos beneficiários, numa lógica autista que determina, afinal, as vivências de muitos milhões.Não é assim? Bem, por estas razões, a que se aliam convenientes e cúmplices fechar-de-olhos a elementares regras de concorrência e, até, de legalidade democrática, é que um IKEA - privadíssimo - quando aparece em Portugal apresenta os preços mais elevados de toda a sua cadeia europeia, num país com a média de salários (per capita) mais baixa da Europa.Estratégia estúpida? Claro que não. Em Roma, sê romano. À falta de controlo generalizado, é um fartar vilanagem. E a malta lá vai pagando.Nos intervalos, vai quase tudo aos jogos de futebol e compra os jornais «desportivos» para se manter informado acerca da arte de se tornar num imbecil sem dor, mas com muita anestesia.

Este Texto é da autoria de Jorge Castro e foi publicado por Paulo Moura no Blog Persuacção em:


http://persuaccao.blogspot.com/2006/05/nada-simplex-nas-empresas-pblicas-e.html

segunda-feira, julho 10, 2006

O Pessimismo Português

Segundo o último Eurobarómetro realizado entre Março e Abril últimos, os portugueses sentem-se muito pouco realizados com a vida que levam e a larga maioria não acredita que a sua situação financeira vai melhorar nos próximos 12 meses.
Segundo este estudo, 44% dos portugueses está insatisfeito com a vida que leva. Só os húngaros estão mais insatisfeitos, com 46%. Já os nórdicos vivem a felicidade plena, a acreditar nas sondagens que revelam: 97% dos dinamarqueses e 94% dos finlandeses, estão satisfeitos e avaliam positivamente a vida que levam. Também 94% dos suecos, 92% dos luxemburgueses e belgas e 90% dos irlandeses, avaliam também positivamente a vida. Como tal é possível? Não têm o nosso sol! Nem o nosso clima, as nossas praias, a nossa gastronomia ou o nosso mar! Têm nevoeiro, humidade, chuva e frio. O suficiente para nos deixar a todos, portugueses, deprimidos. Mas eles não. Se nos compararmos com os espanhóis, esses sim, nossos verdadeiros e mais directos competidores, 88% dos espanholitos estão satisfeitos e optimistas com a vida.Já percebemos que o problema aqui não é apenas de contexto climático, geográfico ou gastronómico. É de carácter económico e psico-sociológico. Aumentemos o ordenado em 20% a todos os portugueses! E o pessimismo? Desaparecerá? Nós gostamos de viver com o fado e para o fado, de falar do nosso destino e de chorar nos funerais dos vizinhos. Falta-nos a atitude positiva, o optimismo, a energia positiva, a vontade de ser vencedor e de acreditar nas nossas forças, combatendo as fraquezas. Deve o país (as famílias e os outros grupos sociais) combater este negativismo. Acreditar que é possível, contribuir para crescer melhor, aprender melhor, ser melhor, conhecer e saber mais e melhor. Isto devemo-lo, todos, aos nossos filhos. Ensinar-lhes de pequenos a serem positivos, enérgicos, optimistas. Ensinar-lhes a combater, enfim, as estatísticas negativas. Ensinar-lhes a serem bons estudantes porque um dia valerá a pena. Fazer-lhes acreditar em Portugal e nas cores da nossa bandeira. Sim, como no futebol. Como iremos crescer mais e melhor, ser mais competitivos, mais profissionais, mais enérgicos e dedicados, se nos falta a atitude? A motivação? Se não acreditamos em nós mesmos? É verdadeiramente impressionante analisar que apenas 0,3% dos dinamarqueses, 0,5% dos holandeses, 0,6% dos suecos e dos finlandeses ou 0,8% dos belgas estão insatisfeitos com a vida que levam nos seus países. Nós, portugueses, sem termos feito absolutamente nada para com eles competir, partimos logo desde o início, com uma distância abismal desfavorável… em motivação e certamente em atitude.

sexta-feira, julho 07, 2006

5º Encontro FRES

Estimados FRESianos e caros visitantes

Informamos que se realiza hoje às 19 horas no Hotel Embaixador, 10º andar, em Lisboa, o 5º encontro geral do FRES. De entre outros assuntos da agenda, serão discutidos e votados os Estatutos do Fórum.

Saudações FRESianas

quarta-feira, junho 28, 2006

General Motors

Mais uma vez o problema da fuga do capital e do investimento estrangeiro. A distância do país face ao centro da europa e a relativa marginalidade geográfica, leva a maiores custos de produção em virtude do transporte de peças e acessórios (e ausência de fornecedores locais). Má gestão, dizem uns, falta de pensamento estratégico, dizem outros, uma vez que a GM se esqueceu da importância da criação de um cluster como se verificou no caso da Auto Europa. Cerca de 90% dos fornecedores da GM em Portugal estão em Espanha e na Alemanha. O objectivo é concentrar a produção no centro da europa, com custos inferiores. Como combater este cenário? Com melhor serviço, boa gestão, mais rapidez, mais profissionalismo, maior competência e maior ritmo de produção. São também necessários incentivos governamentais é certo. Porém, sendo tudo isto verdade, a maior parte destes pressupostos já se verificavam. O problema é mais complexo. De facto é necessário muito mais do que isto. E o que falta teria em parte que partir do investidor porque ao criar um cluster, uma boa parte destes custos seriam abatidos. E isto teria que ter sido observado há muitos anos, aquando do investimento inicial. Neste caso Porugal esteve (e está bem) porque luta pela manutenção deste investimento. Aqui a má gestão veio de fora.

terça-feira, junho 27, 2006

Os nossos Estatutos

Caros Visitantes

O FRES informa que está em preparação e discussão o Projecto de Estatutos do Fórum, pelo que, dentro em breve, poderão proceder à consulta dos mesmos neste mesmo Blog.

Saudações Fresianas

domingo, junho 11, 2006

ENERGIA: FONTES ALTERNATIVAS

A propósito do recente debate sobre as fontes de energia alternativas e renováveis, ocorrido no seio do FRES, junto alguns exemplos e características de energias alternativas que, a serem utilizadas de forma complementar, reduzirão a forte dependência que Portugal tem do petróleo.

Eólica – temos serras e costas marítimas que reúnem condições para tornar economicamente viáveis investimentos neste tipo de energia. O potencial de crescimento é significativo dado que, dos 2.900 MW de potência atribuída para exploração, apenas estão a funcionar 350 MW, quando o objectivo para 2010 é ter 3.750 MW de potência instalada. A causa desta atraso tem sido, segundo a Associação Portuguesa de Energias Renováveis ( APREN), a burocracia ao nível do licenciamento dos parques eólicos, o qual demora de três a sete anos ( em Espanha vai de dois a três anos).

Ondas – segundo especialistas nacionais, o país tem nesta fonte de energia não poluente, um potencial que permitiria satisfazer 25% das actuais necessidades domésticas. Os 500 km de costa continental permitem instalar, segundo aqueles, uma potência entre os 6 gigawatts (GW) e os 9 GW, com custos que poderiam ser suportados gradualmente a médio/longo prazo. Aliás, a primeira central eléctrica a nível mundial de dimensão industrial ( 400 KW) que explora este tipo de energia foi construída em 1993 na ilha do Pico –Açores.

Solar – é uma fonte energética disponível dadas as características climatéricas do país, que se tem tornado cada vez mais acessível dados os avanços tecnológicos na sua obtenção. É contudo ainda cara, devido ao preços dos painéis solares face ao rendimento estimado da sua produção, devendo a sua utilização ser vista como complemento a outras fontes energéticas.

Biomassa – tratando-se de um combustível proveniente dos resíduos florestais, pois é composto por subprodutos como o desperdício da madeira ou o metano dos estrumes, a sua utilização poderá contribuir para a limpeza da floresta e reduzir a intensidade de incêndios que assolam anualmente o país.

Biocombustíveis – podendo ser aplicável ao nível agrícola e industrial, o biodiesel provém de um composto de óleos alimentares que pode ser utilizado em motores a diesel, sendo produzido através de plantas ricas em óleo e de baixo preço, como a colza, palmeira e soja. Esta seria uma forma de rentabilizar a utilização dos terrenos agrícolas disponíveis. O Governo tem como meta conseguir que 10% do consumo de combustíveis pelos transportes públicos, seja deste tipo de energia, pretendendo ainda estimular a produção nacional quer agrícola quer industrial.

Nuclear – polémica quanto baste, os defensores desta fonte energética apresentam-na como uma fonte de energia barata e pouco poluente pois não recorre à combustão fóssil e por isso tem baixas emissões de dióxido de carbono, com grande potencial de produção em larga escala. A sua utilização permitirá, segundo aqueles, a redução do maior problema ambiental do planeta: o aquecimento global causado pelas emissões crescentes de dióxido de carbono. Alguns especialistas defendem no entanto que esta não é solução para o actual problema energético nacional uma vez que serve apenas para a produção de electricidade e não para a produção de calor ( na industria) nem para a utilização nos transportes, pelo menos nos anos mais próximos.
Em conclusão, nenhuma das fontes energéticas renováveis irá suprir, por si só, as necessidades totais do país. O que importa é prosseguir uma estratégia de integração daquelas, de forma complementar e optimizada, na rede eléctrica nacional.